Daisy
Essa garota — Ellie — agarra minha mão como se me conhecesse, e me arrasta atrás dela, como se eu fosse uma criancinha.
É exatamente como me sinto: uma criancinha em um mundo muito, muito grande. Não entendo nada e com certeza não reconheço coisa alguma. Enquanto ela me puxa pelos corredores discretos de uma faculdade qualquer, só consigo pensar que desmaiei. Desabei como uma donzela em apuros. E no chão do banheiro feminino. Que nojo. Estou avaliando minhas prioridades, me perguntando como meu cérebro consegue incluir germes na equação quando é tão obvio que tenho um problema bem maior.
De repente a luz do sol nos ilumina. Protejo meus olhos com a mão livre enquanto a tal da Ellie pega as chaves na mochila. Ela as segura acima da cabeça, apertando o botão do alarme. De algum canto distante do estacionamento, escutamos o som agudo vindo do carro.
Corremos até lá, com nossos sapatos batendo no concreto com urgência, como se alguém estivesse nos perseguindo. E poderia até ser verdade. O carro se revela uma caminhonete. Sei que é impressionante porque se revela mais alto que os demais, deixando-os parecer pequenos e insignificantes. Ou Ellie dirige o carro do pai, ou está nadando do dinheiro dele. Talvez ela nem tenha pai. Acho que ela também não saberia me dizer isso.
Como sei quanto custa um carro desses? Não tenho lembranças de quem sou, mas sei como as coisas funcionam — carros, regras de trânsito, os presidentes...
Ela abre a porta para mim enquanto observa a faculdade por cima do ombro, e tenho a sensação de que estou participando de uma pegadinha. Ela pode ser responsável por isso. Pode ter me dado alguma coisa que me fez perder a memória temporariamente, e agora só está fingindo.
— Isso é de verdade? — pergunto, me acomodando no banco da frente. — Você realmente não sabe quem é?
— Não — responde. — Não sei.
Acredito nela. Mais ou menos.
Ela analisa meus olhos por mais um instante antes de bater minha porta e correr para o lado do motorista. Estou me sentindo mal, como se estivesse de ressaca. Será que eu bebo? Minha carteira de motorista diz que tenho 19 anos. Mordo o dedão enquanto ela entra no carro e aperta um botão para ligar o motor.
— Como você sabia fazer isso? — pergunto, semicerrando os olhos.
— Fazer o que?
— Ligar o motor sem a chave.
— Eu... sei lá.
Fico observando seu rosto enquanto saímos da vaga. Ela pisca bastante, olha para mim com mais frequência e passa a língua no lábio inferior constantemente. Quando paramos no sinal, ela encontra o botão HOME no GPS e o aperta. Fico impressionada por ela ter pensado nisso.
— Redirecionando — diz a voz robótica de uma mulher.
Quero surtar, saltar do carro em movimento, me jogar de uma ponte e gritar na rua. Estou com muito medo.
✵
Sua casa é grande e bem rústica. Não tem nenhum carro na entrada da garagem e estamos paradas no meio-fio, como o motor da picape ronronando baixinho.
— Tem certeza que mora aqui? — pergunto.
Ela dá de ombros
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INERENTE; ellie williams
RomanceMelhores amigas desde a infância. Apaixonadas desde a adolescência. Desconhecidas desde essa manhã. Todas as recordações desapareceram... Ellie e Daisy precisam trabalhar juntas para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com elas e o porquê. Por...