THE CHELLY OF US

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Parte 01
O tão prestigiado caminhão 'Charles' tombou. Chamado assim por ser o responsável em transportar inúmeras substâncias químicas da empresa Charles LTDA, uma produtora de detergentes, sabão, desinfetantes e o que mais essa indústria pudesse produzir. Tomou a estrada 04 como de costume e ao passar pela pequena e estreita ponte que marcava o início da cidade, ele tombou. Toda a carga química caiu no rio principal, misturando-se à água, trazendo uma sensação mortal. Chelly era quase uma ribeirinha, visto que morava bem próximo ao rio e como de costume, seu cachorro desceu ao rio perto das 18h. O rio, no entanto, àquela hora já havia matado toda a população de animais que viviam dentro dele. Os peixes, porém, estavam à beira da água, tentando sair, se arrastando sobre a areia, exibindo seus horríveis olhos esbugalhados que quase saltavam das órbitas, com uma nojenta gosma escura saindo de sua boca. Seu pinscher se aproximou curioso e começou a farejar os peixes descuidadamente, sendo mordido por um deles.

Parte 02
-- Splinter? Cadê meu neguinho? Splinter?

Chelly o viu deitado no tapete da sala. Havia perdido muito sangue por causa da mordida, porém, levantando-se com dificuldade, franziu a testa, arregalou os olhos e colocou-se em posição de ataque, começando a latir. Seu latido estava diferente, babava uma gosma escura e repugnante entre seus pequenos dentes afiados. Os olhos esbranquiçados anunciavam seu ódio.

-- Pablo, corre aqui!

Pablo estava com Chelly aquele dia e viu quando o cachorro estava completamente transtornado.

-- Toma cuidado, eu nunca vi ele desse jeito.

Pablo foi até a cozinha e pegou as luvas (de forno) e alguns panos de prato. Jogou os panos sobre o cachorro e tentou segurá-lo.

-- Acho que isso deve ser alguma espécie de raiva, ou sei lá. Melhor levar ele no veterinário logo.

Parte 03
Pablo descuidou-se por um segundo e o pinscher pulou de suas mãos. Mordendo, fez com que seus pequenos e pontiagudos dentes rasgassem e logo em seguida triturassem a pele de Pablo, arrancando seu dedão.

-- Ah! Filho da puta!

Pablo caiu, mas Splinter não parou. Sua fome não cessava, continuou arrancando seus dedos e quando não quis mais os dos pés, começou a devorar os dedos das mãos. Dentre os gritos e caretas de Pablo, Chelly correu pela sala e antes que chegasse na cozinha, escorregou no grande volume de sangue que saía das falanges de Pablo. Splinter não perdeu tempo e pulou no rosto de Chelly, porém, ela teve um bom 'reflexo'. Segurou o animal pelo pescoço e puxou sua cabeça até que ela se desconectasse de seu corpo. Jogou o cachorro para o lado e correu até a cozinha. Seus músculos estavam rígidos e ela mal podia pensar com clareza, afinal, havia acabado de matar seu cachorro de uma forma incrivelmente cruel. Pegou mais panos e voltou para a sala em uma tentativa inútil de parar o sangramento de Pablo e impedir que ele morresse.

-- Calma Pablo, eu já tô...

Parte 04
A segunda pior cena de sua vida aconteceu. Viu Pablo triturando a cabeça de Splinter e 'bebendo' as suas vísceras. Olhos esbranquiçados e aquela nojenta gosma escura que permeava sua boca, esse era Pablo agora. Ele a atacou, porém Chelly foi esperta o suficiente para correr até seu quarto e antes que entrasse, saiu da frente e colocou o pé na frente, fazendo com que ele tropeçasse e caísse estatelado no chão, apenas para levantar-se logo em seguida, furioso. Chelly, no entanto, trancou a porta e ligou para Hellen, que chegou rapidamente.

-- Então depois do cachorro comer ele, ele comeu o cachorro?

-- Lá ele - respondeu Chelly - mas sim, foi exatamente assim.

O nervosismo de Chelly havia se escondido, na verdade ele estava apenas suprimido, porque era uma grande tragédia perder um amigo e o querido animal de estimação. Dois dias então se passaram e o governo federal criou um cerco naquela cidade.

Parte 05
Todas as possíveis e oficiais entradas e saídas estavam sendo supervisionadas, vigiadas. Chelly deixou sua casa e foi passar um tempo com Hellen, até porque a sala de estar, seu quarto, todos os lugares que tiveram contato com o sangue e a gosma, apodreceram. Tudo ficou danificado, derreteu. O odor presente naquela casa era a mais completa e absoluta podridão. Mais um dia se passou e este foi definitivo. As autoridades (forças armadas) entraram na cidade, executaram e recolheram todos os infectados. Naquele mesmo dia, quando já se preparavam para dormir, Chelly e Hellen viram uma notícia de última hora.

"Um jovem chamado 'Lucas Lisboa' invadiu a empresa Charles, produtora de produtos químicos e roubou um caminhão de transporte de substâncias químicas. Acredita-se que o tombo tenha sido proposital."

Parte 06
Chelly abriu os olhos subitamente. A claridade do sol já invadia seu quarto por entre as cortinas. Splinter estava deitado no tapete do quarto, ao lado de sua cama. Olhava atentamente para ela, os olhos negros, o fucinho molhado e dois dentes salientes para fora da boca. Chelly virou o corpo e pegou o celular na cômoda. Eram 8h da manhã de um domingo, felizmente não teria que trabalhar. No entanto, ainda estava assustada e decidiu ligar para Isadora.

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