CAPÍTULO 10

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Capítulo 10

Apolo Arcângelo

A polícia foi acionada assim que meus irmãos e eu chegamos na agência Dream That Comes. Rocco não perdeu tempo, especialmente na parte em que me deu um esporro por causa do que eu fiz.
Depois de uma hora, aproximadamente, dois policiais chegaram. Eles pareciam ter entre quarenta e cinco e cinquenta anos. Um deles tinha pele clara e deveria ter 1,70 de altura, além de ter uma barriguinha bem saliente, típica da postura curvada de policiais que passavam muito tempo sentados atrás de uma mesa. O outro tinha a pele morena, 1,90 de altura, pois era do meu tamanho, e parecia muito bem fisicamente, provavelmente um policial preocupado com sua ergonomia. Ambos possuíam distintivo ouro, então deveriam ter o posto de sargento ou acima.
Eles pediram que eu relatasse o que vi e eu parei minha avaliação para respondê-los. Então contei tudo o que tinha acontecido, deixando de fora a parte em que coloquei Rick para dormir, é claro. Rocco também não abriu o bico sobre a minha travessura, graças a Deus.
Os policiais, que agora eu sabia que eram sargento Williams e sargento Davies respectivamente, pediram que eu os acompanhasse até a delegacia, com a desculpa de que precisavam de um depoimento formal. Meus irmãos e Rocco me acompanharam, pois estavam com medo da polícia me colocar como suspeito e não como testemunha.
A noite tinha sido longa e logo amanheceria, todos nós estávamos exaustos. No meu caso, a minha mente estava mais do que meu corpo.
E foi quando estávamos no Departamento de Polícia De Miami, que a mãe da Cassiopeia começou a ligar para Rocco. Ele pensou em não atender, pois não tínhamos nada de bom para dizer a ela e queríamos ter, pelo menos, alguma pista de Cassiopeia antes de deixá-la a par da situação. Mas eu sabia que isso poderia nunca acontecer.
— É a mãe da vítima de sequestro — explicou Rocco ao policial mais baixo, que já estava nervoso com o toque insistente do seu celular.
— Deveria atender — eu disse, por fim. — É injusto deixá-la de fora, mesmo que as notícias sejam péssimas.
Ele atendeu e eu pude ouvir o desespero dela porque a filha ainda não tinha voltado para casa. Saímos do Departamento de Polícia e seguimos para a minha casa e de lá, direto para o endereço que ela passou para Rocco. Ela disse que estava na casa da filha e eu não parei mais de pensar que conheceria a casa da Cassy.
Tenho plena consciência de que a minha atitude colocou Cassiopeia em perigo. Se eu não tivesse sido tão egoísta, se eu tivesse simplesmente ignorado o meu orgulho idiota, ela não estaria em perigo.
— Precisa dormir, Apolo — Hermes afugentou meus pensamentos e eu respirei com dificuldade.
Sentia-me sufocar com as imagens terríveis que povoavam meus pensamentos constantemente, desde que vi aqueles demônios levarem Cassiopeia. Era uma repetição do meu tormento do passado, talvez um castigo, e dormir não era uma opção para mim, sem falar que, eu não conseguiria.
Eu sabia muito sobre os sequestros relacionados a Dream That Comes. Desde que entrei na agência, fiz meu mestrado e doutorado com relação a situação. Era algo que eu precisava fazer, uma forma de, quem sabe, descobrir alguma coisa que pudesse me ajudar a encontrar Perséfone.
Parecia ridículo, afinal, quais seriam as chances depois de treze anos?
“Era inútil ter esperança”, muitos me disseram. Mas eu não desistiria, assim como não desistiria de ajudar Cassiopeia.
A polícia de Miami estava cuidando do caso, mas eu não podia confiar totalmente no trabalho deles, e tenho um motivo bastante pertinente sobre isso.
Eu contei aos policiais que vi o carro que levou Cassiopeia entrar em um portão ao lado da boate Angels Of Night. Nem mesmo ao Rocco eu confiei esta informação, mas acreditei mais uma vez que as autoridades fariam o seu trabalho, já que se tratava de algo sério.
Sabe o que eles me disseram?
“ Você deve ter se enganado. Estava escuro e você sentiu um nível alto de estresse, o que pode causar confusão, até mesmo alucinações. Sabemos quem é dono da boate e ele é um bilionário importante em Miami, então é melhor esquecer o que viu, ou vai arrumar problemas para você e sua família.”
“ Só isso? Vocês nem mesmo tentarão verificar a minha informação?” perguntei, revoltado.
“ Claro que o faremos, mas de maneira discreta, pois não queremos  problemas.”
Há anos faço pesquisas e investigações pessoais, e ficou claro para mim que os bandidos existem em todos os departamentos, na polícia, nas igrejas, nas escolas, nos governos, podem ser nossos vizinhos, podem até mesmo dividir o mesmo teto conosco.
Sempre que eu pensava sobre isso, me lembrava da minha mãe lendo um versículo da bíblia, que de alguma forma estranha, parecia fazer ela entender o que tinha acontecido com Perséfone.
O versículo dizia “O mundo jaz no maligno”.
E ela sempre falava para meus irmãos e eu “ O mundo está na merda, crianças, mas nós não precisamos afundar nela como muitos fazem. É claro que iremos nos sujar, isso é inevitável pois estamos em um mundo que está na merda, mas se conseguirmos chegar no fim da vida apenas encardidos e não deixarmos a sujeira nos contaminar, então já valeu a pena.”
Ela tinha sua maneira particular de nos explicar o que tinha entendido. E talvez fosse muita paranóia dela enxergar as coisas nessa perspectiva, loucura até, pensar que seria possível fazer algo diferente, mas meus irmãos e eu estávamos nessa e iríamos até o fim.

Me apaixonei por um GP - Garoto de Programa Onde histórias criam vida. Descubra agora