VI - "NÃO FALE COM ESTRANHOS" e " NÃO ACEITA NADA DE ESTRANHOS"

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O sexto sentido e o novo coração de Kamia trabalharam afincada e incessantemente para encontrar o amor de Kamia, juntos formaram uma pareceria que tornava inútil qualquer GPS. Já na cidade de Benguela, Kamia fora conduzida até uma linda vivenda, embora chamar vivenda parece modéstia àquela linda estrutura de tão linda que é, pintada toda ela de um branco cal, parecia aquelas casas em ilhas gregas. Kamia não era a única a contemplar a "vivenda" tinha mais um jovem a apreciar aquela beldade da arquitetura colonial com acabamentos modernos.

- É linda né? Kamia ouvira, mas ignorou.

- Ela tem quase cem anos, foi construída para um almirante português. A voz acrescentou. Kamia não queria saber para quem aquela beleza fora construída, queria apenas contempla-la, mas para não parecer arrogante decidiu olhar para a fonte da voz, e quando olhou, seus olhos encontraram outros olhos, e estes conectaram-se automaticamente (outro cliché da literatura e cinema), Kamia tentara desviar o olhar mas os seus olhos pareciam imanizados, e não tardou sentiu borboletas voarem no seu estômago, aquele frio na barriga, o jovem ao seu lado era tão... tão.. tão... Kamia estava tão perplexa que não conseguira encontrar um adjetivo para classificar o jovem ao seu lado. Seria ele o amor da sua vida?

- Queres entrar? Eu tenho as chaves. Disse ele. Kamia vira os lábios do jovem moverem-se mas não entendera patavinas, estava surda e muda, felizmente tinha um novo coração, porque seu antigo coração não aguentaria aquele turbilhão de emoções, provavelmente resultaria em desmaio. Se por dentro Kamia estava a ter um tsunami, por fora estava serena, tanto que o jovem nem notara a sua crise catatónica. Ela acenou fazendo que sim mesmo sem entender do que se tratara, e assim acompanhou o jovem estranho como se estivesse hipnotizada, extrapolando duas das leis mais impostas á todas as crianças "NÃO FALE COM ESTRANHOS" e " NÃO ACEITA NADA DE ESTRANHOS" Kamia sorriu, ainda bem que já não sou criança disse pra si mesma enquanto seguia o jovem, sem mesmo questionar as intenções dele. Entraram na casa branca. Por dentro a casa era mais linda ainda, tinha um jardim tão verde e bonito que pareciam os jardins suspensos de babilónia em pequenas proporções, em uma das duas salas de estar nada era moderno, poltronas bem século XIX, uma lareira, e mais alguns móveis antigos, aliás todo o cenário imitava aquelas casas cenográficas daquelas telenovelas de época da tv globo. Kamia estava a sentir-se uma sinhazinha. E depois do tour os dois sentaram e conversaram algures nos jardins suspensos, Kamia contou a história da sua vida, sem mencionar o motivo que lhe trouxera á Benguela, ele também contou a história da sua vida sem mencionar qualquer garota em sua vida. Os dois exalavam grandes quantidades de feromonas, por isso avançaram para a parte em que se beijam, e depois do beijo, Kamia quebrou o primeiro mandamento de toda a rapariga em idade adulta " NÃO FAÇA SEXO COM O PRIMEIRO ESTRANHO QUE APARECER". E depois do sexo veio o pillow talk, aquela conversa pós sexo que a maioria dos homens pouco contribuem, a menos que estejam realmente apaixonados.

- A casa é dos teus pais? Kamia finalmente questionou alguma coisa.

- Não, é minha, foi um presente de casamento. Disse ele, e depois o silêncio. Kamia agora perguntava-se como pudera ser tão ingênua, sentiu-se traída pelo seu sexto sentido e o seu novo coração, é claro que ele é casado, não é possível que alguém tão.... tão... pode ser solteiro pensou.

- Ela morreu. Nunca chegamos a casar. Disse ele triste. -Mas o presente ficou, graças ao testamento deixado pela minha avó, a casa fora do pai dela, o Almirante português, esteve fechada quase 50 anos, segundo a minha mãe o último pedido do meu bisavó almirante era que a casa fosse entregue ao próximo homem da linhagem como prenda de casamento, e como a minha avó só teve a minha mãe, e a minha mãe só teve a mim...

- Gostavas muito dela? Kamia interrompeu.

- Claro, avó é mãe com açúcar. Ele respondeu.

-Não, eu me refiro á ELA. Kamia enfatizou, ele percebeu. E aí ele voltou a contar a história da sua vida, adicionando dessa vez uma rapariga com uma beleza exponencial, maus humores, anti psicóticos e antidepressivos, terraços, um tufão, membros contorcidos e doações de órgãos. Kamia percebeu logo que o seu novo coração era da moça com a beleza exponencial e que ela fora a causadora da sua morte, tecnicamente. Consumida por culpa, afundou no peito do homem ao seu lado e decidiu dormir de tão cansada que estava, por causa da viagem, e pelo sexo, este último que começara algures no jardins suspensos e terminara na sala com a lareira, mas seu quase sono foi estorvado pelo som brusco de portas a abrirem-se.


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