Capítulo 2: O jogo começa

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A escuridão da noite parecia estender-se infinitamente, mas o amanhecer trouxe consigo uma sensação de urgência. O café da manhã no meu apartamento foi uma formalidade, um ritual que já não conseguia afastar o cansaço que se agarrava a mim como uma sombra. Meus olhos mal conseguiam focar, e a dor de cabeça latejante era um lembrete constante das noites mal dormidas. Mais uma vez, o sono tinha sido um luxo que minha mente se recusava a conceder.

Eu vesti minha camisa amassada, ajustando a gravata com mãos trêmulas, e saí de casa em direção ao escritório de Turner. O sol parecia mais brilhante do que o habitual, quase ofensivo, como se o mundo estivesse zombando da minha exaustão. Cada passo me lembrava do peso acumulado pela insônia, e o simples ato de andar até a delegacia parecia um esforço monumental.

Quando entrei na delegacia, fui recebido pela agitação usual. No entanto, havia uma corrente subjacente de ansiedade, uma sensação de que algo estava prestes a explodir. Turner estava em sua mesa, absorto em uma pilha de papéis e fotografias. Seu olhar severo se suavizou levemente ao me ver, mas apenas por um instante.

— Jack — disse ele, acenando para que eu me aproximasse. — Temos muito o que fazer hoje. Clara deve chegar a qualquer momento.

Havia um peso em sua voz, algo que indicava que ele estava lidando com mais do que apenas os casos habituais. Eu me sentei à sua frente, tentando disfarçar o cansaço que já estava se tornando impossível de esconder. Turner me estudou por um momento, como se estivesse tentando decifrar algo.

— Não precisa me lembrar disso — respondi, com um sorriso forçado.

A porta se abriu e Clara entrou, com sua habitual aura de concentração. Ela trazia uma pasta volumosa em mãos, que pousou na mesa com um leve "thump". Sem perder tempo, ela começou a falar, apontando para um gráfico detalhado.

— Os padrões estão começando a emergir — disse Clara, seus olhos brilhando com uma intensidade que fazia minha cabeça latejar ainda mais. — O assassino tem um método, uma lógica perversa. Ele não escolhe suas vítimas ao acaso.

Enquanto ela falava, minha mente vagava entre as palavras, tentando processar o que ela estava dizendo. Havia algo de inquietante na precisão de seus cálculos, como se ela estivesse desvendando um quebra-cabeça cujo final ninguém queria ver. Turner estava prestando atenção em cada palavra, enquanto eu tentava encontrar um ponto de ancoragem em meio ao mar de informações.

— Precisamos agir rápido — Turner interrompeu, sua voz firme. — Se entendermos o padrão, poderemos antecipar o próximo movimento do assassino.

Clara olhou para mim, seus olhos parecendo penetrar diretamente na minha alma. Havia algo nela que me deixava desconfortável, uma sensação de que ela sabia mais do que estava revelando. Ela empurrou a pasta na minha direção, e por um momento, senti que o peso dos papéis era maior do que eu poderia carregar.

— Jack, precisamos que você se mantenha atento — disse Clara, com um tom quase imperativo. — Se houver algo que você notar, qualquer detalhe, precisamos saber.

Eu assenti, tentando ignorar a sensação crescente de que estava perdendo o controle. O café já não tinha mais efeito, e cada palavra deles parecia misturar-se em um zumbido incessante na minha mente.

A primeira cena do dia era uma casa em um bairro antigo, um lugar que parecia ter sido esquecido pelo tempo. A sensação de abandono era palpável, como se as paredes sussurrassem histórias de vidas que se foram há muito tempo. Quando chegamos, Turner e Clara começaram imediatamente a analisar o local, enquanto eu tentava absorver o ambiente.

Os detalhes começaram a se acumular em minha mente cansada, mas havia algo ali, algo que eu não conseguia identificar completamente. Um padrão subjacente, uma assinatura oculta que o assassino parecia deixar para trás. A insônia estava nublando meus pensamentos, mas a sensação de que estava à beira de uma revelação não me abandonava.

Enquanto Turner e Clara discutiam as evidências, minha mente estava em outra parte, tentando conectar os pontos. A letra "A" que o assassino deixava, o caos meticuloso das cenas de crime, tudo parecia parte de um quebra-cabeça que eu estava destinado a resolver. Mas a exaustão era um inimigo poderoso, e cada segundo que passava me afastava mais da clareza.

No final do dia, quando estávamos de volta à delegacia, Turner se aproximou de mim. Havia uma tensão em seus olhos que eu não havia visto antes.

— Jack, tem algo que você não está me contando? — ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de suspeita.

Eu hesitei, sentindo um nó se formar em minha garganta. Havia tantas mentiras que eu havia contado, tantas camadas de verdades distorcidas que eu mal sabia por onde começar. Mas antes que eu pudesse responder, o telefone de Turner tocou. Ele atendeu rapidamente, sua expressão mudando para uma de preocupação.

— Outro corpo foi encontrado — disse ele, desligando o telefone. — Precisamos ir, agora.

Enquanto saíamos apressados, uma sensação de pavor se instalou em meu peito. O jogo estava apenas começando, e eu não sabia se seria capaz de acompanhar. A dúvida se arrastava por minha mente, e pela primeira vez, comecei a me perguntar se eu estava realmente preparado para o que estava por vir.

Ao chegarmos à nova cena do crime, um detalhe me chamou a atenção. Uma mensagem escrita com sangue na parede, algo que só eu parecia notar. As palavras formavam um enigma que me paralisou no lugar: "Quem sou eu?" A dúvida me corroeu por dentro enquanto eu olhava fixamente para as palavras, sentindo que o assassino estava falando diretamente comigo. Eu estava no centro de um jogo muito mais perigoso do que havia imaginado, e a resposta para aquela pergunta poderia ser o fim de tudo.

JACK CARTEROnde histórias criam vida. Descubra agora