IV - Comparado ao espetáculo de uma contorcionista do Cirque du Soleil.

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Do outro lado do mundo, na cidade das acácias rubras, como não podia ser diferente também haviam se passado cinco anos, e nesses cinco anos muita coisa mudou, Jéssica já não dava crises, sua última fora exatamente a cinco anos, e tudo graças á uma gama dos famosos estabilizadores de humor ou anti psicóticos e alguns antidepressivos, Jess seguira á risca a dieta medicamentosa e por não esquecer uma única vez de tomar os seus comprimidos com nomes estranhos (risperidona por exemplo), havia momentos em sua vida que ela esquecia-se completamente que fazia parte do seleto 1% da população mundial que sofre com o transtorno bipolar e sentia-se normal, tão normal como o resto dos 99% da população mundial.

Nota: muitos dos leitores fazem parte desse seleto 1%, embora estejam alheios a este facto, e sendo o autor também um leitor, não está escusado.

Dário, sentiu que estava na hora, iria aproveitar a estabilidade emocional de Jéssica para cumprir a promessa que fizera há sete anos, bem no começo do namoro entre os dois (Dário & Jéssica), Dário prometera casar-se com Jéssica quando completassem sete anos de namoro, pois sete era o seu número de sorte. A um quarteirão daí Jéssica sentia-se tão bem que fazia já duas semanas que não tomava seus antidepressivos e anti psicóticos depois de anos de regularidade, e mesmo assim sentia-se como o resto 99% do mundo, se calhar estivesse curada, essa seria uma possibilidade a considerar caso o transtorno bipolar tivesse uma cura, mas não é o caso, então Jéssica estava apenas a ser desobediente, como Kamia fizera quando subiu as escadas. Dário pusera a sua melhor camisa, atravessou o quarteirão que lhe separava da sua amada, e surpreendeu-a, " Amor, Hoje vamos jantar fora", e Jéssica claro, bonita como era, até de pijamas estaria sempre pronta, mas não foi o caso, estava até bem vestida para alguém que fora surpreendida, e lá foram os dois, até o restaurante onde Dário fizera a reserva. Não teve anel na sobremesa, nem música ao vivo, ou sinais perturbantes ao longo do jantar para dar a entender o que está por vir mas que no fundo confundem a maioria das mulheres, Dário não queria confundir Jéssica, tão pouco engasga-la com um anel, durante o jantar comportou-se tão normal quanto Jéssica, e ao meio deste, levantou-se da cadeira, afastou-a, chegou o mais próximo que podia de Jéssica e pôs-se de joelhos, bem a moda antiga, e como esta cena é um cliché quanto na literatura como no cinema, todos nós sabemos que todas as pessoas no restaurante estavam agora a olhar admirados para o jovem casal expectantes para saber qual seria a resposta de Jéssica, e a resposta obviamente foi SIM, não podia ser diferente, eles se amavam mais do que qualquer coisa, a plateia bateu palmas, Dário descontraiu depois do suspense antes do SIM "all caps" de Jéssica, o casal beijou-se, e o jantar continuou prazerosamente, com apenas uma diferença, Jéssica agora exibia o anel de diamantes no seu dedo anelar da mão direita. Na manhã seguinte Jéssica acordara petrificada, a ficha havia caído, " oh meu Deus, eu aceitei o pedido de casamento do Dário" a frase rodava em sua cabeça repetidas vezes como aquelas mensagens que rolam naqueles painéis eletrónicos vagabundos em algumas lojas dos chineses por essas bandas, anyway, Jéssica começara a pensar que fora uma má ideia aceitar o pedido de casamento, nem mesmo pelo anel de diamantes valia a pena arriscar, ela era simplesmente pouco para Dário, e aí afundou na depressão, dessa vez não precisou de três dias para pensar em suicídio, e lá fora ela para o terraço do seu prédio, a triste cena repetiu-se, com apenas uma diferença, pequenas rajadas de vento assolavam a cidade de Benguela naquela dia, mas isso não impedira algumas pessoas de virem assistir o show da Jéssica, Dário fora chamado de novo e quando chegara proferiu as palavras mágicas " Jess, meu amor vem pra mim" mas era vez de Jéssica surpreender Dário, e todos á volta, ela não arredou os pés da beirada do terraço, enquanto isso as rajadas de vento ficavam cada vez mais fortes, o que dispersou a audiência, menos Dário que voltou a proferir as palavras mágicas, mas elas simplesmente haviam perdido o encanto, Jéssica chorava como uma viúva enquanto martirizava-se por ser "feia", e as rajadas, muito de repente evoluíram para tufão, ventos nunca antes vistos por aquelas bandas, tão fortes que arrancaram arvores, levaram roupas estendidas em muitos varais para longe, e empurraram Jéssica terraço abaixo, e assim tão de repente como num passe de mágica, Jéssica jazia no chão á 60 metros do terraço, com os membros tão contorcidos que poderia ser comparado á um espetáculo de uma contorcionista do Cirque du Soleil, não fosse o lago de sangue que se formou á sua volta. E assim deu-se por terminada mais uma crise de Jéssica.


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