Segundo a primeira lei de Newton, também conhecida como princípio da Inércia, um corpo em repouso tende a permanecer em repouso enquanto um corpo em movimento tende a permanecer em movimento constante a não ser que uma força atue sobre ele. A notícia sobre a criação de uma nova equipe de Hackathon composta exclusivamente de mulheres se espalhou de forma exponencial pelos corredores da universidade.
Primeiro, ela chocou praticamente todos os cursos de exatas e logo em seguida os cursos de humanas estavam rindo e aplaudindo a nossa iniciativa de criar um grupo que enfrentasse os padrões machistas da nossa sociedade (leia-se homens héteros de exatas). Veja bem, quando eu criei as Hackathon Girls meu objetivo não era fazer alarde. Eu apenas queria continuar no jogo. No jogo que eu iniciei ao lado dos Godzilla Hackerz, simplesmente a melhor equipe do estado. E agora eu virei um tipo de deusa feminista vingadora dos oprimidos. Eu nem sei o que isso significa!
Como se já não fosse ruim o suficiente ter que sentar ao lado do meu melhor amigo, Kaique, em todas as aulas sabendo que todos esperam que nós sejamos grandes rivais. Tipo, galera, as coisas não são tão preto no branco assim. Isso aqui é a vida real, não o twitter. Mas como eu vou explicar para cada pessoa, que eu nunca vi na vida, me cumprimentando por estar lutando contra o patriarcado opressor? Socorro!
Se um deles realmente me perguntasse o porquê eu ter feito isso talvez a resposta não seja nem um pouco igual à que eles esperam. Mas se isso significa que eu não vou mais precisar fugir igual louca do bandejão toda vez que eu vejo alguém minimamente se parecendo com um hippie (e ir me enfiar num banheiro no prédio da administração), tô dentro. Talvez eu suborne alguém do prédio de comunicações para publicar minha verdadeira história no jornal do campus. Não é uma história grandiosa nem nada do tipo. Mas ela começa como grande parte das histórias com uma ação e uma reação.
Quando eu entrei na faculdade de computação minha família ficou muito feliz. Meus pais são pessoas bem simples que não puderam continuar com sua educação. Minha mãe sempre quis que eu seguisse os passos da irmã mais nova dela. A primeira da família a ter uma graduação. A minha família nunca entendeu realmente com o que minha tia trabalhava, mas todo mundo sabia de pelo menos uma coisa: era com o computador. Por isso, quando entrei no meu curso, minha mãe me olhou com lágrimas nos olhos e me disse que estava muito orgulhosa.
Mas o fato é que ninguém te prepara para o quão exaustivo vai ser. Estar sozinha num ambiente hostil. Principalmente se você for uma pessoa que saia do padrão homem, cis, hetero e branco num curso de exatas. Então quando eu estava há um passo de ter uma sobrecarga mental no meio do primeiro semestre conheci Kaique. Kaique é do meu curso e ele entende o fardo que é ter pais que não entendem o que você faz. Para os pais de Kaique, computação é algo que as grandes corporações inventaram para desviar os jovens do que realmente importa. Tipo serem médicos iguais a eles.
Quando Kaique apareceu com a proposta de formar uma equipe de Hackathon precisei fingir entender do que se tratava. Ah sim, Hackathon tipo aquele negócio de filme americano? Nem sabia que isso existia no Brasil! Mas conforme o tempo foi passando e nós fomos avançando no campeonato percebi o quão legal uma equipe de Hackathon pode ser. Bom, isso até precisarmos de novos membros para as competições mais importantes. Foi aí que tudo começou a desandar.
Um dos integrantes novos, Izac, é do tipo de cara que nós, garotas das áreas de exatas, gostamos de chamar de homem involuído. Sabe, aquele tipo de cara que não gosta de ser passado para trás por alguém do "sexo frágil". Bom, ele não gostou nem um pouco quando descobriu que eu também estava na equipe. E não é nem pelo fato dele ser um tremendo de um escroto, mas Zac e eu nos conhecemos antes mesmo de sequer existir uma equipe de Hackathon.
Zac namora, ou melhor, namorava uma menina da minha república. Gabi é uma menina doce e retraída. Sempre que eles estavam juntos sentia que ela ficava desconfortável, pois ele sempre a pressionava a fazer coisas que ela não estava a fim. Não gosto nem de pensar em como ele tratava ela quando eles estavam mais sozinhos. Porém um dia, uma das meninas da república, Vic, convocou todas para interceder por Gabi e seu relacionamento tóxico. Aquele dia eu senti que finalmente estávamos praticando um pouco de sororidade no campus, mas nunca mais nos falamos desde então.
Foi então que minha briga épica com Zac durante uma competição resultou no meu afastamento voluntário da equipe. E assim, eu reuni todas as garotas da minha república novamente. O objetivo era criar uma equipe de Hackathon apenas com mulheres. A República Andorinhas é repleta de garotas nerds que não aguentam mais serem tratadas com desrespeito dentro das áreas de exatas, não precisei vasculhar muito para encontrar voluntárias.
Dei prioridade para aquelas cujo na grade curricular dos seus cursos constava programação, como a Vic e a Cecí, e depois para aquelas que já tinham um conhecimento básico de programação, como a Lalau, e por último aquelas que não sabiam muito bem, mas se mostraram muito interessadas em aprender, como a Mands. Me senti na obrigação de colocar a Gabi na equipe, quando propus a ideia pra ela seus olhos brilharam tanto quanto os meus só de imaginar ver a cara que o Izac iria fazer. E assim nasceram as Hackathon Girls.
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Hackathon Girls
RomanceTrix enfrenta um dilema como muitas outras garotas das áreas de exatas: Não ser levada a sério. Frequentando um curso onde a maioria dos alunos são garotos, ela se sente deslocada com exceção da companhia de seu melhor amigo, Kaique. Os dois decidem...