Trovões

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Três da manhã.
O quarto estaria em completo silêncio se não fosse pelas gotas de água, que davam início a uma tempestade, se chocando com força contra a janela de vidro e pelas batidas desesperadas de um coração que guardava tantos segredos para si só.
Naquela noite, a cama era ocupada por duas pessoas. Duas pessoas que tinham tanto a dizer mas ainda assim se recusavam a segredar seus sentimentos mais profundos.
Beomgyu, que até agora estava encarando um ponto especifico do teto, assim como Taehyun, suspirou pesado ao que direcionou toda sua atenção para o melhor amigo, que reparou, mas permaneceu imóvel, temendo que uma respiração calculada de maneira errada fosse o suficiente para derrubar todas as suas barreiras que se dedicou a construir durante anos e anos.

 — Você tem medo de trovões? — Uma pergunta em sussurros foi feita por Beomgyu.

 — Hm? — Questionou Taehyun, mesmo que tivesse entendido o que lhe fora perguntado, agira por força de hábito.

 — Perguntei se tem medo de trovões, tempestades, relâmpagos... essas coisas. — Enquanto ainda falava voltou-se na direção do mais novo alí, o encarando, esperando pela resposta.

 — Ah... Costumava ter quando criança. — Engoliu em seco pela presença de Beomgyu que parecia lhe engolir por inteiro, confundindo todos os seus sentidos com o aroma doce que exalava naturalmente.

Beomgyu murmurou algo como "oh, entendi" e o silencio voltou a tomar conta do cômodo escuro, como se há pouco mais de dez minutos atrás eles não tivessem compartilhado lágrimas resultantes de risos incontroláveis.
Taehyun, decidido a colaborar de uma vez com a atmosfera confusa que havia se criado entre eles, fixou o olhar no garoto deitado ao seu lado, sendo recebido com um par de orbes escuras e enormes que pareciam estar tão, tão perto.

 — Por que me perguntou isso? — Sussurrou, como se estivesse lhe contando um de seus segredos mais importantes.

De primeira, Beomgyu não respondeu, o que fez Taehyun se perguntar se talvez havia falado baixo demais, porém, o pensamento não durou muito ao que a voz alheia soou no quarto, tão baixa quanto a sua.

 — Não sei. — Sorriu. Pareceu ser a resposta certa, apesar de não ser realmente verdade.

Taehyun queria que voltassem há alguns momentos atrás onde riam feito duas crianças se divertindo com brincadeiras bobas.
Beomgyu queria que ele o beijasse.
Mas nada disso aconteceu. Mais alguns minutos se passaram.

 — Beomgyu.

 — Sim?

Taehyun não voltou a falar, encarando o teto na mesma posição de minutos atrás.
Quando ia lhe perguntar mais uma vez o que tinha para dizer foi interrompido.

 — Eu te amo. — Taehyun era estúpido. Tudo isso não passava de uma estupidez enorme. Se achava cada vez mais estúpido a cada segundo que não ouvia nada em resposta vindo de Beomgyu.

Conformando-se de que não já não ouviria coisa alguma, temendo até mesmo voltar a olhar para o amigo, se virou completamente de costas para o outro garoto, determinado a dormir por um dia inteiro, ou ao menos até que este já não estivesse mais alí (provavelmente no início do dia, como era de costume ser feito).
Mas, no outro lado do colchão, por debaixo das cobertas grossas, um coração batia rápido demais, palavras não conseguiam ser ditas e um sorriso bobo não saía dos lábios secos entreabertos. Queria perguntar se tinha ouvido certo, queria perguntar se tinha sido no sentido que tanto queria que fosse ou se era só um "sentimento amigo". Tinha medo da resposta.
Mas precisava saber, precisava dar esse passo e quebrar de uma vez por todas os muros que eles mesmos construíram ao redor de si próprios.

 — Me ama? — Levou a mão gélida, pela baixa temperatura, para frente dos próprios lábios a fim de conter o sorriso que insistia em se formar. — De que jeito? — Sussurrou tão baixo que mais parecia ser uma pergunta para si mesmo.

O coração de Taehyun palpitou de forma desconexa. Se sentia incapaz de responder à existência de Beomgyu. Mas alí, os dois precisavam das respostas para as muitas perguntas que foram mantidas arquivadas há anos.
Seu coração palpitou desconcertado mais uma vez ao sentir dedos frios e longos rodearem seu pulso, puxando seu corpo, chamando pela sua atenção, sem um mínimo esforço.
Então, mesmo com a respiração desregulada, com o coração pronto para escapar de seu peito a qualquer segundo, os olhos ansiosos se encontraram com as íris mais cintilantes já antes vistas.

— De que jeito, Taehyun? — Beomgyu voltou a perguntar, por mais que agora já estivesse totalmente certo da resposta. Mas essa não veio, não verbalmente.

O segundo seguinte passou como um feixe de luz, nenhum dos dois percebeu como e quando, mas seus lábios se juntaram de forma tão desesperada quanto seus corações estavam, como se já tivessem feito isso há anos e puderam finalmente se reencontrar depois de eras separados.

Saying something stupidOnde histórias criam vida. Descubra agora