Point of view Mon
Uma vez me disseram que os melhores momentos da vida acontecem quando você menos espera e tem a duração de poucos segundos. Por muitos anos me peguei pensando no porquê de momentos tão bons durarem tão pouco, mal sabia eu, que só encontraria a resposta quando beijasse Samanun. Quando os lábios macios dela tocaram os meus, o tempo parou. A chuva congelou em sua queda, o vento parou de correr, o raio que cortava o céu paralisou em meio ao seu percurso. A energia daquele raio veio para mim e a descarga elétrica percorreu por cada veia minha. O frio da brisa passou a soprar em meu estômago. Os pingos de chuva se transformaram no adocicado sabor úmido dos lábios daquele anjo que estava a provar cada milímetro dos meus lábios. O único movimento ali era o deslizar de nossos lábios, as caricias entre nossas línguas e o percorrer de suas mãos por minha cintura. E de repente, eternizado em pequenos segundos, aquele beijo transformou-se em uma das melhores coisas que haviam me acontecido. Beijar Sam foi além de qualquer expectativa, foi além de qualquer pensamento que eu, muitas vezes, evitava dar atenção. E quando o beijo cessou, e a chuva voltou a cair, e o vento correu forte, e o raio percorreu o céu por inteiro, aquele lampejo cintilante apagou em mim todas as lembranças ruins, todos os momentos tristes, a traição. Com o fulgor daquele raio, as minhas piores memórias foram apagadas e deram espaço para a reconstrução de novas, e tudo se iniciou naquela fração de segundos que durou o clarão. Foi então que eu entendi o porquê de durar tão pouco. Do pouco, surgiria o impacto de uma onda de momentos mais intensos. Mas primeiro, eu precisaria achar alguém que me fizesse parar no tempo e assim, eu pudesse observar atentamente a vida se iniciar novamente.
Logo depois do nosso beijo, Sam voltou ao rumo que me levaria para casa, pois no dia seguinte tínhamos que trabalhar. No carro o silêncio era confortante. Era como estar em casa. As palavras eram inúteis diante a intensidade do encontro que havia acontecido entre nossos lábios. O carro de Sam estacionou em frente à minha casa e eu suspirei, soltei o meu cinto e me virei pra ela. Aquele olhar angelical veio de encontro ao meu e por Deus, fiquei sem ar apenas com seu olhar.
- Obrigada pela noite maravilhosa.
Eu disse um pouco ruborizada e em seguida mordi meu lábio tentando disfarçar toda a minha timidez. Ela sorriu lindamente para mim, levou sua mão até meu rosto e fez um leve carinho no mesmo. Sua pele macia e fria, causava em mim um misto de sensações que eu não seria capaz de descrever mesmo usando as mais belas e intensas palavras.
- Eu que agradeço por aceitar meu convite, mesmo que ele tenha sido feito por Nam. - Sua sublime gargalhada de criança que foi solta, causou em mim a sensação de estar nas nuvens. - E concordo, a noite foi maravilhosa, mas o fim dela foi a melhor parte. - Ela disse olhando em meus olhos e aquilo me arrepiou completamente. Eu não sabia qual era a intensidade do que sentia por Sam, mas o que eu estava sentindo, no momento, era bem forte, pois meu coração errava as passadas, o mundo ao meu redor girava lentamente. Eu podia acompanhar sua respiração, seu piscar de olhos, o movimento dos seus lábios.
- Bem, eu tenho que ir, está tarde... - Aquelas palavras doeram em mim por serem ditas, eu honestamente não queria ir embora, mas precisava.
- Tudo bem, mas antes..
Ela não terminou a frase, apenas me beijou, e novamente o tempo parou. Meu corpo inteiro fraquejou quando sua língua aveludada tocou a minha suavemente. Pouco depois, ela separou nossos lábios e sorriu para mim. Aquele maldito sorriso fez meu coração ir à mil e minha cabeça rodar. Eu nunca havia sentido isso. Nem pelo Jamie, nem por nenhum dos meus antigos namorados. Ninguém havia me feito ir aos céus e voltar apenas com sorrisos, ninguém havia feito o tempo parar com beijos, ninguém ainda havia me mostrado o sentido das coisas mais incríveis durarem tão pouco. A duração é a intensidade que marca. Se dura pouco, deixa grande saudade. Se durou pouco, o pouco que durou foi o mais intenso que provou.
