Capítulo I

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Estar aprisionado nunca foi uma ideia ruim para Sombra. Após os anos de crimes que cometeu, desde furtos minúsculos até assaltos a gigantescas empresas multimilionárias, o mínimo que esperava era que de alguma forma os policiais o encontrassem e finalmente o levassem embora.

Com um suspiro resignado, Sombra contemplou as grades da cela, refletindo sobre como sua vida o havia levado até ali. Lembranças de seus dias de delinquência dançavam em sua mente, cada crime cometido deixando uma marca indelével em sua consciência. Ele nunca imaginou que seria capturado — embora esperasse que isso acontecesse —, mas agora que estava preso, uma sensação estranha de alívio começava a se insinuar em meio à tempestade de emoções.

Os dias se transformaram em semanas, e semanas em meses, e Sombra continuava à mercê de todas as lembranças que vagavam em sua psique. Aquela seria minimamente sua chance de viver normalmente, pensou consigo. Fazia anos desde a última vez que pôde dormir de forma tranquila — mesmo com as dezenas de regras impostas tanto pelos guardas quanto pelos outros aprisionados — e esperava poder fazer isso pelos próximos anos de vida que lhe restavam.

Entretanto, no silêncio monótono da cela, uma voz feminina chamou-lhe a atenção. Uma voz que ele nunca esperava ouvir novamente, pertencente àquela do lado de fora da cela.

— Sombra.

O chamado fez-lhe travar por completo seu corpo, fixando seu olhar para a parede de concreto que o cercava. Por um momento, Sombra hesitou, sua mente lutando para processar a voz. Era impossível, pensou consigo mesmo. Não podia ser ela. Mas a simples chance de estar errado desencadeou uma enxurrada de memórias e sentimentos que ele preferia ter mantido enterrados.

O coração de Sombra martelava em seu peito, ecoando em sua mente como um sinal de alerta. Ele se perguntou se deveria ignorar o chamado, se deveria fingir que não ouviu, mas ao ouvir ser chamado novamente pela mesma voz, percebeu que seria inútil ignorar.

Com um esforço, Sombra virou-se lentamente na direção da voz, encontrando os olhos dela através das barras da cela. Os mesmos olhos amendoados e cinzentos que imaginava encontrar, olhos que há muito tempo haviam deixado de assombrar seus sonhos, mas que agora estavam diante dele, reais e inegáveis.

— Detetive, — conseguiu, por fim, chamá-la. Ambos tinham ficado em silêncio por longos segundos, e sentir o olhar sobre si deixava-o levemente incomodado. — Há quanto tempo. O que a traz aqui?

A forma em que questionava a mulher não transmitia o que sentia com sua visita. Sua voz carregava um tom provocador e ao mesmo tempo arisco, o suficiente para que deixasse-a desconfortável.

A detetive observou-o por um momento, sua expressão impassível revelando poucos indícios de suas verdadeiras intenções. Ela permaneceu em silêncio por um instante, como se ponderasse suas palavras com cuidado antes de respondê-lo.

— Eu... — ela começou, sua voz séria e profunda ecoando pelo corredor da cela. — Estou aqui com uma proposta para você.

Sombra arqueou uma sobrancelha. Seus olhos continham uma mistura de curiosidade e desconfiança enquanto a encarava.

— Uma proposta? — ele repetiu, sua voz ligeiramente desconfiada. — O que você quer dizer?

A detetive avançou alguns passos, suas botas ecoando de forma sutil no chão frio da cela. Com uma leve inclinação para frente, ela se apoiou na grade, seu rosto agora mais visível para Sombra sob a luz fraca que penetrava pelas janelas gradeadas. Seus traços sérios eram destacados pelas sombras dançantes, e seus olhos cinzas brilhavam firmemente diante da imprevisibilidade da situação.

Sombra se lembrava perfeitamente desse rosto. Ah, e como lembrava.

— Você quer sair daqui, não quer? — ela perguntou, sua voz cortando o silêncio da cela.

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⏰ Última atualização: Apr 01 ⏰

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