DaisyNa minha opinião, se é para trair, tem que ser com alguém por quem vale a pena pecar. Não sei se esse é um pensamento da antiga ou da nova Daisy. Ou talvez, como estou observando a vida de Daisy Campbell de fora, eu consiga pensar na traição dela com distanciamento, em vez de julgá-la. Tudo que sei é que, se alguém vai trair Ellie Williams, acho melhor que seja com a Jennifer Lawrence.
Eu me viro para olhar na sua direção antes de ela ir embora. Vejo seu perfil de relance, com a fraca luz do poste atrás do carro iluminando seu rosto. A ponte do seu nariz é curvada. Ellie tem um nariz muito bonito.
Eu me volto para casa. Meu estômago não parece muito bem. Não vejo ninguém quando abro a porta e olho ao redor. Parece que sou uma intrusa invadindo a casa de alguém.
— Olá! — chamo. — Tem alguém aqui?
Fecho a porta silenciosamente atrás de mim e entro na sala na ponta dos pés.
Dou um pulo pra trás.
A mãe de Daisy está no sofá vendo Titanic no mudo e comendo feijão carioca direto da lata. De repente, me dou conta de que tudo que comi hoje foi o queijo-quente que dividi com Ellie.
— Está com fome? — pergunto, com certa cautela. Não sei se ela está com raiva de mim ou se vai chorar de novo. — Quer que eu prepare alguma coisa para a gente comer?
Ela se inclina para a frente sem olhar para mim, e põe a lata de feijão em cima da mesa de centro. Dou um passo para perto dela e me obrigo a dizer a palavra:
— Mãe?
— Ela não vai responder.
Eu me viro e vejo Lily entrando na cozinha, com um pacote de Doritos namão.
— Foi isso que você jantou?
Ela dá de ombros.
— Você tem o quê, 14 anos?
— E você é o quê, retardada? — retruca ela, e confirma: — Sim, tenho 14anos.
Pego o Doritos da mão dela e o levo até onde minha mãe bêbada está encarando a tela da TV.
— Garotas de 14 anos não devem jantar Doritos — digo, largando o pacote no colo dela. — Fique sóbria e aja como mãe.
Nenhuma resposta.
Vou até a geladeira, mas tudo o que tem lá dentro é uma dúzia de latas de Coca Diet e um vidro de picles.
— Pegue seu casaco, Lily — digo, lançando um olhar fulminante para a minha mãe. — Vamos providenciar seu jantar.
Lily me olha como se eu estivesse falando mandarim. Penso que preciso dizer algo grosseiro para manter as aparências.
— Vá logo, sua pentelha!
Ela volta apressadamente para nosso quarto enquanto procuro a chave do carro pela casa. Que tipo de vida eu estava levando? E quem era aquela criatura no sofá? Tenho certeza de que ela não foi sempre assim. Olho para a parte de trás da sua cabeça e repentinamente sinto compaixão. O marido dela — meu pai — está na prisão. Na prisão! Isso é sério. Onde é que estamos conseguindo dinheiro para sobreviver?
Por falar em dinheiro, confiro minha carteira. Os 28 dólares ainda estão lá dentro. Deve ser suficiente para comprar para nós duas algo que não seja Doritos.
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INERENTE; ellie williams
RomanceMelhores amigas desde a infância. Apaixonadas desde a adolescência. Desconhecidas desde essa manhã. Todas as recordações desapareceram... Ellie e Daisy precisam trabalhar juntas para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com elas e o porquê. Por...