•|Sentimento Desconhecido|•

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   Os dias passaram muito rápido desde a última vez que a vi, é como se as horas voassem diante de meus olhos e quando eu menos esperava, já estava anoitecendo e tinha de voltar para casa. Embora tenha passado grande parte do meu tempo no vilarejo e caminhando por entre as árvores ainda tinha ela em meus pensamentos, principalmente quando me deparava com as cachoeiras que cercam nossos reinos, aquele tom esverdeado que me lembrava o de seus olhos, porém não tão brilhantes quanto os dela, era impressionante o quanto ela tinha me marcado justamente na primeira vez que a vi, sinto como se já nos conhecêssemos, mas ainda sinto estranheza e timidez perto dela, claro que isso é normal, nos vimos apenas uma vez só que parece tudo tão familiar, nem o silêncio é constrangedor, é apenas um silêncio o qual nenhuma de nós se atreve a falar nada por causa da estranha calma e conforto, mas me sentia nervosa ao encostar em sua mão ou falar qualquer coisa muito alto, o que também aparentava ser um problema para ela já que seu tom de voz era tão doce e baixo que eu mal conseguia escutá-la.

   Em algumas horas seu pai e ela estariam em frente a nossa porta e eu nem sei como vou recepcioná-los, não quero parecer estar nervosa quanto a tudo isso. Quanto mais eu ando pelo meu quarto mais lento os segundos e minutos passam, o que parecia estar voando sem eu perceber agora parecia uma lesma tentando escalar uma sequoias.

   Depois de algum tempo dando voltas e voltas pelo meu quarto eu decidi descer, e que ideia ótima, porque assim que coloquei meus pés no último degrau pude ver meu pai abrindo as grandes portas decoradas com pequenas labaredas de vidro nas laterais, andei calmamente até a entrada e me posicionei ao lado da minha mãe que se virou para me dar um beijo na testa. Os cavalos frearam e pude ver o cocheiro abrindo a porta da carruagem, de lá, saiu Dionísio, com seu cabelo preso em um pequeno meio rabo usando um tipo de roupa azulada bem parecida com a que meu pai utilizou no dia em que fomos visitá-los e logo em seguida, segurando sua mão, Samantha desceu cuidadosamente, ela usava seus cabelos presos em um coque com apenas duas longas mechas soltas na frente e um vestido levemente decotado não muito rodado:

- Amir, Dandara, como é bom vir aqui novamente. Quantos anos fazem desde a última vez? - Dionísio fala subindo as escadas ainda segurando a mão de Samantha que com a outra mão parecia querer cobrir seu rosto.

- Acredito que desde que Dandara e Yara engravidaram - meu pai o responde cumprimentando ele com um abraço e Samantha com uma reverência, e eu só olhava me perguntando quem poderia ser Yara.

   Senti o clima pesado, então não me atrevi a perguntar quem seria tal mulher cujo nome era tão belo. Vejo minha mãe dando um cutucão no meu pai que se curva diante de Dionísio pedindo desculpas:

- Está tudo bem Amir, ainda sinto sua falta, mas a carrego comigo em meu colar - ele diz segurando um pingente em formato de gota com o que parecia ser algum tipo de poeira acinzentada dentro.

- Samantha, minha filha, diga ao menos um "oi" - Dionísio fala mudando de assunto e dando um puxão na filha.

- Oi... - ela diz de uma forma quase inaudível.

   Meus pais se curvam diante dela e eu faço o mesmo. Assim como da vez que fomos para seu reino nossos pais ficaram conversando na entrada por alguns minutos, enquanto nós duas apenas curtimos nosso tão agradável silêncio apenas olhando uma para a outra, claro que não era um completo silêncio já que a conversa ainda podia ser ouvida em alto e bom tom, mas ainda assim eu chamo de silêncio. Nesses poucos minutos consegui observar mais detalhes de sua pele, inteiramente coberta por sardas que eu apelidei em minha mente de estrelinhas e uma pequena mecha branca em meio aquele mar alaranjado, eu olhava atentamente cada parte de seu rosto e ela também parecia analisar minuciosamente o meu:

- Meninas? - escuto a voz da minha mãe - Vamos entrar?

- Ahn? Ah, sim, claro, já estamos indo - eu balanço um pouco a cabeça como se estivesse tentando voltar para a realidade.

Juntas Até a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora