Aturdida, Kamia acordara do seu sono, ou será que ainda estava a sonhar? Os enfermeiros não lhe deram tempo para raciocinar, estavam muito apressados, rapidamente puseram-na na outra cama com rodinhas e levaram-na daquele quarto, confusa, Kamia queria saber o que se estava a passar afinal, mas não precisou perguntar, uma enfermeira que também empurrava a cama revelou o motivo de tanta pressa " um coração" pela entusiasmo no rosto da enfermeira Kamia não precisou de mais explicações, haviam doado um coração para ela, finalmente, isso aumentou as suas suspeitas se tudo aquilo era mesmo real ou não passava de um sonho, quisera pedir a um dos enfermeiros para á beliscar, mas o medo de acordar do sonho a privou, deixou-se ir, e quando perguntara para onde estava a ser levada, prontamente um outro enfermeiro respondeu " para o bloco operatório".
A operação levara o tempo que levara, e depois da última sutura, o primeiro batimento, Kamia ainda jazia desacordada de peito aberto, enquanto olhos bem focados e sérios a contemplavam, eram os olhos da equipa médica, e embora os olhos pareciam focados e sérios havia um certo brilho neles e também nascia um sorriso de satisfação na boca de todos naquela sala, pena que as máscaras escondiam tais sorrisos e feições de felicidade pelo sucesso da operação. O primeiro transplante de coração feito no país, aquelas pessoas acabavam de fazer história naquela sala, com alguma ajuda dos anticorpos de Kamia, que receberam o novo coração do mesmo modo que os angolanos recebem os turistas vindos de outras bandas - receção calorosa, e então cirurgião fechou o peito de Kamia.
Kamianão sabia quanto tempo esteve desacordada, mas tinha a certeza de algo, logoque acordara sentira, tinha um novo coração dentro do seu peito, que batia numritmo tão compassado quanto os BPMs da música "fanatismo" do seuastro. E embora sabia que o novo coração não tinha problemas de cardiomegaliaou outro problema cardíaco, pois os médicos não seriam loucos de substituir umcoração doente por outro coração doente, sentia um certo peso no coração novo,era algo parecido com.... algo parecido com AMOR, nada a ver com o amorplatónico que ela tinha pelo seu astro A.R, o novo coração trazia consigo umamor puro, incompreensivelmente Kamia estava a amar alguém que ela nãoconhece... coisas que a ciência desconhece. A dura realidade de que alguresnesse imenso mundo existia alguém merecedor daquele amor acumulado naquelecoração aumentava a ansiedade de Kamia, esta queria logo receber a alta médicae procurar o amor da sua vida - o verdadeiro amor da sua vida. Kamiaperguntava-se como acharia o amor da sua vida, afinal a busca seria comoprocurar uma agulha num palheiro, mas depois achara a resposta e descontraíra -o seu novo coração a guiaria. Precisara se conter por mais uma semana, e depoisque a alta viera, Kamia não esperou e partiu. Dissera á seus pais que precisavaconhecer o mundo agora que a vida lhe dera uma nova oportunidade, quando foiquestionada para onde ia dissera apenas " vou para o outro lado domundo" seus pais logo imaginaram Europas e Américas, mas a verdade é queela ia apenas para Benguela, pois era ali que o seu coração a guiava, claro quetambém contava com a confirmação da enfermeira eficiente e chata que sussurraranos seus ouvidos que tudo que ela sabia era que o coração viera de Benguela.