XVI - O fim

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Não foi fácil fugir de todo mundo durante uma noite inteira. Mesmo que todos estivessem cansados, queriam aproveitar aquelas horas, por mais que no dia seguinte precisássemos correr mais uma vez.

Essa manhã, as equipes de produção, filmagem e a banda tomaram café-da-manhã juntas. Cheguei atrasado na intenção de não esbarrar com Frank, mas ele nem chegou a aparecer, pelo que soube. Fiquei me questionando o motivo, mas só conseguia pensar em coisas terríveis.

Talvez ele estivesse fugindo de mim também.

Foi assim a dinâmica do dia. Uma dor de cabeça me afligindo o tempo inteiro, por mais que eu nem tenha bebido o suficiente para ficar de ressaca. Depois horas dentro de uma van, balançando e distante do mundo.

Todos passaram o tempo todo me fazendo questionamentos, mas tenho certeza de que minhas respostas foram as menos esclarecedoras de todas – o que não foi intencional.

Gravamos com as bandas participantes do festival e fizemos entrevistas. Foi o único momento em que Frank e eu nos esbarramos. Ele havia me mandado algumas mensagens, mas meu estado de apatia não me permitiu responder, ainda mais percebendo o tom natural com que ele as havia escrito.

Quando terminamos a filmagem com ele, o cara se aproximou de mim, como se nada tivesse acontecido, apenas uma pequena expressão de estranheza. Nós não costumávamos demonstrar muita intimidade em público e evitávamos até conversar demais, mas acho que a situação o fez vir.

— Talvez você devesse olhar suas mensagens — ele sorriu simpaticamente e piscou um dos olhos para mim.

Eu não quis demonstrar disponibilidade demais, mas, ao mesmo tempo, que diferença faria? Era melhor tirar a história toda a limpo o mais rápido possível.

Então eu olhei. A última dizia: "camarim 8, 4:45". E foi assim que eu me vi caminhando pelas instalações desse lugar. Tão parecido com tantos que nós percorremos durante as últimas semanas, mas é como se eu estivesse vazio. O que eu estava esperando, afinal? Definitivamente eu não vou ter coragem de contar essa história para Evan tão cedo.

Olho para os lados, observando se há outras pessoas por perto, mas ele não seria burro de escolher um lugar movimentado, afinal Frank é muito bom em esconder coisas. Tão bom quanto eu nunca vou ser.

Bato na porta brevemente e seguro a maçaneta. Automaticamente respiro fundo, me preparando para qualquer coisa. E lá está ele com seus jeans destruídos e camisa de flanela. Acho que ele nunca mudou. Por que uma pessoa tão bonita precisava foder tanto com a minha mente?

Então ele está se aproximando e eu vejo sua face moldada em aflição, mas sou eu quem está aflito, embora pareça distante. A realidade é que eu estou cansado. É como se uma carga do tamanho de uma ilha estivesse na minha cabeça.

— G, tá tudo bem? — ele me olha com preocupação, mas eu não consigo sentir nada nesse instante.

Acho que nunca estive tão decepcionado, tão descrente da vida e de todas as coisas no universo. Por que os seres humanos são tão deploráveis?

— Eu queria ter falado com você ontem e você simplesmente desapareceu...

Não consigo deixar de sorrir com sarcasmo.

—Isso deveria ser normal pra você — respondo com a sensação de que há algo preso na garganta, algo impossível de expelir.

— Do que você tá falando? – seus olhos parecem maiores e é óbvio que ele não lembra. Nós nunca lembramos direito do mal que fazemos aos outros, mas somos incapazes de esquecer o que acontece conosco.

— Já esqueceu que me deixou sozinho na primeira festa em que nós fomos? — digo sem pensar, sabendo que não deveria ter dito, afinal é meio ridículo e faz tanto tempo.

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