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Quando tinha seis anos e morava com os Sinclair, achou um passarinho com a asa quebrada embaixo da árvore. Segundo Adam, ele tinha caído do ninho e fraturado os ossos, assim como um ser humano fratura o braço.

Lobos são conhecidos por serem selvagens, devastadores e sanguinários. Bom, isso era verdade, ao menos alguns Sinclair eram assim, como Abram e os outros dois irmãos que o seguiam como líder, Jeffrey e Malcon. Os irmãos que me infernizam a vida me batendo e me escondendo embaixo da escada escura e cheia de teias de aranhas.

Onde Charlotte Sinclair por diversas vezes brigava com a pequena Enid e não com os mais velhos. Onde anos depois foi descobrir o motivo para tanto desprezo, mas essa não é a questão.

Lobos também podem ser humanos e justos, como era o caso de Jack e Adam, que quando viram a pequena Enid com lágrimas nos olhos ao ver o pequeno passarinho, tentaram ajudar o animal.

Se recordava fielmente da pequena caixa de sapatos, onde forraram o fundo com serragem, onde Jack começou a caçar minhocas na terra para alimentar o passarinho. Onde a pequena Enid o velava o sono durante a noite, ou acordava para dar minhocas em seu bico.

Creio que o primeiro contato com a morte foi quando pequena, onde o coração miúdo se partiu ao meio quando o passarinho, mesmo tendo um monte de cuidados, começou a definhar. Dia após dia, até que em uma determinada manhã nublada ele estava desfalecido, ou como disse Jack "Ele estava jururu".

A pequena Enid levou o pássaro até o quintal e se sentou embaixo de uma das árvores, onde os raios solares davam apreço ao corpo pelo calor. O pequeno pássaro não conseguia se sustentar em pé, ele tombava toda vez que tentava se reerguer.

Se lembrava perfeitamente da sua penugem gélida e dele parecer suar um pouco, as forças estavam saindo dele aos poucos. Mesmo o enrolando na blusa e o abraçando com o calor do corpo, ele não aquecia.

O pequeno coração Sinclair estava entendo e se preparando para perda, porque sabia que ele logo iria embora. Em meio as lágrimas de contentamento, olhou para o pequeno bichinho na caixa e lhe acariciou a cabeça com o dedo indicador.

Seus olhos, antes brilhantes, me fitaram perdidos, mas ele sabia que eu estava ali. Porque eles me seguiam a voz e sua respiração, cansada, se assimilava com a minha.

Estava tão focada no passarinho que não tinha notado a presença de Jack, o irmão mais velho deu um sorriso de lado, um sorriso triste porque também sabia o que estava acontecendo.

Jack apoiou a mão no meu ombro e falou os dizeres "Está na hora de se despedir dele, Ninid" Ele sempre foi o irmão mais carinhoso, o mais próximo, o mais humano "Porque não diz algo a ele?"

Tentou assimilar seus dizeres ao olhar para o pequeno pássaro, que seguia com os olhos perdidos nossas vozes. A angústia no peito machucava, a sensação de nó na garganta era incomoda, e as lágrimas molhavam a blusa e o fundo da caixa do pequeno passarinho.

"Dizer o quê?" Perguntou ao irmão, e a resposta que teve foi "O que sentir que deve dizer".

Um pequeno conselho que deixou confusa a mente da pequena Enid, o que ela falaria para o pequeno pássaro sendo que seu coração estava aos pedaços?

Mas falam que quando o coração fala por nós, as palavras mais singelas tomam o rumo da nossa boca. E foi o que aconteceu, continuou a acariciar a cabeça do pequeno passarinho, que fechou brevemente os olhos com o contato antes de tornar a abrir.

" Desculpa não ter feito mais, talvez eu devesse ter te dado mais minhocas" A mão de Jack continuou no meu ombro, ele não riu, na verdade, ficou sério e deixou com que falasse "Eu sei que você precisa ir, e tá tudo bem, não precisa ficar por minha causa. Você pode ir"

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora