02.13 | Need to go

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ADRIEN

Saí da casa de Marientte e fiquei um tempo ali, parado, encarando a madeira da porta.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. E nem sei o que eu estava pensando quando fui até lá. O que é que eu queria, afinal de contas? Deixá-la nervosa? Eu sabia da sua situação e devia dar um tempo para que ela pudesse ver que poderia confiar. E ao invés disso fui até lá e talvez a tenha deixado mal.

Bufei.

Enfiei minhas mãos nos bolsos da calça jeans e saí, olhando para meus próprios pés, em uma tentativa de organizar meus pensamentos.

─ Conseguiu falar com ela? ─ Sabine perguntou, quando passei por ela na padaria.

─ Consegui, sim. Obrigado ─ Forcei um sorriso e a vi sorrir.

Não era uma total mentira. Eu tinha falado com ela. Só não tinha tido a resposta que eu esperava.

Acho que lá no fundo eu sabia que aquilo aconteceria. Eu só queria muito que tudo tivesse dado certo. Queria que ela me dissesse o que sentia.

Mas de certa forma, foi meio egoísta da minha parte ir até lá agora, mesmo já sabendo dos problemas pelos quais ela está passando.

Andei o caminho todo até a casa de Alya e Nino olhando para o chão, chutando para longe as pedras pequenas que apareciam na minha frente.

Qualquer um que me olhasse caminhando na rua daquela forma, imaginaria um homem infeliz e solitário. E isso, de alguma forma, fez com que eu visse certa semelhança entre meu pai e eu. O que não soa muito bem aos ouvidos de absolutamente nenhum ser humano.

Assim que passei pela porta do apartamento, Alya se mexeu no sofá, virando-se na minha direção.

─ Aonde você estava? ─ Perguntou, parecendo bastante curiosa e interessada em saber o motivo daquela minha cara, que apesar de não poder ver no momento, sabia exatamente como era.

E toda essa curiosidade é a cara da Alya.

─ Em nenhum lugar importante.

─ E por que está com essa cara?

─ Talvez porque essa seja a única que eu tenho.

─ Vai me responder, ou não?

─ Não.

Joguei minha chave em cima da mesa e passei por ela. Estava sentada no sofá e Nino deitado com a cabeça apoiada em suas pernas, dormindo.

Passei reto por eles e entrei no quarto, logo após ouvir Alya praticamente gritar:

─ Depois quero saber tudo o que aconteceu!

Simplesmente ignorei a fala dela.

Eu não queria conversar sobre aquele assunto. Nem com Nino. E muito menos com Alya.

Me joguei na cama e fiquei olhando para o teto.

Talvez eu acorde em algum momento e descobra que toda essa loucura foi um sonho desde o início. Talvez assim as coisas fossem mais fáceis e isso seria muito bom.

Mas todos sabemos que as coisas nunca são fáceis. E acho que é isso que torna a vida tão emocionante.

Mas em certos momentos, tudo de que precisamos é que determinadas coisas sejam fáceis.

Ouvi o som do meu celular tocar e me mexi na cama, tirando o aparelho do bolso da calça.

Número desconhecido.

Atendi a ligação, mesmo sem saber quem era.

─ Oi?

─ Adrien Agreste?

─ Sou eu. Quem fala?

─ Josh Mills.

─ Ah, Josh. Oi.

─ Oi. Olha, estão te chamando para uma nova produção aqui nos Estados Unidos.

─ Tá certo... E quanto tempo eu teria que ficar aí?

─ Então, sobre isso... Querem que você assine um contrato de dez anos. Você teria que ficar por aqui durante esse período de tempo. E aí, o que eu devo responder?

─ Eu... Tenho que pensar um pouco, Josh.

─ Certo. Mas tenta não demorar. E pense que é uma ótima produtora. É a chance da sua vida.

Desliguei a ligação.

Mas é claro que eu teria mais alguma coisa com a qual me preocupar.

Eu não estava dando muita bola para a importância daquela oportunidade. Eu só não queria ter que deixar Paris e a pessoa que amo para trás, como fiz anos atrás. Mas, por outro lado, eu não tinha motivo algum para continuar em Paris.

Ficar, e saber que se eu nunca tivesse ido embora, se eu não tivesse tido medo no passado, talvez as coisas tivessem sido diferentes... Isso faria com que eu me sentisse pior a cada dia que se passava. Eu não sabia se conseguiria viver bem, sabendo que mesmo com os dias se passando, as coisas ainda não seriam como eu gostaria que fossem.

Não sei se eu conseguiria passar o resto da minha vida em Paris, sabendo que ela estaria aqui também. E que não estaríamos juntos.

E o maior dos problemas é que eu também não queria correr o risco de cometer o mesmo erro que comiti há anos. O erro de ter medo e ir embora. Como se sair do país, fosse resolver meus problemas.

Mas eu tinha que tomar uma decisão.

E mesmo sabendo que ir embora dessa maneira não seria certo, eu ainda estava com medo. E era isso que estava me dividindo.

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