breakfast

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O aroma de café recém-preparado e de ovos mexidos pode ser sentindo do andar de cima, Abby entra correndo na cozinha enquanto Agatha a segue com uma toalha nos ombros.
- Abby! Você tem que tomar banho!
- Eu não quero! - ela volta a correr, indo para o andar de cima.
Desligo o fogão e coloco os ovos em um prato.
- Abby... Não corra na escada - falo enquanto pego um pacote de farinha no armário e despejo um pouco numa tigela.
- Vai se foder, David! - ela grita, batendo a porta do quarto.
Deixo um pouco de farinha cair no balcão e olho em direção ao andar de cima.
- Abby! Não fale palavrão!
A casa fica em silêncio por alguns segundos.
- ... Desculpa.
- E vá tomar banho, você tem aula hoje!
- Não! - ela resmunga.
- A mamãe não gostaria que você fosse suja para a escola!
Desde que a nossa mãe foi assassinada, Abby sempre faz coisas que acha que a agradaria sem reclamar, é a forma que ela usa para enfrentar o luto, cada um de nós tem uma maneira diferente, Abby faz coisas que acha que ela gostaria, Agatha se distanciou um pouco de todos, principalmente de mim, ela diz que eu sou parecido com ela e olhar nos meus olhos dói,e eu... bom, eu cozinho, foi uma das coisas que ela me ensinou a fazer, e eu sou bom nisso.
- Tá! - os passos dela são ouvidos, e em seguida, a água correndo.
Agatha deixa a toalha de Abby no banheiro e volta para a cozinha mexendo no telefone.
- Viu no grupo do condomínio?
- O que? - desvio a atenção da massa de panquecas e olho para ela.
- Uma nova família vai se mudar para a casa do vizinho - diz ela, olhando para o telefone. - eles vem da Alemanha.
Levanto as sobrancelhas e volto a atenção para a massa.
- Sério? - pergunto, despejando um pouco de massa na frigideira. - Abby! Anda logo, você não pode se atrasar!
- Já tô indo!
Ouço ela se arrumando no quarto, sem demorar muito, ela desce, já com o uniforme escolar, para a cozinha.
- O que tem para comer? - ela senta em uma cadeira.
- Ovos mexidos, pão com geleia, torta de maçã de ontem, café... - coloco um prato com panquecas na mesa. - e panquecas - adiciono.
- David, por que você não abre um restaurante? - pergunta ela colocando ovos mexidos no prato.
- Porque custa caro - suspiro, me virando para para pegar uma xícara no armário. - talvez um dia, Abby, talvez um dia.
Me encosto no balcão e olho para Agatha.
- Vai trabalhar hoje?
Ela assente.
- Vou, e vou deixar Abby na escola, é perto do meu trabalho - ela fala sem realmente me olhar nos olhos.
Abby termina de comer e coloca o prato na pia.
- David, posso dormir na casa de Diana hoje?
Apesar de Agatha ser a mais velha, Abby nunca pede permissão a ela, sempre pede a mim, como se eu fosse sua figura paterna, e se eu tivesse que apostar, diria que realmente sou.
- Depende da sua nota na prova de história.
Ela murcha.
- Por favor! - diz juntando as mãos.
- Eu já falei, e além do mais, se você não for, pode assar bolo comigo hoje.
Isso a anima automaticamente, ela ama assar qualquer coisa que seja comigo, e na maioria das vezes, leva para a escola e divide com os amigos, sempre diz que está "garantindo clientes".
- Tá, eu deixo para a próxima semana! - ela corre para o andar de cima novamente.
Vejo Agatha me observando.
- Vai assar bolos de novo?
- Vou, talvez eu divulgue venda no grupo do condomínio - vejo a expressão em seu rosto. - qual é, Abby gosta, estou só tentando animá-la.
Agatha coloca o celular no bolso da calça.
- Vai deixá-la mimada.
- Agatha, você sabe como está sendo difícil pra ela, para todos nós, caramba, mamãe morreu dois dias antes do aniversário de Abby, você sabe o quanto isso a deixou triste?
Agatha suspira.
- Isso não justifica nada.
- Agatha! Você sabe o que aquele cara fez com ela! Você sabe! Então se eu tiver que vender a minha alma e ser condenado à o resto da minha vida ser um inferno em troca de Abby não pensar naquilo pelo menos por um minuto, eu venderia! Venderia sem pensar duas vezes, porque para mim a felicidade de vocês duas vale mais que qualquer coisa, e você sabe disso!
Ela desvia o olhar.
- Tem razão, desculpa.
Abby desce com a mochila nas costas e vai até a geladeira para encher a garrafinha.
- David! Cadê o meu lanche?
Fico atrás dela e pego o prendedor de cabelo do meu pulso e começo a arrumar o cabelo dela.
- Não se preocupe, eu vou deixar antes do seu recreio, combinado?
Ela assente freneticamente, o que me faz sorrir.
- Tá! - diz terminando de encher a garrafinha e ir correndo para o carro de Agatha, obrigando Agatha a segui-la. - tchau David!- ela grita da porta.
- Tchau, boa aula! - grito de volta, e finalmente, sento em uma cadeira para tomar o café da manhã.

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