Capítulo 1

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4:50 da manhã:
Saída do primeiro grupo de combate com equipa de socorro para incêndio habitacional.
"-Ah porcaria de alarmes. Quando finalmente estava a ignorar todos os sons, tocou este inferno."
Olho para o meu grupo, alguns sei que são confiáveis, outros nem tanto. O que se há de fazer não dá para negar a entrada a ninguém, e os piores de todos são os da "família", sempre com as costas quentes, podem fazer a maior merda de sempre que nada lhes acontece.
Oiço um puto da recruta, deve ser o primeiro incêndio dele, dirijo-me à central vejo que há um carbonizado, olho mais um vez para o puto e pergunto-lhe:
"- Sabes trabalhar com a bomba do carro?"
Ele fica pensativo, porém responde, eu não sei, mas aprendo rápido.
Às vezes fico com pena de putos como ele, esforçam-se para os da família ou putas, passarem à frente.
" -Vai equipar-te, não demores, estamos no 02."
Chegamos ao incêndio preparamos as coisas e dividimo-nos em grupos de dois, entreguei um dos rádios ao novato e expliquei superficialmente a bomba do carro.
"Ficas com o Rádio um, eu e o Amarante somos o Echo, eles os dois são o X-ray e eles são o Delta, qualquer dúvida pergunta, não saias daqui até seres substituído."
E

ntramos no interior do cubículo, e começamos as buscas, estava tudo a correr bem até uma parede ceder e começar a desmornar, apertei a patilha para falar sobre a estrutura e o tempo que tínhamos. A equipa Delta e X-ray já tinham abandonado o perímetro agora somos nós.
"Rádio um aqui equipa Delta, cinco minutos e partimos para a retirada na porta Alfa. Escuto."
"Equipa Delta, aqui Rádio um entendido. Escuto."
Rádio um aqui equipa Delta terminado."
Derrepente ouve se um som muito forte e vê se um clarão gigante, sinto o meu corpo a embater contra algo e perco a consciência, por um tempo. Oiço o rádio "Equipa Delta, aqui Rádio, responda, Equipa Delta, aqui Rádio responda."
Com muito esforço consegui alcançar o rádio.
"Rádio, aqui equipa Delta, precisamos de reforços, repito, precisamos de reforços."
"Equipa Delta, aqui equipa X-ray, o puto desapareceu, e a entrada está degradada."
Ao fundo oiço uma voz:
"-Chefe, chefe! Se conseguir ouvir ligue o APS e faça sinais com a lanterna, já encontrei o Amarante, ele está bem."
Eu por momentos não acreditei no que ouvi, o puto entrou mesmo. Ele desobedeceu á minha ordem, mas agora não interessava, ele ia tirar nos a todos dali. Fiz sinais de luz com a lanterna, nós todos vamos sair daqui bem.
O puto encontrou-me e ajudou me a sair daqui, reunirmos os três e fomos até á saída, quando estávamos a sair sentimos tudo a tremer, só ouvi cuidado e fui empurrado para o exterior do edifício, quando olhei para trás só vi o Amarante, que estava em estado de crise.
"- O miúdo, onde estás o miúdo?"
Eu sabia a resposta para a pergunta, mas não queria acreditar naquilo, caminhei para a montanha de destroços e com as minhas mãos comecei a escavar.
"- O que vocês estão a olhar, ajudem me, a achar o vosso colega, ele pode estar vivo..."
Eu sabia que não estava, mas uma parte de mim queria acreditar que sim.
"- Bando de inúteis e falsos, ajudem me."- Gritei mais uma vez com a minha equipa, que pelos vistos acordou do transe que se encontravam, eles ajudaram a encontrar o corpo já sem vida e coberto de sangue e poeira. Não quero acreditar que está morto então faço na mesma compressões e chamo a vmer para perto, os médicos atestaram o óbito, porém por alguma razão eu não conseguia parar de fazer manobras. Fui vencido pelo cansaço através do desmaio. Acordei três dias depois numa cama que a princípio não reconheci, estava com flores e com um peluche que dizia espero que melhores depressa. Olhei para o lado e vi a minha mulher.
"Ana, o que aconteceu? Onde estou? Onde está o Felipe?"
"Calma, devagar acabaste de acordar, estiveste a dormir por três dias!"
"Isso é impossível eu ontem estive no incêndio, eu disse te antes de ir lembras-te?"
" Querido é normal estares confuso, o Felipe, ele não conseguiu, tu fizeste todos os possíveis, os médicos também, mas infelizmente partiu. Sinto muito "
Desabei, a culpa é toda minha, ele deveria ter ficado no quartel, nunca deveria ter lo deixado sair.
"O funeral dele já foi?"
"Não, todos estão á tua espera, eles sabiam que querias ir despedir te."
"Ele era só um puto, sabes o que é estares a começar a tua vida profissional e do nada isso acontecer?A culpa é toda minha, nunca deveria ter primitido ele vir connosco."
" Ninguém têm culpa, todos sabem como a profissão é. Os pais do rapaz pediram que tu fizesses um pequeno discurso, o miúdo tinha muito mas muito respeito por ti. Isso se sentires bem com isso."
"Eu farei o, é o mínimo que posso fazer para honrar a sua memória."
Recebi alta do hospital, hoje seria o dia do adeus final, sei que o caixão vai estar fechado, mas mesmo assim é tão lixado pensar que era tão novo ele nem tinha chegado aos vinte anos e mesmo assim sacrificou se por duas pessoas.
Cheguei ao sítio, estava tudo decorado com fotos dele, as pessoas conhecidas dele, amigos, família e a namorada todos desvastados, foi duro encarar a realidade do morte e do luto.
"-Chefe Ramos, nós somos os pais do Felipe, agradecemos por ter cuidado dele, enquanto estava na recruta. Ele estava sempre a falar de si. "
"- Os meus sentimentos, sinto muito por isso ter acontecido, ele era um ótimo bombeiro, estava sempre pronto e esforçava-se muito."
"Amanda, este é o Chefe Ramos, ela era a namorada do Felipe."
Á minha frente apareceu uma rapariga, grávida, ela está grávida, mas afinal quantos anos eles tinham?
Olho discretamente para a data de nascimento, que estava no cartão fúnebre, vinte, aquilo fez me sentir ainda pior, ele estava a começar a viver.
"Eu sei o que está a pensar vinte anos, são novos demais, mas nós íamos nos casar para o ano e já estávamos a viver juntos desde os nossos dezanove anos. Ele quis entrar na recruta mais cedo, porém eu pedi para que esperasse, e quando fez vinte entrou, meses mais tarde descobri a gravidez e agora estou a enterra-lo. Vocês nem queriam saber do esforço dele, beneficiavam sempre os preferidos, você sabia que ele não tinha todas as fardas, alguma vez viu o cacifo que ele tinha? "
Aquele choque de realidade foi doloroso, eu nunca pude fazer nada, infelizmente, não posso também fazer nada. A rapariga foi sentar se, não sei se sou capaz de fazer o discurso, eu não queria que aquela situação acontecesse.
Mais tarde, quatro homens fardados começaram a carregar o caixão enquanto, as pessoas faziam discursos sobre o Felipe, chamaram o meu nome e eu com um pouco de receio fui.
" O Felipe, foi um herói que muitos queriam ser, ele lutou como um soldado contra o incêndio, a família disse que queria ser médico para salvar pessoas, porém nunca teve uma boa educação para isso, também quis aprender informática mas nunca teve dinheiro para comprar computadores bons, ele não precisou de nada disso para ser um herói, é por causa deste homem que estou vivo, á conta do sonho de ser bombeiro, ele iria realizar um sonho, que para muitos homens é o maior da vida deles, ser pai, e eu prometo que encanto eu viver, a sua memória jamais será esquecida."

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⏰ Última atualização: Apr 08 ⏰

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O dominador de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora