Cap 3 - Algo para chamar de meu

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A vida, algo que eu merecesse pertencer por bastante tempo, mas ao mesmo tempo algo que eu não ache que eu mereça pertencer. Vivenciar sonhos como a oportunidade de estudar moda, ou a partir de um futuro momento onde eu ache que a vida realmente não vale a pena ser vivida. Lá estava eu, mais um dia, caminhando pelas ruas enquanto no meu fone tocava uma simples sinfonia de Beethoven, o dia estava altamente melancólico, eu havia passado a manhã na aula de modelagem desenhando o modelo de uma calça que iriam usar no desfile branco e preto. Meus pensamentos eram extremamente calculista, como uma pessoa que ainda não tivera sua chance de conhecer o seu lugar de origem e conforto para chamar de seu, meus pensamentos se esvaziaram por um momento com o toque do celular.

— Sim! — exclamei ainda sem ouvir a voz do outro lado da linha.

Amiga, vai ter uma festa hoje! — a mesma falou em êxtase, era Livia, minha colega de turma na aula de modelagem. — É sexta-feira, você está precisando se divertir.

Ta bom. — afirmei sem a mínima vontade de ir, mas por um segundo pensei que seria o melhor momento para começar a experimentar coisas novas. — Passa lá em casa.

Eu passei anos me excluindo do resto do mundo por não achar qualquer coisa que poderia me fazer parecer, comecei a idealizar a roupa mais adequada e tive uma ideia de fazer uma roupa que realmente combinasse comigo. Ao chegar em casa comecei a desenhar o modelo que eu desejava, com a cor preta, ultimamente estou utilizando cores mais neutras, comecei a costurar os tecidos de acordo com o desenho deixando tudo bem perfeito, acabei perto da hora em que Livia iria passar em casa, comecei a me arrumar, eu nunca fui uma pessoa de muita maquiagem, afinal a beleza está além da visão, mas o essencial é invisível aos olhos mesmo, coloquei um esfumado leve no lápis preto que eu havia passado, um blush para dar vida ao meu rosto pálido e um batom vermelho, Livia já estava do lado de fora me esperando.

— Caramb! — exclamou a mesma enquanto eu entrava no carro. — Quem você quer impressionar hoje?

— Ninguém, acho que está na hora de eu dar vida ao meu eu. — falei um pouco nervosa, havia saído decidida a ser diferente e a agir de maneira diferente.

Lívia dirigia pelas ruas da cidade, o caminho todo fiquei em silêncio, os pensamentos turbilhonando em minha mente, como estrelas em uma noite sem lua. Em busca de encontrar meu próprio eu, como o pequeno príncipe que viajou por planetas desconhecidos em busca de compreensão. Ao lado de minha amiga Livia, adentramos a boate tão conhecida na cidade, onde as luzes brilhavam como as palavras de sabedoria do sábio raposa. Reconheci rostos familiares entre a multidão, colegas da universidade com quem compartilhei risos e desafios acadêmicos. Mas também avistei outros semblantes, desconhecidos que, assim como eu, buscavam seus próprios caminhos nesta jornada chamada vida. E entre os murmúrios da música e os movimentos das pessoas, senti uma faísca de esperança, a certeza de que, assim como o pequeno príncipe, eu também estava no caminho certo, rumo à descoberta do que verdadeiramente importa. Entre a multidão pulsante, avistei um rosto familiar entre os demais membros da boate. Seus olhos estavam cobertos por uma leve camada de lápis de olho, refletindo a luz das lâmpadas como estrelas distantes. O rapaz vestia uma camisa do Gorillaz, um short jeans preto e calçava um par de Vans preto, junto com uma meia colorida de alface, um contraste vívido em meio à escuridão da noite. Aquela visão realmente chamou minha atenção, como se uma peça do quebra-cabeça que era minha jornada estivesse ali, diante de mim, esperando para ser descoberta. Comecei a pensar "Era realmente ele? O que ele estava fazendo ali?"

— Eu conheço esse olhar. — Livia sorriu enquanto me entregava um copo de uma bebida de procedência duvidosa do qual não me importei em beber. — Ele é bonito, quem é?

— Eu não sei, mas eu talvez vá descobrir, uma outra hora. — falei com um leve sorriso no rosto, o mesmo rapaz do sonho, o vocalista da banda que eu havia escutado e o rapaz que eu havia esbarrado.

— Não acha que está perdendo tempo esperando ele tomar uma decisão? — a mesma sorriu para mim enquanto bebia sua bebida. — O que se passa na sua cabeça?

— Que os dias da Ayla que não reclamava de nada e aceitava tudo como estava acabaram. — falei enquanto virava o copo inteiro de bebida, o ardor na minha garganta me fez tomar coragem, algo que realmente eu não iria me preocupar naquela noite.

Com o coração batendo forte, impulsionada pela coragem que crescia dentro de mim, aproximei-me do rapaz cujo nome eu desconhecia, mas cujo olhar intenso e voz melódica eu reconhecia de algum lugar profundo dentro de mim. Seus olhos cor de café me hipnotizaram enquanto eu o pressionava suavemente contra a parede e o beijava, deixando que a energia pulsante da boate nos envolvesse. Não demorou para que ele correspondesse ao beijo, e a fusão de menta com álcool em sua boca combinava perfeitamente com a minha. Era uma explosão de sensações, uma dança frenética de desejo que nos consumia a cada instante. Se aquilo era desejo, então eu não queria que parasse nunca, infelizmente acabei voltando para traz devido a falta de ar.

— Pera aí. — o mesmo falou ficando de frente para mim e enfim sorrindo. — Você é a garota daquele dia.

— E você é o garoto daquele dia.

— Você realmente tem uma chama incrível. — o mesmo sorriu para mim, eu não entendi na hora, mas o sorriso dele realmente era bonito, as covinhas ao lado de suas bochechas não mostravam muito do que o rapaz era fisicamente, seus olhos cobertos pelo lápis de olho ainda estavam mais intensos do que nunca. — Como é seu nome.

— Eu sou incrível. — sorri para o mesmo arrancando um sorriso sincero do mesmo, peguei o copo que o mesmo estava segurando e bebi a cerveja. — Pode me chamar de Ayla, e você é?

— Pode me chamar de Falkket.

— É um prazer Falkket. — por mais que não parecesse, o nome era muito incomum, mas não me liguei, vi sua tatuagem na mão. — Por que uma casa pegando fogo?

— Isso é engraçado, ninguém costuma me perguntar o significado das minhas tatuagens. — ele sorriu com os olhos, por um momento foi o sorriso mais sincero que eu havia recebido. — Significa deixar para trás velhos padrões, com a perspectiva de trilhar meu próprio caminho sem olhar para trás, pois o que eu considerava lar agora não passa de cinzas e destroços.

— Uau! — exclamei sem saber o que falar no momento, ele era tão misterioso, mas ao mesmo tempo intenso, algo me dizia que eu tinha que conhecer um pouco mais dele. — Isso é bem profundo.

— Muitas coisas são profundas. — ele sorriu para mim enquanto colocava uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. — Como eu não esperar nada de uma garota que conheci a dias atrás me beijar no meio de todo mundo.

— Quando eu quero algo, eu faço. — respondi sorrindo arrancando uma gargalhada sincera do mesmo, a voz dele realmente parecia música para os meus ouvidos. — Foi um prazer te conhecer, Falkket.

Com um sorriso nos lábios, olhei para Falkket antes de me virar e seguir com passos firmes e confiantes em direção à minha amiga Livia. Senti seus olhos sobre mim durante toda a noite, mas mesmo assim, permaneci ao lado de minhas amigas, sem me afastar. A sensação de ser observada apenas adicionou uma pitada a mais de mistério e excitação à noite, mas minha lealdade e conexão comigo mesma permaneceram inabaláveis.

BRIGHT • FALLKET Where stories live. Discover now