Pássaros-sol

Mulher na Lua

☁️ Já beberam água hoje?

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Há uma história que minha mãe costumava me contar quando eu era pequeno, sobre a deusa da Lua na mitologia chinesa. Uma mulher, Chang'e, não resistiu á curiosidade de saber o que seu marido havia ganhado após sua convocação para matar os nove pássaros-sol, os nove dos dez filhos do Imperador de Jade. Quando encontrou sua recompensa, o frasco que ele havia recebido do Imperador Benevolente, ingeriu todo o elixir da imortalidade contido ali. Assim, ela voou até a lua, onde permanece até hoje, tendo como única companhia o Coelho da Lua.
Agora, sentado ao lado de Wei Chen, enquanto observamos a lua juntos no telhado de casa, reflito sobre a história da deusa.

  – Você conseguiria matar nove pássaros-sol? – Wei Chen se vira para mim com seus grandes olhos redondos, uma característica que aprecio nele, poderia observar seus olhos por horas, escuros e profundos. Ele me esboça um pequeno sorriso.

  – Eu não sei usar arco e flecha, Jin.

  – O que? – encaro-o, incrédulo. – Você é filho de um deus, não deveria saber usar todo tipo de arma?
Ele desvia o olhar, visivelmente envergonhado, enquanto encolhe os ombros. Droga Jin.

  – Meu pai tentou me ensinar, mas nunca consegui nem mesmo posicionar a flecha no arco. Depois de um tempo descobri que meu pai também é um péssimo arqueiro, Guanyin Pusa diz que é genético.

Não consigo evitar a risada que me escapa. Ele sorri, e é minha vez de ficar envergonhado quando ele se encosta em mim, colocando um braço ao redor dos meus ombros. Apoio a cabeça em seu pescoço, que é exatamente o máximo que alcanço dele, me aconchegando melhor ao seu lado. Ainda é difícil me acostumar com essa proximidade que temos, mas não reclamo, pois muito pelo contrário, aproveito cada segundo. Sinto um arrepio no momento em que ele afunda o rosto em meu cabelo, descendo até minha orelha.

  – Por que a pergunta, Jin?
Ele sussurra. Uma pergunta, um segredo. E é só nosso.

  – Eu estava pensando na história da deusa da Lua.
Sussurro de volta. E ele me encara, olhos bonitos, lábios macios. Não consigo deixar de pensar nele desde a hora em que subimos no telhado, e não me obrigo a parar. Coloco as mãos em suas bochechas enquanto o puxo para um beijo, passando os dedos pela sua nuca onde o cabelo está crescido demais.
E ele me beija de volta. Acariciando minha coluna enquanto nos damos beijos rasos, mas sinceros. Nenhum de nós gosta de beijos ofegantes, é nojento para ambos.
Quando nos separamos, apenas alguns centímetros, ele entrelaça os dedos nos meus, com um braço ainda ao meu redor.

  – Conhece o conto da mulher na Lua. – não é uma pergunta.

  – Minha mãe costumava ler histórias do folclore chinês para mim quando eu era pequeno, esse é o conto que mais me interessei. – ele encosta a testa na minha, intencionalmente esfregando a ponta de nossos narizes um no outro. – Ela lia essa história para que eu não bebesse o suco rápido demais no almoço.

Wei Chen gargalha. Adoro ser o motivo da sua risada, mas ele não precisa saber disso.

  – Não sei se seria capaz de atirar em nove pássaros-sol, mas talvez pudesse derrubar eles com Jingu Bang.

  – É suficiente para mim.

Nos encaramos novamente, sua pele contra a minha está quente em meio ao frio da noite. Durante a noite, quando a deusa da lua é quem vela por nós e nos observa de longe, é melhor que as horas da manhã nas quais o pai de Wei Chen pode nos ver. Wei Chen não liga para a opinião do pai ou o que ele pensaria sobre esse ser o motivo para ele permanecer na Terra, mas gostamos de ter um pouco de privacidade. "Ser discreto não é ser secreto", foi o que minha mãe me ensinou uma vez, sendo ela a primeira a notar que nós já não éramos apenas amigos, há dois meses atrás.

  – Você não vai sair com seu namorado hoje, Jin? – perguntou minha mãe enquanto passava pelo corredor com um cesto de roupa suja, a segui até a lavanderia, encarando com os olhos arregalados e a boca aberta enquanto ela calmamente colocava as roupas na máquina de lavar.

  – Que namorado, mãe? Não sei do que está falando! – tentei rir para descontrair o nó no estômago, o que mais pareceu um engasgo.

  – Mas que bobagem, Jin,. Hoje é sexta-feira e os casais saem para fazer alguma coisa juntos, principalmente os da sua idade. Pelo menos chame Wei Chen para verem um filme no seu quarto, prometo que não conto pro seu pai se não der motivos para a política dos quinze centímetros. – deu um piscar de um olho só e colocou um dedo sobre a boca, num sinal de silêncio.

  – O que é essa política dos quinze centímetros? – por um momento ignorei o fato de que minha mãe já sabia sobre mim e Wei Chen, e que até mesmo estava me dando cobertura com relação ao meu pai. Não que ele fosse ser contra alguma coisa, viver estre estadunidenses fez meus pais bem menos conservadores em comparação à cultura deles, e mamãe sequer permitiria que ele dissesse algo ofensivo; mas certamente haveriam restrições como essa tal da política dos quinze centímetros. 

  – Porta no mínimo quinze centímetros aberta. – ela encarou meu olhar desacreditado. – Só para ter certeza de que não estão fazendo nada impróprio. – concluiu ela.

  – Mãe! – senti meu rosto esquentar enquanto ela ria de mim, terminando de configurar a máquina de lavar.

  – Não esqueça que eu já tive a sua idade – esfreguei as mãos no rosto para tentar dissipar o sangue que se acumulava na região –, ligue logo para o seu namoradinho, Jin. Enquanto isso eu preparo pipoca para vocês. – e partiu em direção a cozinha.

  – Não chama ele assim, mãe!

  – Seu pai certamente vai chamá-lo dessa forma quando souber! – gritou da cozinha, seguido de uma gargalhada.

  – Eu não quero derrubar nem caçar pássaros-sol. – sua voz me tira da recordação de alguns meses atrás.

  – Como assim?

  – Se eu derrubar nove pássaros-sol, significa que vou ganhar o elixir da imortalidade, então você vai bebê-lo todinho e logo irá para a lua. Eu prefiro ter você aqui na Terra, comigo.
Sinto o ar sair de meus pulmões e minha boca automaticamente secar após suas palavras, com a intensidade com a qual ele as disse, encarando-me como se pudesse ver além de minha alma por entre meus olhos.

Talvez ele possa.

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American born chinese merece mais fama. Não mexam conosco, somos um fandom de 3 pessoas muito bravas!

Espero que não tenham estranhado tanto a estrutura da escrita. De uns tempos para cá eu me acostumei a ler fanfics no AO3, e lá eles utilizam muito apenas aspas para sinalizar falas, acabou que tive dificuldades em voltar a escrever com hífen depois de tanto tempo.

Qualquer crítica construtiva é bem vinda.

°.'• ~ Vocês acham que foi preciso, ou não, aplicar a política dos 15 centímetro??

°.'• ~ O que vocês acham que o pai de Wei Chen vai fazer quando souber do relacionamento deles?

🌧 Bebam água.