CH01: she should be mad, she should be scanthin like me.

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          PAPÁ: mil desculpas, muñequita 
         PAPÁ: eu estou atolado com uma
         tarefa aqui, vamos ter que cancelar
         o italiano.

Engolindo seco a decepção, seus olhos releram a mensagem, tentando entender o que era de tão importante para ter sido trocada tão em cima da hora. A garota agradeceu que estava mais atrás, e pode disfarçar antes de acompanhar o passo rápido de seus amigos, que a olharam inquisidores assim que estavam ombro a ombro.

— E então, o que era? — Roma vocalizou a dúvida, e Alysanne abriu um sorriso fininho. Ela odiava contar das mancadas do pai, justamente porque sabia que ele ia ser escorraçado pelos dois.

— Era um aviso do meu orientador sobre a monografia, ele deu uma revisada e mandou o documento para correção — A mentira escapou de seus lábios antes que a filtrasse melhor, mas sustentou o olhar na direção de ambos se concentrando no andar, fingindo normalidade que não existia, e esperou que os dois comprassem, como sempre faziam porém hoje estavam especialmente enxeridos.

Roma ergueu as sobrancelhas surpreso e Raika teve que revirar os olhos antes de meter o que estava pensando.

— Tá, e o seu pai? Você não disse que iam em um restaurante aí para jantarem juntos? — Os olhos se afiaram com a pergunta, buscando pegá-la na sua própria mentira, e Alysanne segurou a vontade de olhar para outra coisa que não fosse a imensidão castanha da melhor amiga.

Ela sabia a realidade tão bem quanto ela, visto que Luciano — seu pai, parceiro de rua com o de Alys — também era assim. A única diferença era que Raika não exigia atenção dele em todo momento que nem ela. A bobear, Raika fugia de afeto que nem o diabo fugia da cruz. E por isso mentir para sua melhor amiga sobre seu pai se tornou um desafio que ela se aperfeiçoou ao longo de anos, nunca deixando que Fontana fareje próxima de suas mentiras, ou então enfrentaria um inferno dentro e fora de casa. 

Virando-se na direção dos dois, Alys piscou lentamente para Raika, e como se respirasse a mentira, a garota abriu um sorriso fino e falou com a amiga como se a cada palavra, uma faca não tivesse sido alojada nas suas costas.

— Eu cancelei mais cedo, por conta da correção, papai deixou remarcado para outra data — Decidindo apelar para o ponto fraco da amiga, Alys interligou suas mãos e buscou o calor da mais velha, atrás de uma falsa carência. Raika não teve tempo de bater em suas mãos antes de ser esmagada por ela, e soltou um grunhido pelo espaço que lhe foi roubado na cara dura. Roma observava as duas com uma expressão divertida, um cigarro em sua boca ainda aceso, e estendendo sua mão livre, Alys o puxou para o abraço e Raika soltou um gritinho desgostoso, querendo esganar ela.

— Alysanne, você não me faça cometer um homicídio a essa hora da noite porque eu não tenho roupa e muito menos o álibi do meu pai preparado, sua canalha — Raika soltou o resmungo, tentando sem sucesso sair das garras de Alys, que sorriu arteira, antes de ouvir Roma ao seu lado gargalhar.

— Com esse tamanho e nesse salto? Ah, para — zombou o francês

— Eu ia pedir para você repetir isso de novo se tivesse coragem, mas não quero ouvir essa sua voz quando eu tiver te matando—

— Não ia adiantar de nada, você iria se matar para ficar junto comigo

— E perder os anos que eu tenho à frente sem um encosto que nem você? Me recuso!

— Tem razão, acho que nem o inferno receberia tamanha oferenda — Roma até tentou se afastar, mas o salto de Raika conseguiu pegar no seu joelho, o fazendo soltar um xingamento alto sob a pose vitoriosa da mexicana. Alys observava tudo com uma risada frouxa, acostumada até demais com a picuinha dos dois, que não era tão nova assim.

Rastros de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora