I went looking for trouble, and boy, I found him.

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A brisa gelada do outono batia contra o torso praticamente nu de Mingi. A jaqueta aberta permitia que o vento mordesse sua pele diretamente, o fazendo estremecer a cada lufada de ar. Mas não tinha problema. Ele sabia que, assim que passasse pelos seguranças e pisasse naquele pequeno inferno particular, se sentiria tão quente que desejaria arrancar todo o resto de suas roupas.

A fila para entrar no seu bar underground favorito virava a esquina. Não era comum que estivesse tão cheio, mas a noite de Halloween atraía até o público que não era frequentador do local. Tão clichê, ele achava. Seu estilo de vida se tornava atrativo e popular nesse período, ainda que muitas pessoas torcessem o nariz durante os outros onze meses do ano.

Era garantida a presença de Mingi em todo final de semana no Lebanon Club. A cena gótica alemã, mesmo no interior, era forte, e ele se sentia mais em casa ali do que em qualquer outro lugar. Tinha a sorte de ser estrangeiro em um país acolhedor, sim, mas a falta de representatividade coreana nos espaços que ocupava o incomodava. Então, por mais que não tivesse encontrado seu grupo étnico, ele se sentia satisfeito em compartilhar seus gostos e paixões com uma tribo.

Quando finalmente conseguiu passar pela entrada, um portão guardado por duas pequenas górgonas iluminadas de baixo para cima, ele foi engolido pelas batidas de darkwave e luzes carmesim. Cada célula do seu corpo vibrava no ritmo da música alta, e ele já se sentia extasiado.

Sozinho, mas não por muito tempo, Mingi passou pela cortina de correntes que separava o bar principal do hall de entrada. As únicas cores que enxergava era vermelho e negro, luzes fracas derramando-se sobre a decoração gótica clássica. Ele se dirigiu ao balcão, escolhendo a mesma bebida que pedia todas as noites, uma mistura de vodka com framboesa e especiarias, alguns pequenos morangos presos na borda do copo. Após passar os olhos pelo local, reconhecendo as faces de mais da metade ali, ele desbravou boate adentro, em busca de seus amigos.

O clube dava a impressão de ser muito menor visto do lado de fora, mas parecia infinito uma vez que passasse do bar. Haviam vários cômodos espalhados como em um labirinto: uma área de fumantes aberta, um espaço para a venda de tudo o que se podia imaginar - roupas, acessórios, vinis -, uma lanchonete decorada com pôsteres dos principais artistas e obras góticas... Mas a parte favorita de Mingi era o calabouço.

Ele desceu as escadas, sentindo o volume da música aumentar em sua própria pele, e a coloração escarlate deu espaço ao negro com luzes brancas piscantes. A pista de dança, apelidada de calabouço pelos frequentadores por conta das paredes de pedra e correntes e estátuas decorativas, era seu verdadeiro habitat natural.

Não demorou até que encontrasse seus amigos mais próximos em uma rodinha. A parede de som não permitiu cumprimentá-los verbalmente, então ele abraçou rapidamente cada um e se juntou à dança, balançando o corpo de um lado para o outro, bebericando o drink de vez em quando.

Mingi sabia bem o jeito que a boate funcionava. No começo da festa, a playlist era mais como um aquecimento, tocando artistas desconhecidos e aleatórios que não despertavam reações tão intensas no público, e, conforme a madrugada os alcançava, os djs despejavam os maiores sucessos e clássicos, fazendo a pista pegar fogo. E, para a felicidade de Mingi, esse momento estava próximo.

Quando começou a reconhecer algumas melodias familiares, ele se esgueirou sozinho até o centro da pista de dança, sob os holofotes. Ele não podia negar que gostava de um certo exibicionismo, ainda mais naquela noite, que estava especialmente arrumado. Mas ele buscava sentir a maior quantidade de sensações possíveis, e só a música alta não era o suficiente. Queria brincar com o jogo de luzes, se aquecer no calor humano no meio da multidão.

Ele ondulava o corpo ao som das batidas, deixando seu torso à mostra. As correntes e tiras de couro do arreio contornavam seu abdômen definido e apertavam sua cintura absurdamente fina. A jaqueta, também de couro e cheia de adornos, falhava em cobrir o peitoral nu toda vez que ele levantava os braços, e a calça de vinil de cós baixo apertava suas coxas fartas e exibia a linha V em um imagem quase imoral. O cabelo curto havia sido retocado, o tom rosa chiclete contrastando com o negro de suas roupas.

Midnight Desire | yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora