Xiu

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Você está prestes a ler sobre acontecimentos decorrentes do dia 27 de março de 2024. Uma quarta-feira em Brasília que trouxe troféus e revelações após às sete e meia da noite.


O longo véu branco com flores coloridas nas pontas ainda era menos longo e menos florido que o sorriso de Diego. A flor do sorriso dele se abria cada vez mais, assim como dizia a música "Estrela" que servia de trilha sonora para a chegada dele até o altar.

Enquanto isso, Amaury que estava com um terno branco quase igual ao de Diego (se diferenciando apenas porque não tinha véu), fazia valer o verso que dizia: "do contrário também bem que pode acontecer, de uma estrela brilhar quando a lágrima cair".

Eram lágrimas de pura felicidade e ele não se aguentou, juntou as mãos até a própria boca e mandou um beijo para seu pequetito. Aí não teve jeito, os olhos de Diego também se deixaram lavar pelas águas da felicidade.

Amaury começou uma sequência de "eu te amo" sussurrados porque a voz estava enfraquecida demais pela emoção e pela grandeza do sentimento, mas ele precisava dizer antes mesmo que Diego chegasse até o altar.

Porque cada centímetro a mais de sorriso que crescia naquele pequetito e cada lágrima que regava aquela flor de sorriso era muito divino para ele.

Diego estava imerso em fazer a leitura labial daquele que seria seu homem e quase perdeu as forças para verbalizar um "eu te amo" em resposta. Mas ele queria, queria tanto que doía.

Então com as mãos suadas segurou ainda mais firme o buquê e o braço de seu pai, respirou fundo e pronunciou cada palavra sussurrada com o ímpeto de quem parece dizer pela primeira vez e necessita dizer outras vezes.

E essa busca pelo dizer o fez lembrar de um acontecimento de alguns dias anteriores:



-Estou cansado.



-Eu também. Mas ainda bem que temos trabalho, pequetito. É como dizia o Ramiro: "é um pobrema ser pobre, é por isso que pobrema começa com pobre."



Diego esboçou um sorriso enquanto se perdia em seus próprios pensamentos, e enquanto tinha o olhar fixo na paisagem que cercava o Museu Nacional da República.



-Mas não é sobre esse cansaço que estou falando. Estou cansado de termos pouco tempo juntos. A gente acabou de chegar em Brasília, agora você vai correndo pro Rio pra fazer a peça e depois vai pra Minas Gerais fazer a encenação da Paixão de Cristo. E eu vou voltar pra minha casa em São Paulo. Uma pena eu ter gravado o programa hoje, bem que podia ser amanhã...



-Vamos pro Ri...


Diego o interrompe rapidamente:


-A Globo só paga a hospedagem de acordo com o dia de trabalho, esqueceu?



-Você fica na minha casa.



-Amaury... você sabe que não é tão simples...



A essa altura Diego já sentia vontade de chorar, mas se segurou. Amaury só ficou encarando pra ele, reconhecendo que olhar fixo pra paisagem era só uma maneira de disfarce. Daí quando finalmente eles se encararam, era como se os olhos dissessem: "sinto muito pelo nosso amor."



-Tá... a verdade é que eu tenho medo de falar certas coisas primeiro e quebrar a cara. -Disse Diego na tentativa de reverter aquela situação.

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