Por trás do volante

Capítulo 1

Desde criança eu adorava Fórmula 1, ver todos aqueles carros, era emoção a cada volta. Sempre fui fã do Lewis Hamilton, o cara é foda, ninguém pode negar. Quebrou vários recordes dentro e fora das pistas, simplesmente um gênio.

Em 2018 entrou um cara novo na categoria, um tal de Charles sei lá o que, gostei dele. O tempo passou e digamos que hoje sou maluca com ele, fã ainda é pouco. E para a minha loucura e felicidade, meu amigo que trabalha em uma das empresas patrocinadoras do GP de Interlagos me deu um ingresso pro evento, em um setor VIP ainda, nem acredito, jamais pensei que eu veria uma corrida de perto. Fiquei tão ansiosa que o tempo parecia parar, de tão devagar que passava, mas finalmente chegou.

Aquele lugar é simplesmente incrível, maravilhoso, perfeito, tudo de bom. Ver aqueles carros de perto, ouvir o ronco do motor, os pilotos... parece tudo um sonho.

Hoje é sexta, dia de treino livre, aproveitei pra dar uma volta pelo paddock, tirei um monte de fotos, de praticamente tudo que vi lá. Quando vou continuar, levanto a cabeça e vejo ele lá adiante, o Charles. Aquele macacão vermelho, o cabelo castanho bagunçado, as covinhas apaixonantes e seus penetrantes olhos verdes. Fico petrificada na hora, jamais pensei que ficaria tão perto assim dele. Ele vai se aproximando, penso que é minha chance de fazer tudo o que eu sempre quis, tirar uma foto com ele, pedir um autógrafo, conversar, dizer o quanto eu o amo...mas eu não consegui sequer me mexer, só pude fitá-lo enquanto caminhava pelo extenso paddock. Ao passar por mim, ele me olha e só consigo mal levantar a mão e acenar, o que ele retribui junto com um sorriso. Ah, aquele sorriso. Só com essas simples ações meu dia já estava completo, só de vê-lo e realizar meu sonho.

No sábado é a corrida Sprint e depois do que aconteceu ontem, queria desejar boa sorte pro Charles, mas depois do que também aconteceu ontem, fiquei com medo de não conseguir. Decidi tentar. O pior que poderia acontecer era eu não conseguir dizer nada e apenas ver o Charles caminhar pra bem longe de mim, isso tudo diante dos meus olhos. Ou então, se eu conseguir, ter um piripaque, assustar o Charles e todo mundo em volta, e ser retirada de lá pelos seguranças, pela ambulância ou até pela polícia, por acharem que eu estava morrendo ou sei lá o quê... Jesus, acho melhor eu não fazer nada. Mas como só se vive uma vez e tudo é possível em Interlagos, decidi tentar.

Chegando no paddock, não demorou muito para que eu o avistasse, impossível não reparar naquele ser lindo e único. Ele estava se aproximando do lugar onde eu estava e, para o meu azar, alguns fãs e a imprensa também. Realizei que minha chance havia sido arruinada, tudo o que planejei foi por água abaixo e tudo isso com ele tão perto de mim. Tão perto, mas também tão longe. De repente a multidão começou a diminuir, parece que só estavam tirando algumas fotos. A imprensa também saiu e se dirigiu para outro piloto. Ele estava vindo, meu coração estava quase saltando do peito, meu coração que, bate mais forte só de ouvir o nome dele, imagina quando está perto de mim. Charles se aproximava mais, um fã ou outro o parava para pedir um autógrafo ou uma foto. Eu não ia conseguir, sei disso, se eu mal consegui acenar para ele ontem, como eu ia conseguir dizer algo a ele? Sim, parecia impossível, mas não sei de onde tirei forças para dizer "boa sorte, Charles!" enquanto ele passava na minha frente. Ele me olhou, deu um sorriso e agradeceu. Eu não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer. Eu-eu consegui? Eu consegui falar com o Charles, eu consegui falar com ele sem ter um piripaque, sem gaguejar? Será que não foi um delírio ou algo que eu falei na minha mente? Não, não foi. Se fosse, ele não teria sorrido daquele jeito, não teria agradecido de uma maneira tão doce e gentil, que só ele consegue. Jamais me esquecerei daquelas palavras, daquele momento maravilhoso e perfeito em que pude falar com alguém que amo e admiro há tanto tempo. É como algumas pessoas dizem e é verdade: tudo é possível em Interlagos.

Domingo, o grande dia. Nem preciso dizer que eu estava lá no paddock novamente, aguardando meu ídolo. Passei o dia todo pensando no que aconteceu ontem, em como foi maravilhoso ter conseguido falar com ele. Mas eu queria mais, queria me aproximar, tirar uma foto pelo menos. Se eu conseguisse essa foto, iria morrer do coração, com certeza. Aproveitei que havia algumas pessoas em volta dele e decidi que era o momento, cheguei perto e fui passando entre elas até que ele me notou. O momento em que ele me olhou nos olhos pareceu infinito, era como olhar para uma paisagem magnífica pela primeira vez na vida, inesquecível. Eu deveria falar que queria uma foto, mas só consegui levantar meu braço com o celular na mão. Que bom que ele havia notado e perguntou se ele podia tirar a foto, consegui balbuciar um "sim". Depois o agradeci e saí andando, desacreditada. Teria sido perfeito se eu não tivesse esquecido meu celular com o Charles e pra piorar ele visto que tinha uma foto dele na minha capinha. Ele me gritou e disse sorrindo: "adorei o presente, é a minha cara" e depois completou: "brincadeira". Não sei o que se tornou minha expressão, mas era uma mistura de felicidade, vergonha e uma vontade incontrolável de rir da piada. Espero não ter assustado o Charles, é a última coisa que eu iria querer.

Depois, fui para o camarote assistir à corrida. Infelizmente o Charles não ganhou, mas terminou em uma boa posição.

O GP acabou e com ele a magia daqueles 3 dias intensos e perfeitos. Mal posso esperar para voltar no próximo ano e viver tudo novamente.