Capítulo 1

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Capítulo um

Meu nome é Alaska, tenho dezesseis anos e esse é o pior momento para alguém me conhecer. Bem, tirando os últimos meses caótico, não que antes eu fosse algum tipo de exemplo a ser seguido, definitivamente longe disso, acho que finalmente cheguei ao limite. Por que, sejamos honestos, um colégio interno?

Penso em cada momento que me levou, ou não, a estar encarando meu quarto pela última vez, pelo menos por um tempo. Penso no idiota que me relacionei e nos poucos meses de relacionamento que tivemos, penso em minhas amizades e em como sempre vivamos ao limite. Penso nas detenções, penso nas advertências, penso nas festas e nas escapadas pela janela.

Acima de tudo penso em minha mãe, em como não alcancei as expectativas dela e em como me sinto inútil por afetar a única pessoa que se importa de verdade comigo. Penso nos nossos momentos juntas, penso em cada momento nesses últimos meses que passamos juntas, penso em como ela me apoiou e nunca me julgou, mesmo que eu esperasse tudo isso dela.

E é perdida em cada um desses pensamentos que ela entra no quarto, sorrateiramente, se senta ao meu lado não se atrevendo a entrar em meu casulo de cobertas.

- Vamos Alaska, você não pode se enterrar nesse buraco depressivo para sempre. Você ainda tem muito a viver - ela diz com carinho

- Não é um buraco depressivo, é um estilo de vida - digo defensivamente apertando as cobertas ao meu redor

- Estou falando sério Alaska, me dói mais do que eu possa expressar tudo isso - diz se embrulhando e me abraçando - e estou tomando todas as decisões jurídicas cabíveis em relação a tudo, mas eu realmente acho que será a melhor opção. Você respira novos ares, tendo uma nova rotina.

- Não quero respirar ar nenhum, quero ficar no meu quarto sem nunca mais ter que olhar para ninguém e o único ser humano em cem metros ser você - digo fechando os olhos e desejando estar sonhando

- Filha, como eu queria te proteger de tudo isso, mas falando sério. Você precisa se formar Alaska. Essa foi a sexta escola apenas esse ano e estamos em março! Além disso, seu pai entrou com o pedido judicialmente para que você fosse para lá

- É uma piada - rio fraco - não esteve presente em toda minha vida e agora quer estar? Sério? No meu segundo ano do ensino médio? Babaca.

E é assim que cada momento que eu precisei dele e ele não esteve passa pela minha cabeça. Um looping infinito de dias dos pais, de festas nas escolas, festas de aniversário, dentes arrancados, chamadas na direção, conselhos nunca dados, abraços nunca sentidos e é claro aquele dia. Não que isso rode minha cabeça com frequência, aprendi cedo demais que a única pessoa que eu poderia confiar estava na minha frente, então, porquê sinto que ela está me abandonando também?

- Vai pode me dizer,  você cansou de mim não foi? - digo antes que ela possa responder

- Não cansaria nunca de você Alaska, mas estou cansada de te ver assim. Estou cansada de você se metendo em todas as brigas e confusões possíveis para ser expulsa e ter uma desculpa para ficar em casa. Estou cansada de ver minha filha perdendo o seu brilho bem na minha frente e sentir que não posso fazer nada - ela respira fundo e eu reparo que ela está chorando - estou cansada de ter medo de que a qualquer momento eu vá perder você, de ouvir você saindo escondido todas as noites pra beber e não saber se você vai voltar no outro dia, mas ainda sim querer respeitar e te dar o espaço que você precisa - ela termina já soluçando

- Que nada mãe, eles queriam mandar em mim e eu odeio isso - digo tentando amenizar o clima e lhe dando um leve empurrão

- Regras existem Alaska, o mínimo que você pode fazer é respeitá-las - ela diz  beliscando de leve meu nariz

Doce VenenoOnde histórias criam vida. Descubra agora