Capítulo 21: Contos da Ji-su

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Naquele dia, era difícil dizer se o que mais me irritou foi o fato dele ter mentido daquela forma para uma criança ou porque mentiu para AQUELA criança. A verdade é que, quando a vi pela primeira vez, algo estranho se apoderou de mim. Era como se já a conhecesse, como se ela fosse alguém de extrema importância em minha vida. No entanto, esse sentimento passageiro logo desapareceu, e eu o releguei aos confins dos meus pensamentos.

Cada vez que nossos olhares se cruzavam, aquele rosto com um olhar melancólico mexia comigo de alguma forma. Mesmo que a intensa sensação de déjà vu que senti no início tivesse se dissipado, eu ainda tinha um vínculo estranho com ela, algo que me fazia questionar a razão disso.

Os dois dias passaram rapidamente, mas foram o suficiente para me deixar inquieta. Eu estava aliviada por poder finalmente partir, mas, na hora da despedida, ver aquele olhar triste nos seus olhos enquanto nos afastávamos me fez questionar meu próprio alívio. Se estava certo sentir-se assim. Ela abraçou Yori, e eu, tentando me manter distante para não ser afetada por esses sentimentos inexplicáveis, notei que ela me olhou com uma tristeza profunda quando me viu me afastar. Foi como se eu fosse a responsável por algo que a magoou profundamente. No entanto, eu sabia que não podia me deixar levar por essas emoções, embora aquela expressão nunca tenha saído da minha mente.

Tudo que eu queria depois daquele dia cansativo era ir para casa, mas eu não iria conseguir ficar em paz enquanto lembrasse daquele momento. Então, o melhor que pude fazer foi chamá-lo para sair. Eu já imaginava que ele não fosse querer, porém, para minha surpresa, ela aceitou. Aquilo por um momento me fez pensar que talvez estava conseguindo muda-lo, que finalmente eu estava sendo útil para alguém, Tal pensamento foi o suficiente para me fazer esquecer do que me atormentava. Mas imaginar que no final de tudo aquilo aconteceria, era impossível.

Talvez no fim, ouvi-lo me fez lembra de mim mesma, do que eu também fiz a ela. Não era algo tão ruim, mas para ela ter reagido de tal forma, para ela foi. E quando pensava no conjunto de coisas ruins que nós dois fizemos a ela, eu subitamente disse a ele tudo o que deveria ser dito a mim também.

Talvez, ao ouvi-lo, me vi refletida em suas palavras, lembrando-me do que também fiz a ela. Não foi algo tão terrível, pelo menos não aos meus olhos, mas para ela, foi devastador. Quando considerei o conjunto de atos danosos que ambos cometemos contra ela, senti-me compelida a revelar a ele o que deveria ser dito a mim mesma.

Após o tumulto daquele momento, busquei refúgio em meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Encostei-me na porta, numa tentativa de esconder a verdade de mim mesma, focalizando toda a culpa nele enquanto ignorava minha própria participação na situação.

Murmurei para mim mesma, procurando desviar a responsabilidade, enfatizando sua culpa e evitando encarar meu próprio reflexo naquele espelho da consciência.

— Eu achava que ele era apenas um tolo, mas... ele... palavras não podem descrever o que ele é! Não suporto a ideia de compartilhar o mesmo teto com alguém como ele.

Na verdade, talvez eu estivesse evitando confrontar o reflexo de minha própria crueldade.

— Como alguém poderia proferir tais palavras para uma criança, sem pensar nas consequências? Como ele pôde ser tão insensível?

Indignação pela sua atitude tomou conta de mim, mas no fundo, eu estava me questionando por que me culpava tanto por alguém que eu mal conhecia.

Finalmente, sentei-me na beira da cama, respirei profundamente e tentei organizar meus pensamentos. No entanto, além de mim mesma, comecei a considerar seriamente o que o levava a agir daquela maneira. Talvez fosse mais fácil perdoá-lo por seu comportamento, afinal, como poderia culpá-lo quando ele mesmo admitia sua dificuldade em compreender as pessoas?

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⏰ Última atualização: May 12 ⏰

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