O prólogo

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??? ??? | 🍁

Prisão de Tur.

A dor beijou a minha pele com a ternura de uma cinta de couro, um açoite que arrancou sangue e originou cicatrizes. Me manteve lúcida entre estágios alternados de tempo de inconsciência e atordoamento, sempre em movimento conforme eu me deixava ser arrastada pelo interminável corredor imundo e sem luminosidade alguma daquele hospício subterrâneo.

Não conseguia respirar normalmente, não sabia ao certo se era em mim o maior problema ou se somente era o ambiente me dominando inteira. Nada parecia muito promissor – não com a corrente e as algemas com malditos mecanismos selando a minha Elemental da água. Eu não podia me defender. Não conseguia rastrear uma única fonte abundante de água não contaminada sob o solo aos meus pés. Estava indefesa como um rato.

— Outra deles?

— Rebelde. Foi capturada na feira. — Respondeu a segunda voz masculina, dez passos à minha esquerda. Eu não podia vê–lo, mas ouvia seu coração batendo, o som quente e estável da respiração constante. Diferente do escárnio da primeira pessoa, este parecia indiferente.

Houve um puxão pouco sutil na corrente que puxava as algemas em minhas mãos. Meu corpo tropeçou para frente, fraco e desorientado. Alguém seis passos atrás de mim, riu. Eu podia ouvir o som de suas mãos se apertando no cabo de madeira de uma lança. Imaginei quão interessante seria me virar e simplesmente...

— Apenas ela?

— Sim. — Respondeu o indiferente. — Estava furtando comida.

— Ela parece precisar. Não vai demorar muito para morrer aqui.

Eu mostraria os dentes se isso não fosse me fazer parecer ainda mais débil naquele momento humilhante. Meus passos continuaram se arrastando enquanto eu era escoltada para ainda mais longe da luz. Estava fedendo – tudo ali cheirava a cem coisas diferentes, e nenhuma era boa em meu olfato. Era como levar um soco direto no nariz.

— Ah. Pensamentos positivos. Esses duram menos. — Havia uma sensação de humor na voz sarcástica.

— Esses desgraçados nunca param de aparecer....

Parei de escutar aí, me focando no som do esmagar das solas contra o solo. O mecanismo das algemas parecia com centenas de milhares de mini–agulhas cravadas fundo em minha carne, bloqueando uma enxurrada incontrolável de poder ameaçando explodir através dos meus dedos calejados. Doía. Eu não sabia decifrar qual a pior parte – a sensação de vulnerabilidade e impotência, ou o medo rastejando em meus ossos.

Fora isso, minha audição permaneceu operante. Eu podia detectar cada traço de inspiração frágil ao meu redor, cada goteira em cada vazamento. Sabia que haviam selas precárias em cada lado. Os sinais de vida eram escassos, mas tampouco me traziam conforto. Ali, eu era uma presa fácil – mesmo entre os meus.

Por fim, ouvi o clicar e empurrar de chaves e aço, o aroma de madeira pesada e armas sendo recolhidas em posição. As correntes em meu pescoço e em meus tornozelos se foram em um momento. Fui empurrada pelo ombro, tropeçando cegamente para trás e caindo sem apoio algum contra o chão.

A sela se fechou com um rangido assombroso, parecendo uma risada macabra. Eu afastei meu rosto da sujeira, mas quando abri meus olhos pela primeira vez, nada além da escuridão me saudou ali. Contemplei, no silêncio da solidão e da miséria, quão perto eu havia estado da minha sonhada liberdade – apenas para falhar no final.



(🍁❄️🍁)

Kim Taehyung | ❄️

Cachoeira, território desconhecido.



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⏰ Última atualização: Oct 19 ⏰

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ALMA DE SOPRO • original Onde histórias criam vida. Descubra agora