capítulo 1

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A primeira vez que vi Andrômeda McShane, ela estava fazendo birra para não ir no carrossel

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A primeira vez que vi Andrômeda McShane, ela estava fazendo birra para não ir no carrossel. Ela queria, de um jeito ou de outro, ir na casa dos gritos ou na montanha russa, brinquedos obviamente proibidos para a nossa idade. E nem o senhor ou a senhora McShane pareciam interessados em acompanhá-la. Ou até mesmo animados em estarem ali.

Eles eram novos na cidade.

Aquele dia foi a primeira vez que Andrômeda me olhou também. Eu era a única pessoa que parecia prestar atenção em seu episódio dramático e estava óbvio de que ela não havia gostado disso. A perdi de vista quando a fila para o carrossel andou e eu entrei junto com meu pai, enquanto minha mãe havia ficado sentada em um banco perto do carrinho de algodão doce para alimentar Sienna, que havia acabado de completar seus dois anos.

Quando saí, não vi Andrômeda mais em canto nenhum, até as aulas do primário começarem, uma semana depois.

Andrômeda havia chegado atrasada no primeiro dia, usava um vestido cor-de-rosa de saia bufante, meias rosa claro e uma sapatilha purpurina. Os cabelos dourados estavam amarrados em dois coques com duas presilhas de borboleta e as pálpebras estavam cheias de glitter roxo.

Parecia uma boneca que havia acabado de sair da fábrica.

— Sorria para a professora, Andrômeda – sua mãe havia pedido calmamente, mas ela continuava com os lábios rosados contorcidos, olhando para fora da janela da sala de aula. Os braços cruzados diziam que não ia ceder tão fácil.

Depois de alguns minutos, Andrômeda se acomodou na única carteira livre na primeira fileira, acompanhada da professora que ainda tentava ganhar sua atenção, mas ela parecia interessada demais no que havia do lado de fora para focar em tudo que estava rolando dentro da sala. No caos que se tornava minuto após minuto.

No primeiro dia e nos seguintes, nós não trocamos uma palavra.

Todas as manhãs era a mesma coisa. Andrômeda entrava na sala de aula e corria até a janela e implorava para a professora deixá-la jogar com os garotos mais velhos lá fora, que ela já sabia como escrever seu nome, o alfabeto, contar até cem e quais cores se formavam se as misturassem bem. Ela queria aprender algo novo, não ficar presa dentro de uma sala de aula por quase um ano com crianças infantis e barulhentas demais. Burras demais. Ensinar aqueles garotos como dar um chute na bola ou um arremesso de verdade parecia ser algo mais interessante, ainda assim, a professora jamais permitiu.

Demorou duas semanas para Andrômeda entender que não iria sair da sala, mesmo que fosse bizarro ver Luke passar todo o tempo que tinha tirando meleca no nariz.

— Tem algo de errado comigo? — Ela perguntou de repente, aparecendo na minha frente como um raio.

Ela parecia irritada e por algum motivo a minha mão havia começado a tremer e suar, além de uma repentina vontade de ir ao banheiro.

— O que? — foi a única coisa que fui capaz de murmurar, nervoso.

Apesar da aparência fofa, Andrômeda dava medo.

— Não para de me olhar, está me irritando — respirou fundo e revirou os olhos, cruzando os braços.

— Desculpe.

Os garotos que estavam próximos a nós dois começaram a rir enquanto nos observava, não sei se por conta das roupas chamativas que Andrômeda sempre usava ou se pelo fato de eu estar encolhido e acabado de urinar na calça por ter sido intimidado por uma boneca.

Andrômeda olhou para os meus pés, balançou a cabeça negativamente e me deu as costas, se juntando com Chloe e Dove Lawrence, as gêmeas, as únicas garotas com quem ela parecia ter se dado bem.

Até nosso pequeno mundinho colidir.

Crianças podem ser crueis e Abby Fletcher era a prova disso.

Ela era a criança mais difícil de lidar entre todos na sala de aula, talvez até da escola, e com quem a maioria parecia não se dar bem – até mesmo os professores das outras turmas.

Por ser filha do prefeito da cidade, Abby agia como se o mundo girasse ao seu redor e queria que todo mundo movesse céus e terras para que todas as suas vontades fossem atendidas. E mesmo sendo irritante, ninguém ousava se opor às suas birras, principalmente quando ela havia feito a nossa primeira professora ser demitida, deixando claro que a cidade era seu império e a escola seu parquinho de diversões particular.

No entanto, nem todos pareciam querer satisfazer as vontades da princesa.

Nenhuma das suas atrocidades, tormentos e tentativas de tornar Andrômeda McShane em uma excluída pareciam funcionar e por isso Abby a odiava, mas não tinha nada que pudesse fazer, por isso direcionava seu ódio para alguém que não podia se proteger e em um desses dias, o sortudo havia sido eu.

Era sexta-feira, aula de artes e todo mundo estava agitado por conta do final do final de semana, já que o parque de diversões ainda não tinha ido embora. De alguma forma, eu tinha parado em uma mesa ao lado de Abby e Portia, que era tão mesquinha quanto. As duas estavam animadas conversando sobre algo e em um dos solavancos que as duas tinham dado junto a gritinhos irritantes, um dos lápis caro de Abby havia caído no chão.

Abby não havia percebido, então parei o que estava fazendo e o peguei. Luke, que estava de dupla comigo, me olhou rapidamente e voltou a rabiscar o que ele achava que era um lobo. Hesitante, cutuquei Abby, que ao ver que era eu, me encarou como se eu fosse a criatura mais horrenda do mundo.

— Você deixou cair — eu disse, com a voz trêmula.

Ela torceu o rosto e estapeou minha mão, derrubando-o outra vez.

— Está infectado, não serve mais — me deu as costas, voltando para o que estava fazendo. Portia riu.

Na semana seguinte, ninguém queria ficar perto de mim ou falar comigo. Todos abriam espaço para que eu pudesse passar e cochichavam para que eu não pudesse ouvir. Até mesmo Luke havia ido sentar em outro lugar, me deixando sozinho. No intervalo, não havia me restando muitos lugares para mim ficar se não a sala de aula, estava vazia e ninguém me olharia torto.

Foi então que Andrômeda se aproximou de mim outra vez, de repente, e não parecia irritada, talvez um pouco, mas não era comigo.

— Abby disse que você tem uma doença bem nojenta — ela esticou para mim um pedaço do seu sanduíche de peru — e disse que é contagioso.

Eu não respondi, com medo de que Andrômeda fosse igual e tivesse vindo até aqui apenas para mexer comigo. Mas vindo de Abby, esse tipo de comentário era esperado. Além de professora, uma aluna tinha mudado de escola depois de Abby dizer que ela tinha piolho.

— Você não fala muito — Andrômeda sentou do meu lado, encostando o ombro no meu.

— Não acredita nela? — perguntei, olhando para as minhas mãos.

Andrômeda deu um risinho e me empurrou de leve.

— Ela mente — se levantou — vem, vamos brincar, Chloe e Dove vão gostar de você.

Eu não estava certo se queria ou se deveria ir, ainda assim, segurei a mão de Andrômeda e me levantei. Ela me levou até Chloe e Dove, que estavam no parquinho em uma sala no final do corredor, as outras crianças falando baixinho sobre nós dois. Nenhuma das duas pareciam realmente empolgadas comigo, ainda assim, nenhuma se afastou ou teve nojo de mim e depois de algumas palavras, elas me deram a mão e a gente brincou até o último minuto.

Andrômeda, Chloe e Dove haviam sido as primeiras amizades que eu tinha feito depois de um mês sendo excluído e Abby Fletcher não havia gostado nada disso. Ainda assim, eu deveria agradecer a ela por ter sido uma completa idiota. Talvez, sem ela, minha amizade com Andrômeda e gêmeas não teria se tornado possível. Mas mal sabia eu que o pior estava por vir.

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