- CONTO I -

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𝘈𝘮𝘰𝘳, 𝘝𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘦 𝘝𝘦𝘯𝘦𝘯𝘰

Sinopse: Cassandra é uma mulher casada, ela não tem uma boa relação com seu marido há algum tempo, e após uma descoberta, ela decide por um fim nessa relação que ela se sente presa e sufocada, porém ficando junta para sempre seu companheiro...

Era 22 de fevereiro, eu havia acordado às 5:00 horas, preparei o café da manhã do meu querido esposo, ele se serviu, enquanto mexia no telefone e não dizia nada para mim enquanto eu observava ele atentamente, ele não fazia questão de olhar ou perceber minha mera existência. Essa era minha rotina matinal nos meus últimos longuíssimos cinco anos ao lado dele.

No começo não era assim, ele era menos incompetente com nossa relação, antes eu era sua amada esposa e agora eu era uma espécie de funcionária que apenas estava ali para servi-lo, eu não sabia como reagir a isso, mas era sufocante e fazia com que eu me sentisse limitada a uma vida rasa.

Ele terminou de comer e foi até o banheiro, escovou os dentes e saiu, - Tô indo! - foi a única frase que ele me disse, era o que eu mais ouvia dele durante muito tempo. Eu nunca reclamei, seria um desespero por atenção, e isso é patético.

Eu me levantei da cadeira e peguei os pratos e os talheres, minha mente submersa nos pensamentos sobre como eu estava tão só, sem ninguém, mesmo casada com alguém que havia prometido estar ao meu lado durante a nossa vida... Mas casamento é sobre isso, promessas falsas.

Ninguém se importa, eu não me importo.

Eu estava andando até a pia, para lavar a louça, ir para a sala e assistir TV e fingir que estou feliz, mas na verdade penso em maneiras de como rachar o crânio de meu querido esposo.

Talvez eu esteja louca, ou apenas cansada.

Eu ouço uma vibração, e o celular dele toca sobre a mesa, uma vibração constante, provavelmente uma ligação, ele nunca havia esquecido o celular, e eu nunca me importei com isso.

Eu deixei a louça dentro da pia e acelerei uns passos até a mesa, a vibração da chamada parou, eu apoiei minha mão sobre a mesa e olhei diretamente para a tela do aparelho, acabava de chegar duas mensagens; "cadê você??" Foi a primeira que li, foi como um pequeno corte na minha mente, uma fiscada de curiosidade, "vem aqui em casa, não quero ir até esse prédio barulhento só pra te ver e sair com dor de cabeça" essa foi como um corte rubro em minha garganta, pois fiquei sem ar.

Eu levei meus olhos até o nome do contato, era o nome de uma das colegas de trabalho dele, o "prédio barulhento" era o local onde ele trabalhava.

A porta de repente se abriu. Ele estava desesperado e ofegante, devia ter corrido duas quadras nesse meio tempo que lembrou que havia esquecido o maldito telefone. No mesmo instante eu passei as duas mensagens para o lado e desliguei a tela.

- Eu esqueci... - ele começou.

- Seu celular, amor - eu disse calmamente, e levei o aparelho até ele, com um sorriso de canto. Ele pegou e então saiu novamente. Como se nada estivesse acontecendo, e eu fosse a boa esposa que faria os serviços de casa e preparava sua comida, porém hoje seria sua última refeição. A nossa última refeição.

Horas mais tarde...

Era 18:00 da tarde, eu havia preparado um pequeno jantar, algo elegante. Uma mesa redonda, duas taças de seu vinho favorito, chamado Casillero del Diablo, e uma cestinha de uvas e um cacho de uvas verdes. Algo básico, porém Visceral e letal.

Eu estava no banheiro, coloquei um vestido não tão curto mas era vermelho como rubi, ele havia me presenteado a duas semanas, no nosso quinto aniversário de casamento. Passei um batom vermelho escuro, mas era como sangue fervente.

Ele estava quase pra chegar.

Eu fui até a mesa na sala de jantar, o sol da tarde raiava com fervor, e então me sentei. Um, dois e três, eu contei, no três, à porta se abriu lentamente, ele apareceu.

Parecia cansado, ele fechou a porta, e de maneira automática, ele foi até o banheiro, não percebeu minha existência, não me importei, pois logo ele só pensaria em mim.

- Amor, venha aqui - eu disse suavemente.

- Vou tomar um banho primeiro - ele respondeu sem ânimo.

- Não, vem agora - falei, não mudei o tom.

- Sim... - ele respondeu, deu uma leve bufada e foi até a mesa, reparou no que eu havia feito e me olhou, - Se quisesse sair para um jantar era só ter me avisado - ele sugeriu, eu ignorei e disse;
- Apenas se sente, precisamos de algo só entre
nós...

Ele assentiu e fez o que eu disse.

- O vinho é seu favorito - Informei ele. Enquanto pegava uma uva e petiscava.

Ele pegou a taça e quando cogitou beber eu o interrompi, - Calma, vamos brindar! - Ele concordou.

Pegamos a taça e as aproximamos uma da outra.

- Sei que nossa relação está complicada, é normal até, todo relacionamento passa por problemas de interações, e nós vamos vencer isso, juntos, não vamos? - Eu olhei para ele ao terminar de dizer, com um olhar falso de encantamento, loucura disfarçada.

- Nós iremos, querida - Então brindamos, ele levou a taça até a boca e tomou um trago do vinho.

Eu apenas observei sorrindo enquanto sentia o gosto quente da bebida descendo pela minha garganta.

- É, nós iremos, querido, mas será apenas eu e você, sem outras, sem colegas de trabalho, sem opções momentâneas quando estiver fora
de casa - eu falei, e passei meus dedos sob a mão dele.

- Como assim? - ele disse, e então tossiu.

- O que você não entende, amor? Só eu e você, seja para onde formos, como prometemos no nosso casamento, juntos na doença, e na morte... - ouvi ele tossir mais algumas vezes enquanto eu falava.

- O seu fará efeito mais rápido, eu me certifiquei que não fosse tão doloroso, mas que não fosse tão rápido! - me referi ao veneno que coloquei em sua bebida e na minha.

- Maluca! Você é louca! - ele berrou, colocando as mãos em sua garganta, como se isso fosse fazer a sensação de queimação em sua carne parar, admito, foi satisfatório ver ele sofrendo, os olhos ficam vermelhos, a pele mais roxa a cada instante, o sangue escorrendo pelo nariz, sua cabeça caiu sobre a mesa, o baque fez sua taça cair, eu logo virei a minha bebida.

Então eu comecei a falar enquanto ouvia os sons de espasmos dele, de agonia e dor.

- Ficaremos juntos, para sempre, seja no inferno, no paraíso, no vazio, não sei para onde iremos quando morrermos, mas sei que estaremos juntos, pois se nascemos um para o outro, morremos um ao lado do outro, é tão poético, né? - eu ri de escárnio ao terminar de falar. Ele já estava morto.

Percebi o sangue escorrendo pelo meu nariz lentamente, minha visão estava embaçando, e de repente tudo ficou negro como o vazio da morte, mas estávamos juntos.

FIM

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⏰ Última atualização: Mar 27 ⏰

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