Vestígios de uma última chance.

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Desde que levaram meu alfa, eu não sabia o que deveria fazer para esperar o tempo de reabilitação dele. Eu já não sabia mais o que gostava de fazer, de comer, de conhecer… eu estava vivendo inteiramente para tentar salvar meu querido Jimin das drogas.
Eu fui a igreja, depois de tanto tempo voltei a falar com Deus, implorei por cura em nossas vidas.
Voltei a estudar, em casa mesmo. Tenho esperanças de conseguir voltar à faculdade um dia.
Eu fiz novas receitas, assisti séries, fiz tudo que era possível para me distrair ao máximo nesse período.
Ficar em uma mansão imensa não é fácil, várias lembranças a todo momento. O inverno foi cruel comigo, mas não tanto quanto as pessoas. Os julgamentos, as críticas, ninguém faz nada para ajudar apenas se sentem no direito de opinar alguma coisa.
Meus sogros nunca foram visitar o filho, sobrava para mim tentar inventar uma desculpa em todas as minhas visitas. Em todas as cartas que ele me mandava era sempre o mesmo final “eu vou sair daqui apenas por você”. Mesmo que eu fosse todos os dias lá, uma vez por semana ele me entrega uma cartinha dessas, uma forma de passar o seu tempo lá dentro.
Depois de longos oito meses eu já sentia que ele estava limpo, foi doloroso, a abstinência que ele passou foi forte, não era fácil conseguir falar com ele pois sempre estava sob efeito de remédios controlados para proteger a sua própria integridade física.
Doeu muito chegar lá apenas dois dias depois que ele foi internado, ele estava fora de si, louco por drogas, ele xingava todos, tentava agredir a todos que se aproximava dele, inclusive eu…
Mas hoje em dia é diferente, aqui, andando pela rua da clínica meu coração está ansioso e não receoso, hoje sairia os resultados do mês, ele vem melhorando cada dia mais, a nossa libertação está próxima, é o meu grande orgulho
Na recepção, até me parecia um presídio, vários esperavam para poder ver seus familiares que estavam lá dentro lutando contra algum vício. A diferença é que o único crime deles lá, foi quase destruir a si próprio e seus entes queridos. Aqui eu fiz muitas amizades, conheci histórias iguais e piores que a nossa, muito piores.
— Jeon — Olhei ao ômega que me chamou, era Taehyung, um querido…
— Uh, olá — sorri tímido — Já conseguiu ver seu alfa ou ainda vai?
— Sim, eu já fui lá, ele teve umas crises por causa da abstinência… — abaixou o olhar — tentou se matar.
— Minha nossa senhora do céu— coloquei a mão no peito, aquilo era terrível — Estarei na torcida por vocês, mande mensagem quando precisar conversar tudo bem?
— Obrigado — alisou o próprio braço — Ele sequer me reconheceu.
— Vai passar, como te falei, o Jimin passou por isso durante os primeiros dias de abstinência, ele não reconhecia nem eu e muito menos ele mesmo… mas hoje em dia ele está ótimo, então vai ser o mesmo com o seu alfa.
— Que Deus te ouça — por fim nos abraçamos em despedida, ele já estava indo embora. Enfim, fui pegar uma senha para aguardar. Aqui temos o direito de visitar uma vez por semana, mas todos os dias eu vou no horário que ele sai para o jardim, eu vou até a grade a espera dele e ele vem direto em minha direção. Ele pode ficar até três horas do lado de fora, é o intervalo de uma medicação para outra. É nessas horas que planejamos o amanhã…
— Park Jeon — ouvi meu nome e levantei em um pulinho, era hora de poder dar um abraço nele sem ter grades no meio.
— Sou eu— segui a enfermeira — Como ele está essa semana?
— Muito bem, Jimin está focado mesmo.
— Que bom— estava eufórico por dentro — Eu trouxe o bolo que ele mais ama, posso deixar ele comer sem problemas?
— Pode sim fofo, já te autorizamos disso — aquela enfermeira era um amor, sempre muito simpática e prestativa com a gente — Trazer essas coisas o faz ter mais força de vontade para terminar logo o tratamento.
— Fico feliz por conseguir ajudar de algum jeito — enfim chegamos no jardim, lá onde ele sempre estava me esperando sentadinho perto de um laguinho cheio de peixinhos — Obrigada enfermeira, vou lá ver ele.
— Até mais senhor Park Jeon — Fez uma referência e seguiu seu caminho. Eu fui em passos apressados até meu alfa, ele estava sentado de costas e demorou um pouco para me sentir, mas assim que percebeu ele se virou e sorriu.
— Oi amor — Falei já abraçando ele.
— Oi minha vida— alisou minhas costas suavemente — Que bom te abraçar, eu senti a sua falta…
— Estava com saudades também— já limpei meus olhos, a choradeira era inevitável.
— Acha que consigo sair logo?
— Vamos ter fé — alisei o rosto dele — Eu espero que sim…estou morrendo de saudades, lá em casa nunca esteve tão vazio quanto está agora.
— Quando eu voltar, vamos fazer logo um bebê,sim?
Do nada ele veio com aquilo, a primeira vez que me propôs tal coisa.
— Um bebê? — Fiquei um pouco triste — Eu não sei…
— não acredita na minha mudança ?
— Não é isso, mais do que ninguém eu acredito em você, na sua força de vontade, mas, um bebê… eu não sei ser omma.
— Jungkook, você sabe ser, muito bem inclusive — beijou minha testa — Me dá um filhote, por favor.
— Não agora… — abaixei o olhar, vi a tupperware com o bolo e ofereci, lógico que ele não negou.
Ficamos por ali todo o tempo que deu, logo o enfermeiro veio o buscar e nos beijamos em despedida.
Voltando pra casa, fiquei pensando no pedido que ele me fez, será se é o certo? Um bebê é algo sério, eu bem sei disso e se eu não for suficiente tudo vai acontecer novamente…
Entrando em casa, subi direto para o quartinho que era do nosso filho, tudo ainda estava do mesmo jeito de quando ele estava aqui com a gente, nunca tive coragem de embalar nada.
— Força Jeon… — Respirei profundamente tentando não chorar, tudo de ruim tinha que ficar para trás, apenas as boas lembranças poderiam ficar nessa casa.
E aos poucos, fui desmontando tudo que um dia montamos com tanto amor e ansiedade…
O quarto totalmente vazio era estranho, mas de alguma forma trazia um conforto, uma nova esperança.
— Ok, eu consegui — fechei a porta e fui tomar banho, nem iria comer, estava fazendo uma dieta para perder uns quilinhos.
A noite veio e consigo o silêncio rotineiro de todas as noites.

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⏰ Última atualização: Mar 30, 2024 ⏰

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Vestígios, a dependência || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora