Cap 4 - Eu o conheci mais

13 1 1
                                    



•••

Eu mal podia acreditar que Lívia havia me convencido a ir àquela festa. Minhas pernas estavam pesadas, e cada batida da música parecia ecoar em minha cabeça. Eu sabia que não deveria ter bebido tanto, mas a energia contagiante da multidão me arrastou para longe da realidade.Lívia, sempre animada, dançava como se não houvesse amanhã. Enquanto isso, eu lutava para manter o equilíbrio em meio à multidão pulsante.

Foi quando o vi: um cara com um sorriso travesso e olhos que brilhavam com a promessa de diversão e intensidade. Entre risadas nervosas e conversas confusas, nos encontramos em um canto escuro. Seus lábios encontraram os meus, e por um breve momento, o mundo pareceu desacelerar. Mas a sensação de cansaço e embriaguez logo retornou, e eu sabia que precisava de ar fresco.

Despedi-me de Lívia, que estava ocupada flertando com outro rapaz, e me arrastei em direção a uma porta marcada com uma placa de "saída de emergência". Subi as escadas até chegar ao terraço, onde a brisa noturna acariciava meu rosto.Encostei-me no corrimão, olhando para o horizonte iluminado pelas luzes da cidade. O silêncio ali em cima era um contraste bem-vindo com a agitação lá embaixo. Eu me sentia como se estivesse em outro mundo, longe das preocupações e dos arrependimentos da noite.E, apesar de tudo, naquele momento, eu sabia que valia a pena. Afinal, mesmo nas noites mais loucas e confusas, sempre há um lugar tranquilo para encontrar um pouco de paz, ao ouvir um barulho e me toquei que era Falkket, o mesmo rapaz que tivera beijado mais cedo da noite.

— Você está bem? — ele perguntou, olhando preocupado para mim.

— Estou... um pouco cansada, acho. — respondi, esfregando os olhos para tentar focar melhor.

— Sabe, desde que te vi naquela pista de dança, algo em você me intrigou. — ele se aproximou mais, os olhos sérios agora, seus olhos refletiam o brilho do luar.

— O quê? — fiquei surpresa com sua franqueza.

— Você parece tão segura de si, mas ao mesmo tempo, há uma tristeza em seus olhos. Como se sua alma estivesse quebrada, mas você ainda estivesse de pé, lutando. — seus comentários me atingiram em cheio, como se ele pudesse enxergar através de todas as minhas defesas.

— É engraçado, — murmurei, — eu sempre quis viver em um mundo onde eu pertença, onde eu me sinta completa. Mas parece que estou sempre lutando contra mim mesma.

Ele assentiu, compreensivo. — Eu entendo. Às vezes, a luta mais difícil é aquela que travamos dentro de nós mesmos. — Houve um momento de silêncio tenso entre nós, antes de ele quebrá-lo. — Você é diferente de qualquer pessoa que já conheci. Tão forte, tão decidida, mas ao mesmo tempo tão vulnerável.

— E você? — perguntei, curiosa, mas ao mesmo tempo eu não poderia deixar de pensar que palavras dele me atingiram em cheio, tocando em algo profundo dentro de mim. — Quem é você, realmente? Eu ainda não encontrei o meu lugar no mundo, mas e você?

— Eu tenho uma opinião mais diferente. — ele se aproximou com um leve sorriso. — Se encontrar não é o destino, é o trajeto. Eu não sei quem eu sou, mas tenho certeza que não cheguei lá ainda. É entender que encontrar seu lugar no mundo é uma jornada diária, talvez desmembrar a ideia de ter que encontrar algo pra ser completa pra perceber que você já é completa, só está fazendo uns ajustes...

— Você sempre tem as palavras certas para descrever essas coisas. — olhei para ele com uma certa admiração, afinal ele era realmente intrigante.

— Obrigado Ayla. — ele sorriu levemente. — Mas a verdade é que todos nós estamos apenas tentando descobrir quem somos, certo? No final do dia, por mais dual que possa ser, você sempre vai fazer esses ajustes...

— Sim! — assenti. — É verdade. Às vezes, parece que estamos nos desdobrando em mil pedaços só para tentar nos encaixar.

— Exatamente. — Falkket me olhou pensativo e lançou um riso baixo. — No final, eu não sou o Falkket e você não é a Ayla. Somos sobreposições de ideias e identidades que temos que assumir cotidianamente para lidar com os contratos sociais que o universo nos impõe... É por isso que é tão difícil saber quem somos... Somos muito, mas não somos nada ao mesmo tempo.

— Sabe. — comentei olhando em seus olhos. — É uma maneira interessante de ver as coisas. Talvez precisemos nos libertar dessas expectativas e apenas ser quem somos, sem tentar nos encaixar em nenhum molde predefinido. — eu não estava entendendo o que realmente estava acontecendo, mas era como se eu pudesse me sentir segura com ele, como se eu pudesse confiar nele e em quem ele era.

— Exatamente. — ele comentou colocando uma mecha do meu cabelo por trás da minha orelha. — E talvez, nesse processo, possamos encontrar um pouco de paz e autenticidade.

— Olha! — cortei o silêncio por alguns segundos. — Aquela é a constelação de Hydra.

— É incrível como o universo está cheio de maravilhas, não é mesmo? — ele observou as estrelas com fascinação.

— Sim, é verdade. Às vezes, olhar para as estrelas me faz sentir pequena, mas ao mesmo tempo, me lembra de quão vasto e cheio de possibilidades o mundo é. — suspirei olhando o chão dessa vez, não entendi o porquê estava me abrindo com ele.

— Você parece tão serena agora, Ayla. Mas eu sei que a vida nem sempre é fácil. — ele me olha com curiosidade e fascinação.

— É verdade... Às vezes, sinto-me pressionada, como se estivesse em um ambiente onde tenho que ser perfeita o tempo todo. Isso me deixa aflita, porque eu sei que não sou perfeita. Eu só quero ser eu mesma, sem medo, sem nada. Apenas amor e otimismo. — comentei, me assustei com a velocidade das palavras, não era algo que eu esperava falar tão rápido.

— Você não está sozinha, Ayla. — ele colocou a mão no meu ombro sorrindo, céus como ele é bonito. — Todos nós lutamos com esses sentimentos de vez em quando. Mas lembre-se, você não precisa ser perfeita para ser amada e valorizada. Você é única e especial do jeito que é.

— Engraçado você dizer que eu sou única e especial. — ri fazendo aspas com as mãos. — Você me conheceu hoje. — nós dois rimos juntos. — mas, falando sério agora. — suspirei. — Às vezes, é bom ouvir isso de alguém. — mesmo que seja de alguém que conheci hoje.

— Tecnicamente, você me conhece a dias. — ele sorriu me arrancando um sorriso. — Mas, voltando a falar uma seriedade. — Sempre que precisar, estarei aqui para lembrá-la de quão incrível você é. E se alguma vez se sentir sobrecarregada, olhe para as estrelas. Elas sempre estarão lá para nos lembrar de que somos parte de algo maior e mais bonito.

— Uau! — exclamei sorrindo. — Isso é, tão profundo.

Enquanto Falkket falava, um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Como ele havia me estudado tão bem em tão pouco tempo juntos? Era fascinante e ao mesmo tempo um pouco assustador, mas havia algo reconfortante na maneira como ele estava genuinamente se prontificando a estar pronto para mim.

A ideia de alguém estar verdadeiramente lá para mim, mesmo nos meus momentos de confusão e vulnerabilidade, era algo que eu não conseguia entender completamente. Mas, ao sentir um certo frio na barriga, percebi que talvez fosse hora de me permitir confiar um pouco mais.

Um sorriso discreto se formou em meus lábios enquanto eu contemplava essa nova perspectiva. Talvez, apenas talvez, Falkket fosse exatamente o que eu precisava, mesmo que eu ainda estivesse tentando entender completamente o que isso significava.

BRIGHT • FALLKET Where stories live. Discover now