— Prenda-os. — ordenou, e os últimos entre aqueles que estiveram às costas de Kastor no decorrer de seu golpe e com o Regente em sua tentativa de assassinato tinham grilhões nos pulsos e tornozelos em segundos.
Foi então que, dispensando seus homens com os novos prisioneiros num único gesto peremptório de sua destra, Laurent pôs-se, outra vez, firme e célere atrás da padiola que levava um já inconsciente Damianos, não permitindo que Nikandros, teimosamente em seu encalço desde que saíram dos banhos, fizesse diferente disto.
Dadas as recentes reviravoltas, Ios – Akielos como um todo – necessitava não da histeria, mas do estoicismo comandante de seus líderes.
Sim, Laurent não era seu líder. Tampouco o era Nikandros. Damen, contudo, não estava em condições de ser entronado. A profundidade demasiadamente hemorrágica de seu ferimento afirmava isso a cada novo passo dos curandeiros apressados.
Por estas razões, Laurent incumbira-se de manter a ordem entre e para os akielons, procurando aplacar ânimos e possíveis receios ao lançar, no uso de uma autoridade sólida e tranquila, orientações a todos aqueles cujo abalo não suplantava a qualidade útil. E estes, ainda que tivesse acabado de vê-lo se passar por réu, por um conspirador asqueroso e traidor da própria pátria, seguiram-no de pronto.
Tinha de garantir que Damen despertaria para um reino que o aceitasse automática e imediatamente. Tinha de garantir que todos estivessem de acordo para quando Damianos viesse a estar também, e ele estaria. Laurent não admitiria o oposto. Não quando quase se sacrificara pelo bem de suas nações entregando-se ao controle do homem que o estuprara e arruinara consecutivas e definitivas vezes, quando quase se sacrificara pelo bem do próprio Damianos – Damianos este que, em sua fidelidade absoluta, infinita e incomensurável, viera atrás dele, e se não para resgatá-lo, para morrer junto dele.
Em meio àquele mar de desespero frenético na Corte – uma baderna quase generalizada de nobres, soldados e escravos perdidos – Laurent mandou e desmandou, visando pôr fim ao pandemônio em prol de um punhado de organização valorosa para o reino. Mas não era como se ele próprio não estivesse tendo problemas para suster a si mesmo. Estando tudo tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante, não era de se admirar.
A euforia advinda da morte de seu tio – de sua vitória mal calculada, mas bem sucedida - não aplacando em nada o desespero que sentiu ao ver seu amor, um homem invencível, incólume e inquebrável, caído sobre o chão, vazando vermelho por toda parte, muito vermelho, o vermelho da Regência.
Não foi à toa que Laurent se inclinou de bom grado para a lâmina afiada do carrasco afinal. Entretanto, ali estava, são e salvo graças a uma virada terrivelmente incrível nos eventos, enquanto Damen jazia semimorto numa maca. Não. Não era aquilo que pretendia, tampouco havia absorvido.
Segure-se, Laurent. Você precisa. Damen ainda mais.
— Nikandros — Colocou um braço ensanguentado, cuja visão lhe causava náuseas, em frente ao peito do homem, interrompendo seu avanço rumo ao pé da cama de Damen. Um quê assassino urgia indômito em meio à castanhez de suas íris ao mirar Laurent. Laurent não se importou. — deixe espaço para os verdadeiramente necessários.
Bastou o mármore requintado ser fechado em seus rostos para a fachada do homem à sua frente cair. Ele jogou o braço de Laurent com aspereza para longe de si, não restringindo a voz nem um pouco ao dizer:
— Não pense nem por um minuto que vou deixá-lo a sós com ele, veretiano. Não confio em você ou em sua raça degenerada! Nunca confiei!
E faz bem.
— Mas ama seu reino — replicou, mais veloz que o bote de uma cobra. — e quer vê-lo tão próspero quanto o foi sob o governo de Theomedes. É este motivo que fará você me obedecer como se eu fosse o seu rei.
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Antes do Palácio de Verão
FanfictionOs primeiros minutos - e horas - após o último capítulo de "O Rei", nos quais Laurent se prontifica a sedimentar a vitória sobre seu tio, sobre Kastor, Ios, Akielos e Vere, enquanto tenta não enlouquecer nem pelo estado em que se encontra Damianos e...