As palavras têm peso. E pesam toneladas. Pt 2

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*** IMPORTANTE: Esse capítulo contem uma cena muito pesada que, pode vir a causar gatilho. E, como é uma cena de suma importância, não sendo somente algo que aconteceu com a personagem, como também um assunto que acontece com milhões de pessoas, ele será retratado aqui. Então, leia quem tiver estômago, quem não tiver, pule todo o flashback. ***

Música do capítulo: Because Of You - Kelly Clarkson.

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Point Of View: Samanun.

Aonde estava meu cérebro e meus neurônios que não me ajudavam a mover meus músculos para que eu pudesse correr dali? Que diabos! Eu estava congelada, pés pregados no chão, ainda tentando respirar após aquele soco verbal que havia me atingido em cheio.

Elas se olhavam fixamente. Olhares guerreiros, arqueiros e espadachins, guerrilhando a ferro e sangue, afim de ver quem vencia aquela batalha colossal.

Seria minha cabeça o prêmio do vencedor?

Eu estava feliz em ter sido defendida por Nam, já que havia perdido a capacidade de falar minutos antes da entrada triunfal de Song. Mas as palavras da mesma haviam me ferido – e muito. Sentia como se tivesse sido atingida por tiros. A dor era tão intensa como se fosse.

"Me surpreende você ainda não ser uma estupradora de criancinhas também"

Repetia-se em meus pensamentos.
As palavras têm peso. E pesam toneladas.

Em todos esses anos, em todos meus tombos, tendo enfrentado tudo que enfrentei, nada foi capaz de me deixar tão destruída por dentro e por fora quanto aquelas palavras. Confiei a Song meus segredos, acreditei em sua promessa de nunca contar. Agora minhas confidências estavam espalhadas por toda sala, como os brinquedos de uma criança desleixada.

Exposta.

Sentia-me nua.

As lágrimas fiz questão de engolir. E elas desceram me dilacerando por dentro.

Aquela frase...aquela merda de frase havia simplesmente me tirado da classificação humana e me jogado a força no calabouço de um monstro. Meu rosto, minha voz, meus trejeitos, tudo em mim passaram a refletir a imagem do mais brutal dos homens. Comparada à um alcoólatra e sua covardia, até com suposições de estupros minha imagem foi deturpada.

Me senti cruel mesmo não sendo.

- Eu... vou embora... – Foi o máximo que consegui falar.

E não esperei respostas.

Velozmente, consegui chegar até a porta – mesmo não sabendo de onde havia surgido a força para dar os passos que foram precisos. Com certa dificuldade – por estar tremendo e suando – tentei rolar a maçaneta, mas a mesma parecia estar lambuzada de óleo.

Mais uma humilhação para a coleção!

Sequei as mãos na calça e girei novamente. Dessa vez a porta se abriu.

Quando coloquei o pé para fora, Song rompeu o silêncio.

- Samanun... Eu sinto muito...

Voltei-me para ela num ato assustado e lancinante. Olhando em seus olhos, vi que ela não sentia muito, só estava dizendo aquilo pois sabia que Nam não a perdoaria tão cedo.

Respirei fundo, puxando um pouco de vida para meu corpo novamente, e disse:

- Não diga isso. Não diga algo que não sente... – meu timbre era calmo, assustadoramente calmo, quase sinistro. – A pior mentira não é aquela dita para alguém que feriu, mas aquela que é dita para si mesmo. Você não sente muito. Falou o que queria, o que estava engasgado, e eu sei que está feliz por ter desabafado. Então, orgulhe-se de seu feito.

The Last Coffee (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora