Dia chuvoso

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   Levanto a mão, o professor pede que eu fale.

  - Então vamos apresentar esse projeto pra turma? Quer dizer, vamos ter que mostrar nosso curta metragem para todos?

  - Exatamente, Will. - Meu professor responde. Ele trabalhou como diretor a alguns anos atrás, não lembro o nome do filme, mas acho que nem chegou a ser lançado. - Este trabalho valerá toda a nota desse bimestre, portanto, se esforcem!

  Todos começam a guardar suas coisas. O horário do curso terminou. Coloco meus fones de ouvido, saindo da sala com minha mochila.

   - Tchau professor! - Eu grito por cima do ombro, acenando sem olhar para trás.
Desço as escadas, suspirando quando vejo a chuva caindo fora do prédio.

   - Curitiba não deixa barato né cara? - Eduardo diz, parando ao meu lado. Ele passa a mão pelos cabelos platinados na altura do queixo.
  Não gostei dele ter platinado o cabelo. Não ficou amarelado (felizmente) , mas cabelo platinado só funciona para personagem de livro. 

  - É.. também não trouxe guarda-chuva né?

- Claro que não trouxe, estava sol quando saí de casa! - Eduardo resmunga. Ele começa a olhar ao redor, procurando um lugar para ficar. - Por que não esperamos um pouco aqui mesmo? Certamente não vai durar muito. - Ele se senta ao lado da porta. 

  Suspiro e me sento ao seu lado, jogando minha mochila aos meus pés.

- Qual vai ser seu curta-metragem? - Eduardo pergunta, pegando a garrafa d'água da mochila.

- Queria fazer algo de suspense, e você?

- Não sei. Romance? Talvez assim consiga uma namorada - Ele ri. Sorrio, balançando a cabeça. - Não! Não ria de mim, estou em uma situação desesperadora! - Ele age dramaticamente. Dou risada, jogando a cabeça pra trás.

  - Não seja ridículo! - Quando olho para Eduardo, por alguns segundos, posso jurar que ele estava chorando, mas isso não faria sentido. Fecho e abro os olhos. Ele sorri pra mim.

- O que foi?

- Hm? Nada. Sei lá, acho que estou vendo coisas. - Passo a mão pelo rosto. Olho para a chuva, está quase parando. - Quer ir agora?

  - Claro. - Posso ouvir um tom de preocupação na sua voz, mas mesmo assim ele pega sua mochila e nós andamos para casa. Eduardo mora na rua de cima, então podemos conversar por algum tempo, mas não temos muito assunto, não hoje.

   Ando com as mãos no bolso por todo o caminho, ouvindo música. Toda terça-feira eu vou direto para o curso de Cinema e Audiovisual. Não entenda mal, eu amo cinema, mas são dias desgastantes pra mim.    
  Faltam alguns minutos para que eu chegue em casa. Vou começar a trabalhar nesse projeto agora.
   Abro a porta de casa, acenando para Eduardo enquanto ele sobe a rua.
 
- Estou em casa! - Grito para ninguém em particular e quanto tiro os tênis e fecho a porta, andando com eles na mão até meu quarto. Ninguém nunca responde, por que nunca tem ninguém em casa nesse horário. Mas meus pais chegam daqui a pouco, o que me dá algum tempo de silêncio para pensar sobre meu projeto.
  Me deito no tapete, os tênis estão jogados no canto perto da porta assim como a mochila. Olho para o teto, esperando que milagrosamente um roteiro se materialize para mim.

Fecho os olhos. Não percebi, mas acabei dormindo, e só acordo ao ouvir o barulho das chaves na fechadura, me levanto apressado, indo ver quem está na porta, mesmo já sabendo: minha mãe chegou.

  - Estou em casa! - Ela diz, abrindo a porta e deixando as bolsas no chão enquanto tira os sapatos.
  - Bem vinda ao lar! - Digo, com um tom de diversão, enquanto pego as sacolas do chão. Levo as sacolas pra cozinha guardando tudo em seu devido lugar.

  - Como foi no trabalho? - Digo, alto, para que ela escute.

  - Normal. - Ela caminha até mim, as tábuas do piso soltam um rangido estranho que não estava lá hoje de manhã.

- Ouviu isso? - Eu me viro em direção a porta, apenas para ver que minha mãe não se moveu nenhum centímetro, e que na verdade está organizando os sapatos no sapateiro.

  - Ouvi o que? - Ela olha pra mim, confusa.

   Eu pisco, uma, duas vezes. Estranho.
   - Não é nada mãe, esquece. - Dou risada. Acho que estou ouvindo coisas.

Desculpe, Ass: WilliamOnde histórias criam vida. Descubra agora