- Agora vá, se não eu acabo sequestrando você e nunca mais te deixo sair de minha presença. - Acabei rindo com sua brincadeira.
- Boa noite, baby. - Me despedi dela e em seguida selei rapidamente nossos lábios. Abri a porta do carro e fui em direção à minha casa.
Quando cheguei em casa e tranquei a porta, encostei minhas costas no madeiro atrás de mim e conforme as informações vinham me dominando e a ficha de que tudo que tinha acontecido era real caia, eu fui escorregando até sentar no chão. Havia um sorriso de orelha à orelha fixado no meu rosto, eu não conseguia conter minha felicidade. Aquela mulher estava fazendo com que eu sentisse coisas que jamais senti e de forma inesperada. Foi tudo sem que eu percebesse, foi tudo de forma mútua e natural, e ao mesmo tempo, foi no ato. Eu não sabia o que era aquilo, mas era bom, eu gostava e queria mais, muito mais.
O som dos passos vindos da cozinha, me fizeram levantar rapidamente, tirar meu salto e ir correndo para o quarto. Queria evitar ser vista com aquela cara de idiota, porque não saberia responder as perguntas que me seriam feitas. Eu tomei um banho rápido, vesti meu pijama e fui para a cama. Eu sabia que naquela noite o sono não iria conseguir vencer meus pensamentos, mas eu não estava me importando.
(...)
Eu estava em meu escritório, mas minha cabeça estava em outro planeta completamente diferente. Na dimensão onde eu me encontrava, os olhos dela me olhavam atentamente e aquele sorriso iluminava todo o lugar. Eu me sentia ansiosa, mesmo sem razão específica. Minha perna tinha vida própria, balançava sozinha, mesmo que eu tentasse pará-la, ela voltava a se mexer. Todas as vezes que eu tentava me concentrar em meu trabalho, a risada de Samanun surgia nos meus pensamentos e me tirava a concentração, logo depois vinha seu olhar, seu cheiro, e consequentemente sua boca, seu beijo. Aquele beijo fez com que me sentisse nas nuvens, mas eu não poderia ficar lá para sempre, eu tinha um trabalho para fazer e estava a horas tentando iniciar, porém, era em vão. Eu tinha que pousar minha mente, mas não sabia como.
- Mon! - A voz de Ally surgiu alta e animada, e eu levei um susto, claro, mais uma vez estava no carro de Sam onde tudo aconteceu. Nosso beijo.
- Mon, está tudo bem? - Ally me perguntou cruzando os braços e me olhando de um jeito estranho.
- Ahn...? - Eu estava tão desconexa que já havia me esquecido qual pergunta havia sido feita.
- Pelo que vejo, a noite foi um tanto memorável. - Ela disse com um tom malicioso e eu ia questionar à ela de como ela sabia o que poderia ter acontecido mas ela não deixou. - Quer saber, é véspera de feriado, vá pra casa. Você trabalha tanto, não tira férias, vá descansar. Você está dispensada por hoje, Mon.
A mulher falou tudo rapidamente de forma animada, e eu ia responder, mas mais uma vez ela não deixou, apenas deu as costas e saiu porta a fora.
- Ahn... Obrigada? - Eu falei mais comigo mesma já que Ally já tinha saído da sala.
Aos poucos, fui me dando conta de que estava liberada e relaxei na cadeira. Ally tinha razão, eu precisava descansar, precisava sair um pouco de órbita e acalmar essa loucura que estava os meus pensamentos, e eu tinha o lugar ideal para ir, fazia muito tempo que eu não ia lá. E mais uma vez minha mente foi levada até Sam. De repente a ideia surgiu de rompante. Peguei meu celular e disquei seu número, no segundo toque ela atendeu.
- Hey, Mon. - Aquela voz rouca dela, mesmo ao celular, me causou arrepios.
- Ontem você me convidou para ser sua acompanhante naquele evento, e agora estou te convidando para me acompanhar nesse feriado, o que acha? - Eu falei tudo de uma vez porque se eu fosse por partes talvez não conseguiria chamá-la pra ir comigo. Agora eu entendi o nervosismo dela.
- Quais são seus planos? - Perguntou.
- Só me diga se aceita ou não.
- Claro que aceito!
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The Last Coffee (Em revisão)
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...