Apesar de tudo

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Sabe aquele momento em que tudo que você quer, é chutar o pau da barraca e deixar que tudo desabe na sua cabeça? Então, é por esse momento que eu estou passando agora.

- EU JÁ DISSE QUE NÃO PEGUEI DINHEIRO NENHUM - grito, bufando

- Sua irmã não teria por que mentir, Isabella - Dona Catarina, mais conhecida como minha mãe, rebate - e não grita comigo - apontou o dedo na minha direção

- E eu teria? - questiono, sentindo um nó se formar em minha garganta - O que custa a senhora acreditar em mim só uma vez? Poxa, eu trabalho, tenho meu próprio dinheiro, não preciso me rebaixar a isso não - desabafo

Por mais que situações desse tipo sejam constantes, já tô cansada de ser sempre acusada de coisas que não batem com o meu caráter. Porra, não sou ladra não, não preciso roubar dinheiro de ninguém - Independente de onde esse dinheiro tenha ido parar, eu preciso dele pra pagar o aluguel, então, você vai ter que colaborar mais - minha mãe diz, suspirando. Quem vê pensa que esse tipo de situação deixa ela chateada

- Tá bom, eu dou meu jeito - concordei, terminando de amarrar meus cadarços. Isso é muito injusto, sempre tenho que segurar as pontas aqui em casa, as vezes não consigo guardar um dinheiro pra comprar minhas próprias coisas, pois estou sempre tendo que colocar as necessidades da minha família, em primeiro lugar

Tenho certeza absoluta que foi a Rebeca quem pegou esse duzentos reais, não é a primeira vez que some dinheiro aqui em casa, e ela tá sempre aparecendo de roupa nova, perfume de marca, mas nunca assume os b.o. Minha mãe se faz de cega, finge que não vê as merdas dela, e sempre que pode joga a culpa e a responsabilidade pra mim, uma garota de dezessete anos. É muita injustiça.

Não fiz questão de me despedir quando saí de casa, e muito menos minha mãe fez questão de me dar um abraço, ou dizer " Vai com Deus minha filha.." como as outras mãe costumam fazer.

Em plenas sete da manhã, um calor dos infernos já se fazia presente no Morro do Alemão, é de rachar o coco.
Conectei meu fone no meu celular todo fudido, e sem muita pressa fui descendo o morro. Minha escola fica na entrada, e eu moro lá pra cima, apesar de ser um pouco longe, eu gosto de fazer esse caminho todos os dias, me ajuda a refletir.

Apesar de viver aqui a minha vida toda, nunca fui uma garota muito soltinha, pelo contrário, não conheço muitas pessoas, sempre fui na minha. Já tenho motivos demais pra me preocupar, não preciso ficar arrumando k.o pra esquentar mais a cabeça. Da escola pro trabalho, do trabalho pra casa, assim eu sempre vivi, e espero continuar vivendo.

Faltava algumas ruas pra chegar na minha escola, quando eu me assustei com respingos de lama voando na minha roupa - que droga.. - espraguejei, pelo susto

- Tá cega, mina? Quase passei por cima - não fiz questão de encarar o cara que estava pilotando a moto que passou em alta velocidade pela poça de lama que espirrou em mim

- Porra era melhor ter atropelado, maluco - bufei, esfregando as mãos na minha calça, tentando tirar a lama

- Tá doidona, filha? Tá achando que tá falando com vagabundo? - ele desceu da moto, putinho e só aí eu fui encarar ele

Realmente, era melhor ter me atropelado e me matado, só assim eu não teria aberto minha boca de xereca e falado dessa forma com o Falcão, o dono do morro.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora