Rastros de Sangue

CH00: prefácio

Condado de Manhattan, NYC
Federal Bureaucracy of Intelligence, FBI
Sala de Conferência, 14º andar

A posição não era algo incomum, ele via isso todos os dias em casos de assassinato. As mãos e os pés posicionados com elegância indicavam a delicadeza e o esforço para manter o cenário perfeito. Era uma cena fresca, dedicada justamente para ser encontrada no exato minuto após o ato horrífico. As roupas eram finas e tinham um corte que exalava a luxúria que a família em si esbanjava.

Desovado na poltrona de couro em frente à cama, o homem tinha sua perna cruzada e visual impecável, mas o traço do sangue saindo de dentro do terno de três peças indiciava o que havia causado sua morte. Na autópsia, Miriam havia mostrado o corte limpo, que poderia ter sido feito por alguém experiente, o local antigamente era preenchido pelo coração – peça que estava desaparecida e não havia sido encontrada nos aposentos, ou na casa.

Logo mais à frente da primeira vítima, a única filha estava disposta no apoio da cabeceira, sua postura sentada estava sendo mantida pelo fio de arame conectado à madeira, os cabelos presos em um coque, alinhando os fios ao rosto anteriormente angelical, pobre menininha. Não deveria ter alcançado mais de sete anos. Marco não descreveria nada daquilo além de doentio.

Teve que suprimir sua respiração nas imagens que sucederam, determinado a não pensar em coisas fora do caso. Dellanueva não precisava de distrações e paranoias atrapalhando seu raciocínio. Ele sabia que era um caso passado, mas de alguma maneira, a conexão entre esse e o que estava trabalhando com seu time concluía sobre respostas que amargava sua língua.

— As vítimas em questão são o Senador Matthew Davenport, de 47 anos e sua filha de seis, Alice, — Cillian se aproximou da mesa com mais resultados — foram encontrados pela tutora e babá da menina, Carmilla Garner, os dois tinham presença marcada em um jantar executivo entre o Senador de Nova York e a Senadora de Washington, Hillary Kozner. Diane deixou atualizações sobre o caso escondido da mídia até o momento, mas agora que conseguiu uma pista-

— E a mãe da garota? — Marco interrompeu o Inspetor, que apenas apontou para a ficha em suas mãos.

— Morta com o mesmo Modus Operandi que a sua família, há seis anos. Alice nunca a conheceu propriamente. — Hartmann pôs as mãos no bolso e se apoiou na mesa atrás de si. — O padrão entre eles e Cortázar é inexistente até o momento, mas até o que Benedict me contou da última vez começou a fazer sentido: alguém os botou na trilha. Davenport estaria começando sua campanha para reeleição na próxima segunda-feira, mas Cortázar não teria interesses na política de Nova York, seu poderio era em Chicago.

— E nenhum subordinado retaliou? Nem mesmo tentou fazer algum motim?

— Sumiram de vista para o submundo de Chicago, ninguém sabe deles ou está com a boca bem fechada para deixar algo escapar — Deixou um resmungo o acompanhar e fechou a pasta com as informações — Provavelmente foi um acerto de contas, o assassino com certeza tinha conhecimento prévio, estava inserido no ambiente. Infelizmente, é tudo que eu estou conseguindo ligar para vocês, porém se precisarem de mais recursos, podem vir a mim, eu estarei com os requerimentos preenchidos e iremos acelerar o processo.

Marco segurou sua língua, sabendo que sua resposta não iria melhorar o ânimo, não era hora de pesar a realidade, mesmo tendo a ideia certa de onde os recursos iriam parar ao fim das investigações.

Ele tinha outros problemas para lidar.

O agente desceu os olhos até o relógio em seu pulso, verificando o horário. Se Alys ainda topasse, eles poderiam jantar no restaurante italiano e comer a sobremesa em casa. Era apenas uma questão de minutos.

— Dellanueva, — Cillian o chamou, e um sentimento de derrota ocupou seu peito, sabendo da reação que causaria na filha. Estava fácil demais para ser verdade, ele não deveria estar esperançoso. – Precisamos de mais um favor seu.

— Tudo o que precisarem.