Os olhos do rapaz piscam incrédulos cheios de raiva, com o pedido da jovem que implora como se dependesse disso para sobreviver.
— Não se baixe tanto... — declara ele — é um assunto tão íntimo, menina Helena.
Torres está desgostoso com a ideia da prostituição, e as relações que só têm prazer, quando não há amor, procurou uma vida árdua de trabalho, para ser afastado de uma vida que o envergonha, é um jovem com uma moral imaculada.
— Não me quer? — inquire a jovem profundamente chocada — não somos amigos?
O jovem respira fundo pensa que se aquela jovem soubesse o que o move não será os sentimentos mesquinhos e egoístas, mas, que tem sentimentos puros. O moreno desencosta-se da parede, e caminha pela casa.
— Não... — engole em seco — não é isso, menina Helena.
Se ainda tinha dúvidas agora estava mais claro, pois sabia o que a prima Joana faz naquela casa há tanto tempo. Porém não pode aceitar que aquela menina tão delicada e que já o tem cativo poderia querer do sexo, ela que é promissora embora seja tão inocente.
— Porquê? — insiste ela — nunca vi nenhum ao vivo.
*
Doutor Leopoldo acaba de ler uma notícia no papel cheio de tinta e muda a página, a mulher com uma banana na cabeça faz tricô para se distrair dos seus segredos de família, sabe que o seu marido tem um feitio delicado e por isso, não gosta que o interrompam na sua leitura, mas aquela manhã Júlia está distante, preocupada com algo; talvez, com receio que o juiz pudesse ler-lhe os pensamentos como sempre o que correspondia a que descobrisse os seus mais profundos pesadelos e mágoas de um passado, efetivamente traduzia uma tragédia familiar:
— Sabe — interrompe o silêncio — que o estado de Fernando — pausa — preocupa-me... — engole em seco — por acaso não sabe de nada? — inquire Dona Júlia.
— Pois... — pausa — não sei.
É muito estranho estarem a escassas semanas do matrimonio e Esther ainda não ter aparecido, nem dado sinais de vida. O que levaria Leopoldo a suspeitar que existia alguma coisa de errado, se até a esposa inepta suspeita agora, ele começa a ter a certeza.
*
A jovem rebelde, mas formosa Helena sente-se ultrajada por se ter rebaixado a um empregado de seu pai, limpa a lágrima teimosa que acaba por correr pelas suas faces delicadas. Lamenta por cada vez que se zanga chorar não saber esconder as suas sensações, sente a raiva a apoderar-se de si uma revolta incontrolável que lhe vem através dos poros, e pela primeira vez em sua singela vida quer bater com força no seu empregado, dar-lhe uma lição, respira fundo, leva as mãos às ancas e olha para as ripes do telhado, imaginando algo para ferir os sentimentos daquele homem, roda sobre os calcanhares:
— Que lata! — resmunga.
Germano Torres sorri de lado em desdém com dúvidas em relação à conduta da sua jovem patroa, duvida que a moça na sua casa ainda em trajes noturnos não seja sonâmbula, ou na pior das hipóteses louca, caminha para a porta a abre e espera que a jovem saia:
— Isso digo eu — pensa na educação que a jovem deve ter recebido, nos modos de se comportar agora.
Exasperada Helena bate o pé e bufa em silêncio, é algo insuportável e até ridículo, ela que só queria sentir que alguém goste dela de verdade, desejada e protegida ter alguém em que possa confiar. Abandona aquela casa que só lhe traz más recordações, caminha elegantemente por um carreiro até ao grande portão que continua aberto, sai através dele com os seus olhos postos no chão.
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Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também Choram
Chick-LitSinopse: O Doutor Fernando regressa enfim de Coimbra, o seu coração destroçado e pronto para se isolar numa aldeia remota. Só um verdadeiro amor é capaz de o fazer voltar a viver. Embrutecido, não acredita na felicidade p...