sete

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Segundas-feiras não são dias muito agradáveis para ninguém, porque custa sempre a arrancar uma nova semana de trabalho depois do fim-de-semana, mas a minha segunda-feira está a ser absolutamente terrível. Passo o dia todo mergulhada em papelada, a resolver burocracias e, em vez de conseguir adiantar os projetos que tenho em mãos, tive de voltar a rever projetos que já estavam concluídos por causa de problemas jurídicos e burocráticos que surgiram entretanto. Quando chega a minha hora de ir embora, sinto a minha cabeça prestes a explodir de cansaço, depois de tantas horas ao computador e a ler papeladas.

- Vou-me embora deste escritório que estou farta disto, hoje. – comento, num tom mal-humorado, com Tânia, enquanto arrumo as minhas coisas.

- Sim, tu hoje mal te levantaste daí. – ela observa – Conseguiste acabar tudo?

- Quase tudo. Mas amanhã de manhã acabo o que falta e já envio tudo direitinho. – respondo – Ainda ficas?

- Estou a terminar um projeto que tenho de enviar amanhã logo de manhã. – ela declara e eu assinto – Descansa!

- É mesmo isso que vou fazer! – sorrio-lhe – Até amanhã.

Saio do escritório dez minutos depois da minha hora, entrando no carro para me aventurar pelo caos do trânsito lisboeta em hora de ponta. Faço o meu caminho habitual por estradas secundárias, para evitar mais o trânsito, e é quando já estou quase a chegar a casa que o meu carro decide começar a fazer uns barulhos estranhos e acender uma luz vermelha que não é habitual, por isso acabo por encostar num sítio tranquilo. Desligo o carro e quando volto tentar a ligá-lo ele já nem pega.

- Não acredito nisto... - murmuro entre dentes, falando sozinha.

A primeira coisa que faço é ligar ao meu pai para lhe perguntar o que faço, visto que, apesar de não ser mecânico, ele percebe alguma coisa de carros. Ele diz-me que acha que é um problema no motor – o que me deixa logo alarmada, porque é algo que vai demorar algum tempo a arranjar certamente e que me vai ficar caro – e que o melhor mesmo é acionar o seguro e chamar o reboque. Depois de desligar a chamada com o meu pai, ligo para o seguro a explicar a situação e eles informam-me que irão enviar o reboque, mas que irá demorar algum tempo a chegar. Desligo a chamada com frustração, fazendo todos os procedimentos que o seguro me indicou, para que o carro fique devidamente sinalizado e eu fique em segurança enquanto espero pelo reboque.

Estou à espera já há cerca de vinte minutos, a desesperar enquanto rogo pragas ao Universo, quando vejo um BMW preto parar em frente ao meu carro. Não reconheço o carro, por isso imagino que seja alguém que precisou de parar por qualquer outro motivo ou alguma alma caridosa que resolveu verificar se eu preciso de ajuda. Logo após imobilizar devidamente a viatura, a tal "alma caridosa" resolve sair do carro e qual não é o meu espanto quando dou de caras com o Rúben a vir na minha direção.

- Olá. Estava a passar e reparei que eras tu quem estava dentro do carro. Precisas de alguma coisa? – ele pergunta.

- Estou só à espera do reboque... – respondo, encolhendo os ombros.

- Queres companhia? – Rúben pergunta, apanhando-me bastante desprevenida – Eles costumam demorar imenso, escusas de ficar aqui sozinha... Mas eu percebo se quiseres que eu vá embora. – acrescenta.

Estar novamente perto do Rúben deixa-me estranhamente nervosa, por isso demoro algum tempo a responder-lhe. Só que lembro-me das minhas próprias palavras, quando lhe disse que, se nos voltássemos a cruzar, logo se via o que poderia acontecer e é por isso mesmo que eu decido aceitar a sua companhia. Por isso, o Rúben ocupa o lugar do pendura ao meu lado.

Pontos Nos Is | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora