What If?

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Point of view Samanun

O dia havia amanhecido, os raios de sol invadiam a sala, meu copo de whisky estava vazio e meu cigarro queimou sem que eu o tragasse. No meu quarto estava Kornkamon mergulhada entre as cobertas. Na minha garganta eu sentia um amargo que não era do whisky, muito menos dos cigarros que fumei, meu coração estava comprimido em meu peito e a única pergunta que me rondava era: Como alguém seria capaz de partir o coração de uma criatura tão encantadora quanto Kornkamon? O fel entalou em minha garganta e minha mente voltou na noite anterior, sendo exata, naquele café onde eu e ela estávamos sentadas, comendo e conversando. Seu sorriso era de brilho maior que o sol, seus olhos num castanho claro me encantavam por sua transparência e sua voz parecia o canto dos anjos. De repente, o véu foi rasgado e as mentiras foram à baixo. Máscaras deslizaram dos rostos, as desconfianças se fizeram concretas e o coração apaixonado foi estilhaçado. O rapaz encarava a mulher de cabelos castanhos com fúria, como se a culpa pela traição fosse dela, sua agressividade ousou saltar por seus atos, mas aquele era um dia de grande azar para aquele homem que ousou encostar na pele delicada e feminina de Mon. Nunca na vida havia sentido tantas energias correndo por meu corpo. O primeiro soco foi por puro impulso, eu defenderia a honra daquela mulher como se fosse a minha e jamais deixaria que aquele brutamontes deixasse uma marca sequer em seu lindo rosto esculpido por Deus. O segundo soco foi por capricho, o terceiro foi por vingança. A sorte havia escolhido aquele cara, dando à ele uma incrível mulher e o idiota havia jogado para os ares. Quem me dera eu ter essa sorte!

Devo ter apertado o copo com muita força, enquanto me recordava do dia anterior que o ouvi estourar por entre meus dedos e se estilhaçar, escorrendo por entre meus dedos junto com algumas gotas de sangue. Me levantei e corri até o banheiro, lavei as mãos e enfaixei os dedos com esparadrapos. Voltando do banheiro, parei em frente a porta do meu quarto e observei aquele anjo descansando entre minhas cobertas escuras. Já não parecia mais assustada e magoada quanto horas antes de eu a por para dormir. Seu semblante remetia-me à uma paz de espírito que só o sono pode proporcionar. Vi que os raios alaranjados do sol estavam a iniciar sua invasão janela à dentro e antes que o brilho pudesse tirar a doce mulher de seu descanso, avancei até as persianas e as fechei, saí do quarto e fechei a porta. Voltando para a sala, recolhi os cacos grandes do chão e varri do os miúdos, os recolhendo com uma pá. Esvaziei o cinzeiro, guardei a garrafa de whisky no armário de bebidas e fui para cozinha, onde lavei e sequei toda louça. Não estava com sono, muito menos cansada, meu corpo parecia novo em folha.

"Um dia ela vai achar o cara que vá lhe querer como aquele idiota não quis. Sortudo será esse homem!", eu pensei enquanto enchia a chaleira de água. Havia resolvido fazer café à moda antiga. Coador de pano, chaleira de água fervente. Essas coisas. Coloquei a chaleira sobre o fogão e ascendi o fogo. Enchi os pulmões de ar e olhei pela janela da cozinha. O dia lá fora estava azul, Deus havia sido muito gentil naquela manhã. Era um daqueles dias que você olha para a imensidão azul e sente por poucos instantes que a vida gosta de você.

"Em meio a tanto caos e tantas notícias ruins, o que nos resta é olhar para o céu e aguardar que o sol retorne nos trazendo dias melhores".

Escrevi aquilo rapidamente em um guardanapo que havia encontrado na cozinha, não podia perder a ideia. O guardanapo foi deixado em cima da mesa, pois a chaleira apitou e eu me levantei para coar o café. Assim que a água fervente se misturou com o pó de cor marrom, subiu a fumaça úmida e perfumada da cafeína. Aquele cheiro era um dos meus favoritos, pois o primeiro aroma favorito até então, estava sendo o perfume de Mon que estava impregnado em minhas roupas, me fazendo sentir gosto de respirar, apenas para inalar mais e mais. Coei todo o café o coloquei na garrafa, logo depois enchi uma xícara e voltei para a sala, me sentei no sofá e por alguns segundos, me peguei desejando algum dia encontrar alguém como Mon em minha vida. Acabei me pegando no pensamento que era quase uma súplica a Deus de que um dia, quando ele resolvesse ser bom para mim, me desse a chance de por um dia ser alguém que fizesse o mundo de Mon melhor.

