21. Ato de Persuadir

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Ben não quis dizer diretamente, mas eu entendi. Naquela noite eu sabia onde Alex estaria e melhor, o que estaria fazendo.
Agora que eu tinha as informações que me favorecia, precisava fazer com que o meu plano desse certo, e pra isso Dakota iria ter que colaborar.
Roy estava sentado no sofá, com um olhar distante. Parecia que ele estava ali desde o dia da festa.
— O que você tem, Roy? — eu disse me sentando ao lado dele, como quem não queria nada.
— Nada — ele disse com os olhos um pouco arregalados; sem perceber eu me aproximar.
— Qual é?
— Bom... A culpa é sua.
— Minha? — perguntei confuso. — Por que minha? O que eu fiz?
— Você e essa sua história de querer que eu fique com Veronika.
—  Estava pensando nela?
—  Não sai da minha cabeça...
Eu ri.
— Eu não tenho nada a ver com isso. Ela está ai por que você quer.
— Esse é o problema! Eu não quero.
— Se não quisesse, você não estaria pensando nela até agora.
— Não tente me persuadir!
— Não é persuasão... Embora você negue, sabe que é a realidade, só precisa aceitar.
Ele ficou pensativo.
— Você quer, Roy... Qual mal em querer? Não há como trair alguém que nem está mais aqui...
— Você nunca vai entender...
—  Acredite, eu sou quem mais entende. Você só precisa começar encarar da maneira certa, e eu estou aqui pra te ajudar... Pra te trazer de volta pra vida.
 Ele suspirou. Percebeu que eu estava certo naquele momento. Embora eu estivesse certo em todos. Toda aquela alegria que ele demonstrava para todos, era superficial. O Roy que vivia dentro dele era triste.
— Roy,  eu sei que perder alguém que você ama é horrivel. Você se fecha pra tudo, acredite, eu sei... Mas se você se fecha pra dor, você acaba ficando sem nada... Dá uma chance para a Veronika, cara.
 Ele continuou em silêncio por alguns minutos. E eu continuei ali do lado dele, só que dessa vez sem dizer nada; embora eu quisesse cumprir com a minha parte do combinado com Veronika, acima disso eu queria ver meu irmão bem; ele precisava do tempo dele pra decidir, e se isso significasse continuar do jeito que ele esteve durante décadas, por mim tudo bem, eu arrumaria outro jeito de Veronika estar ao meu lado, ou não, eu só não queria forçar a barra com Roy.
— Tudo bem — ele quebrou o silêncio.
— O que? Você disse tudo bem?
— É... Tudo bem. Quero dizer, eu vou tentar. — Consegui... Finalmente, eu disse para mim mesmo.
— Então, hoje — eu disse me levantando.
— O que? — ele disse com um medo repentino. — O que tem hoje?
— Hoje você vai falar com ela, ou pra ser mais específico, agora.
— Agora? Você não disse nada disso.
— Estou dizendo agora.
— Não. Agora não dá... Tenho compromisso.
— Você é um homem ou um rato? Só conversar, não precisa fazer mais nada se não quiser.
— Tá... Eu disse que vou tentar né...
— Isso aí!
 Fui para meu quarto; até então estava tudo aparentemente dando certo. O que mais eu poderia fazer naquela noite, a não ser mostrar pra Dakota que Alex não mudou? Talvez esse pudesse ser o meu único recurso; ela já não me olhava com os mesmos olhos, Alex estava vencendo e nos distanciando. Eu estava disposto em esperar por ela, mas agora não me restava muitas opções, se eu esperasse mais, talvez a perdesse pra sempre.
— E ai, Roy? Está pronto? — eu disse olhando no relógio. Era 9hr30min da noite.
— Bom... Eu ainda não estou certo disso... 
— Não vai dizer que deu pra trás? E os hormônios? O que aconteceu com eles?
— Engraçadinho.
Ele sacudiu a cabeça.
— Quando decidir ir...
— Ir?
— Sim, na casa dela...
— Ficou louco?
— Cara, não estou te entendendo. Cada hora diz uma coisa; agora pouco tinha concordado.
— Mas não na casa dela! Imagine se a mãe dela nos pegar, o que ela vai pensar de mim?
— Você não vai fazer nada de errado. Até onde eu sei conversar não machuca, e beijar também não  — Sorri.
— Nenhuma mãe iria gostar de ver a filha com um vampiro.
—   Mas ela não sabe que você é um vampiro. Vamos logo antes que você me atrase — eu disse, puxando ele.
— Atrasar para o que?
— Balada.
— Você vai me deixar sozinho lá? Você só pode estar brincando — ele disse, se soltando e indo para a escada.
— Cara, não espere que eu te dê um soco e te leve inconsciente mesmo.
Ele revirou os olhos e andou até o carro.
— Como se um soco fosse me deixar inconsciente — resmungou.

O caminho inteiro até a casa de Dakota, fui tentando convencê-lo novamente. Roy sem dúvidas era o cara mais corajoso que conhecia; mas não quando se tratava de relacionamentos. Também era teimoso; ele só precisava de um empurrãozinho pra fazer o que queria fazer e não tinha coragem.
 Estacionei do outro lado da rua que ficava a casa delas.
— Chegamos, vai entrar? — eu disse, abrindo a porta.
— Estou decidindo.
— Cara, você está pior do que menina.
Ele riu.
— Vamos. — Ele abriu a porta para sair.
— Espera! — Eu segurei o braço dele.
— O que?
— Tem um Hyundai em frente a casa delas.
— Proibido estacionar?
— Eu acho que é o Alex.
— Namorado da Dakota?
— Sim... Mas não tenho certeza — eu disse, me concentrando para escutar o que diziam dentro da casa. Era difícil ouvir qualquer coisa que viesse de lá, mas com certeza havia um cheiro novo.
— É ele mesmo — eu disse olhando na janela. — Acabei de ver passando pela janela.
— Então... Vamos ficar aqui até quando?
— Até ele sair — eu disse continuando a olhar na janela.   

Já fazia 1 hora que estávamos ali esperando. Roy estava quieto demais, e eu impaciente.
— James...
— Oi.
— Aquela hora que você percebeu que Alex estava lá... Você conseguiu ouvir algo?
— Não... É difícil, talvez com o tempo eu consiga melhorar isso...
— Não é só você — ele franziu o cenho. — Eu também não consegui...
 Olhei pra ele, e estava visivelmente preocupado.
 De repente escutamos um barulho vindo da casa, olhamos, e finalmente alguém abriu a porta; Alex saiu. Dakota saiu junto e lhe deu um beijo, um tanto caloroso.
— Podia dormir sem essa, James — disse Roy.
— Vamos esperar mais um pouco para entrar.
— A mãe dela vai pensar que viemos dormir aqui, já é 11hrs.
— A mãe dela deve estar dormindo a essas horas.
— E como sabe que Veronika não está também?
— Dakota me disse que ela dorme tarde.
— Pelo jeito você sabe de tudo.
— Eu tento. — Sorri.
Alex saiu com o carro e Dakota entrou para dentro. E eu ainda estava pensando em o que dizer pra ela.
— Esta bem... Eu estou quase desistindo — disse Roy, impaciente.
— Você nunca sabe o que quer.
— Por que tem que ser hoje? Não é de bom tom chegar à essas horas na casa das pessoas.
— Preciso de um motivo pra estar aqui.
— Já entendi tudo. Como não pensei que Dakota pudesse estar envolvida?
— Um pouco — eu disse olhando para a casa. — Acho que já podemos ir. — Abri a porta do carro para sair.
— Espera! — ele disse segurando meu braço.
— Qual é? Desse jeito nós nunca vamos sair daqui.
— Estou com medo, cara.
— Medo de que, Roy? Ela não morde — brinquei.
— Do oposto disso.
— Você não vai morder ela.
— Como sabe?
— Se eu que sou mais novo nisso, nunca mordi a Dakota; você vai conseguir numa boa. Confie em você, cara!
— Você nunca beijou a Dakota.
— Mas eu fiquei com ela quando estava sangrando.
— Você não me contou isso! — disse surpreso.
— Depois eu conto — eu disse saindo do carro. Ele saiu também.
Atravessamos a rua e paramos em frente da casa delas; não tinha campainha.
— Chama ai — eu disse.
— Ta brincando?
— Não, não estou.
— Chama você.
— Você veio aqui por causa da Veronika; então chame ela.
— Você que me trouxe!
— Quer ficar com ela ou não?
— Quer mesmo que eu responda?
— Não precisa — eu disse olhando pela fechadura. Parecíamos duas crianças de seis anos.
— Não vai chamar? — Roy disse olhando para mim.
— Eu to esperando você fazer isso.
— Cara, eu vou embora.
— Não. Você fica. Tenho uma idéia melhor. — Bati na porta.
— Você podia ter pensado nisso antes.
— Você também.
Escutei alguém destrancando a porta e abrindo devagar.
— James?! Roy?! — disse Dakota.
Olhei surpreso; não esperava que fosse ela quem abriria a porta. 
— Oi Dakota — eu disse sorrindo por vê-la novamente.
— Oi — Roy disse tímido.
— O que estão fazendo aqui a essas horas?
— O garotão aqui quer conversar com a sua irmã. — Roy pisou no meu pé.
— Eu não! — ele disse. Foi a minha vez de pisar no pé dele. 
Dakota olhou confusa. Roy percebeu que se expressou mal.
— Quero dizer, eu disse que era tarde, mas o James não agüenta ficar sem te ver — disse Roy, pagando com a mesma moeda. Pensei em pisar novamente no pé dele, mas iria começar a ficar estranho, mais estranho.
Percebi que Dakota não estava a vontade com aquela situação.
— Bom... Então entrem, vou chamar a minha irmã. Boa noite.
— Esta indo dormir? — perguntei. — Mas hoje é sábado, fica ai. Eu não quero ficar de vela.
— Você não levou em consideração o que eu te disse não é, James?
— O que eu não levei em consideração? — Dei um de mal entendido.
— Quer que eu seja mais clara? Não quero ser sua amiga. Não sei por que você ainda esta aqui. — Ela disse e subiu a escada. Eu podia "dormir" sem essa também.
— Ai, essa doeu. Parece que você não está com sorte hoje, James — Roy disse batendo em meu ombro.
— Não enche.
— Oi meninos — disse Veronika descendo a escada. — O que estão fazendo aqui a essas horas?
— Sua irmã perguntou à mesma coisa. Bom; o garotão aqui... — Roy olhou feio para mim, então não terminei a frase.
— Oi, Roy. — Ela abriu um sorriso grande.
— Oi Veronika. Desculpa chegar a essas horas aqui — disse Roy.
— Imagine, ainda é cedo... Sentem-se.
— Sobrei — eu disse para mim mesmo. Roy reprimiu um riso, mas Veronika estava tão feliz em vê-lo que nem escutou o que eu disse.
 Veronika e Roy sentaram em um sofá e eu em outro. Eu fiquei torcendo para que eles não fizessem nada comigo ali e que Dakota se arrependesse de ter falado daquele jeito comigo.
 Os dois conversavam vidrados um ao outro, Roy já estava se entregando. E eu já estava ficando entediado, sentado sem fazer nada. Eu conseguia escutar tudo o que Roy pensava, ele estava uma pilha de nervos.
— Desculpa interromper; mas já interrompendo; sua irmã já foi dormir? — perguntei para Veronika. Que pergunta inútil.
— Eu acho que já... Mas pode ir lá ver, talvez ela esteja lendo algum livro. Ela não costuma dormir cedo em fim de semana. —  Veronika queria mesmo que eu saísse da sala, para deixá-los a sós. Eu é que não queria desperdiçar uma oportunidade dessas.
— Sua mãe não iria ficar brava?
— Minha mãe tem sono muito profundo. Se a casa estiver caindo ela não acorda — ela riu. 
— Tudo bem... Vou subir então. — Sorri.

Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora