Prólogo

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"Do teu lado eu me sinto tranquila. Às vezes, me assusta esse amor avassalador. Você é algo que há muito tempo eu não via, há muito tempo eu não tinha. Cuidado que recém curou. Tem gente que amanhece com você, tem gente que é o seu amanhecer, tem gente que acontece nada a ver, tem gente, e tem eu e você..."

IGUARIA | LUÍSA SONZA

LUCIANA

Qual a probabilidade de um encontro às cegas dar merda? Meu gráfico imaginário, construído a partir de experiências desastrosas com homens em aplicativos de relacionamento, sempre apontava para uma queda contínua. Arriscaria dizer que a chance de dar errado é impressionante: noventa e nove por cento.

A vida tinha um jeito engraçado de me foder, e não era da forma que eu queria. Sempre que disponibilizava meu precioso tempo para conhecer alguém diferente, tomava no cu... sem lubrificante.

Não imaginava que dessa vez pudesse ser diferente, apesar das intenções com o Xeque-Match serem outras, minhas ideias de jerico só me levavam a um lugar.

Porém, contrariando todo o meu histórico traumatizante, o destino resolveu colocar alguém em meu caminho, e ele mudou completamente as péssimas estatísticas que me perseguiram ao longo da vida.

Acontece que esse cara deveria ser apenas um objeto de estudo e não a quebra da maldição do meu dedo podre — para sermos sinceros, a maldição na verdade estava nas duas mãos.

Eu tinha um sonho e precisava escrever um livro abordando um tema um tanto quanto peculiar, mas que me colocaria no topo do mercado editorial. A chance era única e só conseguiria fazer isso dar certo caso seguisse o meu modus operandi.

Ser um contador de histórias pode parecer simples para quem não está no meio, mas na prática não é assim que funciona. Não consigo escrever sobre coisas que desconheço. Para todo assunto que abordo nos meus livros, faço uma pesquisa meticulosa, um trabalho de campo para explorar o melhor do tema escolhido.

Não é só putaria, como o público de leitores de outros gêneros pensa geralmente. As cenas de sexo correspondem a dez por cento ou menos. Ninguém transa o tempo todo. Quer dizer, alguns têm sorte.

A questão é...

A maioria dos autores pode não levar suas pesquisas a sério, mas eu levo e muito.

Impuseram que eu escrevesse um livro sobre sugar dating, no qual uma pessoa rica mima a outra, por excentricidade, fetiche ou status. Não necessariamente existe uma obrigação de envolvimento sexual. É tudo por dinheiro... ou pelo menos era o que eu pensava até conhecer o meu sugar daddy.

O que eu podia fazer além de arriscar?

Precisava de conhecimento e não sabia absolutamente nada a respeito quando aceitei a proposta da editora. Então, da minha necessidade de adentrar esse universo de açúcar para o maldito manuscrito, surgiu a brilhante ideia de fazer uma grande loucura.

A essa altura, poderia estar morta por arriscar a minha vida desse jeito, jogando a sorte ao vento, como a Jade, de O Clone.

Minha história com Rodrigo nasceu do mais puro ranço que alguém pode sentir por outra pessoa. Só que, de repente, sem que eu pudesse prever, nossa ligação evoluiu para algo que estava além do nosso controle.

Não fomos feitos para durar mais que um mês; ele tinha seus motivos para querer estar naquela relação, e eu os meus.

Transcendemos os limites de uma conexão puramente física e só enxerguei a razão ao entender que o amor e o ódio eram sentimentos complementares, separados por uma mísera barreira que só poderia ser derrubada quando duas pessoas se entrelaçassem de forma avassaladora e passional.

Corpo e alma, de uma hora para outra, se tornariam um só.

Acostumada com o pessimismo, não imaginei que um homem como ele pudesse se apaixonar por mim, e por muito tempo acreditei que nossa relação acabaria como a lenda indígena sobre a origem do Rio Amazonas.

O Sol era encantado pela beleza da Lua, que sonhava em se deleitar com o seu calor, mas pela distância de tempo e espaço entre os dois, chorava dia e noite por não ser capaz de tocar o amado. Eles jamais poderiam ficar juntos.

O amor ardente do astro rei queimaria tudo e a Lua inundaria a Terra com o seu pranto. A Lua apagaria o fogo e o Sol evaporaria a água. Então, só restou uma alternativa: se separarem.

Ela sofreu tanto que suas lágrimas correram por cima da Terra até o mar, que zangado, não deixou que seu choro se misturasse com a água salgada.

Foi assim que o Rio Amazonas se formou, pelas lágrimas da Lua.

E se Rodrigo é o Sol para as tempestades que faço em copo d'água, iluminando os meus dias com sua alegria e bom-humor distorcido, eu deveria ser a Lua — destinada a conviver com a melancolia para sempre.

Mas, na verdade, sou como a chuva. Porque depois de encontrá-lo, meu mundo não se destruiu com o seu calor, longe disso. Minha vida se tornou mais colorida, como um maldito arco-íris depois do temporal. E não importavam os percalços que tivemos que passar ao longo do caminho...

Um encontro às cegas após dar match com um desconhecido foi a melhor coisa que já me aconteceu, mesmo que tivesse dado muita merda antes de dar certo.

Ah!Você não está entendendo nada, não é mesmo? Vamos recapitular...

Uma Aposta Irresistível | |#DeuMatch (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora