Prólogo

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O silêncio da madrugada era tão profundo que poderia cortar o ar. Naquela cidadezinha esquecida no mapa, as noites sempre foram tranquilas, quase mortas. Mas algo mudou nos últimos meses. O ar estava mais pesado, como se todos soubessem, mesmo que inconscientemente, que algo sinistro espreitava por entre as sombras.

Eu nunca fui o tipo de cara que se deixa afetar por esse tipo de coisa. Boatos e superstições são como tempero para o meu prato principal: mentiras bem contadas. Mas há uma tensão no ar que eu não consigo ignorar. Talvez seja a insônia, corroendo meus nervos como ácido, ou talvez seja porque, desta vez, as histórias que rondam a cidade tenham um fundo de verdade.

As notícias sobre os assassinatos começaram como sussurros — um corpo aqui, outro ali. Ninguém queria acreditar que havia um padrão, que havia algo ou alguém por trás disso. Mas então a marca apareceu: uma letra "A" desenhada com sangue nas paredes dos locais do crime. Não era grande coisa a princípio, só uma letra, mas foi o suficiente para fazer a cidade entrar em pânico. Eu não estava muito preocupado. Afinal, eu era apenas Jack Carter, o cara que mente sobre quase tudo. A verdade raramente me interessava, e eu certamente não estava interessado em descobrir mais sobre esses assassinatos.

Mas aí o detetive Marcus Turner apareceu. Com seus olhos de águia e jeito sério, ele sempre foi uma pedra no sapato de qualquer um que tivesse algo a esconder. O tipo de cara que cheira mentiras a quilômetros de distância, mas que também sabe que precisa de alguém que possa se infiltrar onde ele não pode. Foi isso que me trouxe até aqui, ou melhor, foi isso que me prendeu nessa armadilha que eu não vi chegando.

Turner pediu minha ajuda. Eu não sabia exatamente por quê, mas ele parecia acreditar que minha habilidade de inventar histórias poderia ser útil. Talvez ele quisesse usar minhas mentiras para desmascarar a verdade. Talvez fosse algo mais. De qualquer forma, eu aceitei. Era uma chance de me divertir, ganhar algum dinheiro e, quem sabe, sair da rotina sufocante da minha própria vida.

Agora, olhando para trás, não consigo parar de pensar que deveria ter recusado. Eu deveria ter ficado no meu bar, contando histórias inofensivas para bêbados crédulos. Mas em vez disso, me meti no meio de algo grande demais para eu controlar. E agora, com a cidade apavorada e as paredes manchadas de sangue, só consigo pensar em uma coisa: qual o limite da mentira?

E até onde uma mentira pode ir antes de virar verdade?

JACK CARTEROnde histórias criam vida. Descubra agora