- Não dormiu? - Sua voz cortou meus raciocínios e acelerou meu coração de imediato. Meu rosto se virou em sua direção e cambaleante, coçando os olhos e com os cabelos desgrenhados, vinha Mon em minha direção. Sua aparição diante dos meus olhos me fez rir, ela havia vestido o moletom meu que eu havia separado, e para ela, havia servido como um enorme vestido, batendo pouco a baixo dos joelhos, as mangas eram maiores que seus braços. Estava linda, porém engraçada. A mesma sentou bem junto à mim e me abraçou, recostando sua cabeça em meu peito. Retribuí o abraço apertando-a contra mim, fechei os olhos e orei aos deuses para que aquele momento durasse para sempre e assim que o perfume adocicado de seus cabelos invadiram meu ar, os segundos começaram a passar lentos, o mundo começou a girar devagar. Aos poucos, praticamente em câmera lenta ela foi se separando daquele abraço e me olhou nos olhos. O sorriso veio se moldando aos poucos em meu rosto, meu cérebro queria desenhar o sorriso perfeito que iluminasse o dia daquela mulher e pareceu alcançar sua meta, pois ela sorriu na mesma intensidade e ali ficamos, nos olhando e sorrindo.

(...)

- Sam? - Nam estalava os dedos na frente de meus olhos, eu estava quase cochilando pela milésima vez naquela tarde.

- Oh, perdão, não preguei os olhos essa noite. - Eu disse e bocejei demoradamente.

- O que houve?

- Kornkamon e eu saímos para tomar nosso clássico café e acabamos tendo a desventura de pegar seu noivo a traindo em flagrante. A balbúrdia que aquilo causou você já pode imaginar. Ela ficou devastada, à levei para minha casa e ficamos conversando, eu tentei de mil maneiras fazê-la sentir-se melhor, mesmo sendo impossível. Ela quis se embebedar e eu achei merecido, logo depois ela pegou no sono no sofá e eu a carreguei para cama. Não consegui pregar os olhos com medo dela acordar se sentindo mal ou coisa do gênero. - Expliquei e Nam me encarou até o fim em total silencio, suas expressões mudavam a cada palavra dita por mim, e por fim, ela riu.

- Noto que essa garota desperta seu lado mais cuidadoso, não entendo como ela consegue isso. - Comentou ela e eu ri de seu comentário.

- Não é nada demais. - Eu disse. - Mas acho completamente absurdo alguém partir o coração de uma garota tão linda e tão incrível como ela. - Puxei para mim o copo de chá que Nam bebia e provei um pouco. Era horrível o gosto.

- Você gosta dela... - A frase que saiu dos lábios de Nam, mais pareciam com uma constatação.

- Acredito que não, mas se fosse o caso, eu estaria fodida!

- Por quê?

Olhei para Nam tentando não acreditar que havia escutado aquela pergunta.

- Ela é hétero, está de coração partido. E outra, onde no universo que uma mulher tão cheia de vida quanto Kornkamon se apaixonaria por alguém como eu? É ilógico! - Nam permanecia me fitando como se fosse absurda as minhas apalavras. - Kornkamon é como uma estrela inalcançável para mim e o amor... Você sabe. O amor me odeia!

- Não julgue um livro pela capa, Anantrakul. Ela ser hétero e estar de coração partido não a impedem de nada, pelo contrário, seria essa a chance de vocês juntarem seus azares e fazer a sorte ficar à favor de vocês. - Nam disse, logo depois tomou um pouco de seu chá. A sabedoria que Nam escondia e exibia em momentos raros me deixava encabulada.

- Está querendo me juntar com a Kornkamon, senhorita Poolsak? - Brinquei arqueando a sobrancelha e ela riu.

- Vocês formariam um casal muito bonito.



The Last Coffee (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora