capítulo 3

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A primeira vez que eu vi Killian Moore eu não quis ser sua amiga

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A primeira vez que eu vi Killian Moore eu não quis ser sua amiga. Honestamente, ele era o tipo de pessoa que eu mais queria manter distância.

Além de ter visto a cena no parque da qual eu me envergonhava sempre que o via, Killian passava a maior parte do tempo recluso na sala de aula em modo defensivo e isso me irritava. Nem mesmo de Luke Catarrento ele havia conseguido ser amigo, como se até ele fosse alguma espécie de ameaça.

Eu nunca gostei de pessoas assim.

E depois dele ter feito xixi nas calças na única vez em que o dirigi a palavra, tive a certeza de que Killian não era a criança certa para andar comigo. Ele era fraco.

No entanto, eu odiava injustiça tanto quanto odiava Abby Fletcher e ser amiga de Killian Moore era a maior ofensa contra ela depois de Abby ter decretado que ninguém deveria se aproximar dele. Depois de deixar claro que Killian Moore era um excluído.

Mesmo tão nova, Abby sabia ser cruel.

E eu adorava irritá-la.

Birra de criança é algo que nem nós mesmos somos capazes de entender. Nós nos ofendemos com pouco e queremos tudo aquilo que nos agrada os olhos. Cismamos com outras crianças por quase nada e como consequência disso queremos irritá-las a qualquer custo, desde roubar seus brinquedos favoritos a formar grupos sem elas.

Talvez tenha sido isso que tenha me motivado a deixar o incômodo que eu sentia por Killian Moore de lado.

Me aproximei cautelosamente dele depois de ouvir Abby espalhar para todos na escolinha que ele tinha uma doença nojenta e contagiosa com um nome complicado. Não passava de uma mentira.

Killian ficou em modo defensivo o tempo todo em que esteve comigo, principalmente quando o apresentei a Chloe e Dove, que também pareciam infelizes com a presença dele. Killian perto significava que ninguém iria mais querer brincar conosco ou chegar perto e isso era um pouco péssimo.

E mesmo assim eu insisti.

Não lembro exatamente quando ele relaxou ou quando comecei a gostar dele de verdade. Quando me dei conta, o ano tinha acabado e entramos de férias e eu só queria que as aulas voltassem logo para que eu pudesse vê-lo de novo.

Killian Moore era demais, ainda que me irritasse ás vezes.

🪐

Eu nunca fui uma criança fácil.

Meu pai dizia aos quatro ventos que eu havia herdado o gênio ruim da minha mãe e que se eu não tomasse cuidado, quando crescesse, eu iria me tornar exatamente igual a ela, que a inteligência e a fácil compreensão que eu havia herdado dele não seriam o suficiente para que eu me tornasse diferente.

Essas palavras me assombravam diariamente, mas mostraria a ele que eu era diferente.

Eu tinha que ser diferente.

Estávamos na nossa casa de verão em Los Angeles e apesar de estar de férias, eu não havia conseguido me livrar do mais importante: minha mãe.

Daphne McShane gritava incessantemente uma sequência de passos complicados e queria que eu os executasse perfeitamente, assim como ela quando tinha a minha idade.

Eu odiava balé e, às vezes, até minha mãe.

— Você precisa melhorar — ela disse, me rodeando com seus olhos de águia. O som do seu salto sobre o piso era torturante — Seu arabesque está horroroso! Se continuar assim, vou ter que trocar a sua professora de balé.

Eu tinha oito anos de idade, estava exausta e com fome.

— Mas eu gosto da professora Choi — eu disse, largando a barra e dando as costas para o espelho.

— Se ela não estiver fazendo um bom trabalho, ela não serve.

Às vezes, eu achava que ela deveria ser a mãe de Abby Fletcher.

Os passos pesados do meu pai irromperam no pequeno quarto que servia como estúdio. Ele vestia bermuda folgada, camiseta azul listrada e chinelos, o rosto cheio de protetor solar e tinha uma revista de negócios debaixo do braço.

— Ainda estão aqui? — ele perguntou, caminhando na direção da minha mãe na intenção de dar-lhe um beijo. — O sol está lindo lá fora! Saiam desse quarto e aproveitem a piscina.

Eu assenti, concordando completamente com a ideia.

— Andrômeda precisa de uma professora nova — ela disse, com ar de preocupação, ignorando-o.

Meu pai me encarou brevemente.

— A senhorita Choi desistiu? — ele franziu a testa e minha mãe negou.

— Ela não está sendo uma boa professora, Andrômeda quase não há melhora.

— Mas eu gosto da Nabi! — Protesto e ela me lança um daqueles olhares que ordena que eu fique calada. Mas não faço. — Estou cansada e tá' calor, não tomei nem café da manhã.

Meu pai arregala os olhos.

— Daphne!

Vejo minha mãe morder o interior das bochechas.

— Ela precisa de dieta, manter o corpo em forma.

— Ela é uma criança!

— É uma bailarina.

— É nossa filha e se quiser continuar tendo uma, melhor parar com essa coisa ridícula ou vai matá-la.

Irritado, meu pai pegou minha mão e me levou para a cozinha e me ajudou a subir na cadeira alta da bancada.

Minha mãe, pela primeira vez durante toda a viagem, havia ficado quieta e calada. Era um recorde.

Eu não conseguia entender nada do que meu pai resmungava enquanto, habilmente, me preparava um café da manhã reforçado. Mas claramente estava com muita raiva.

Inicialmente, ele havia me dado um copo de suco de laranja e alguns morangos. Pouco tempo depois senti o cheiro de panquecas de chocolate e fiquei animada, ainda que eu soubesse o que Daphne McShane fosse fazer depois para que tudo isso fosse embora.

No fim do dia eu estava exausta. Havia aproveitado de verdade as férias pela primeira vez e estava exausta. Mesmo assim, em alguma hora da madrugada eu me levantei atrás de água.

Minha mãe estava na sala, derramava lágrimas enquanto fazia uma sequência de passos iniciantes, gemendo de dor por conta do joelho machucado.

Quando terminou, ela sentou, ofegante e pegou uma foto com a qual sempre estava.

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