Nec diabolus fortitudinem haberet

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gatilhos; abuso psicológico implícito, violência 

"Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria." — Dante Alighieri


O vazio do corredor lhe assombrava, como uma lembrança de que todos que algum dia desenvolveu um sentimento bom haviam morrido.

Além de frio e cheio de névoa, aquele lugar o lembrava da pior parte da sua vida, sua infância.

Nunca havia gostado de estar lá, gostava dos seus irmãos mas aquilo não compensava a tortura que passou apenas ser ele mesmo.

Até hoje as palavras daquele que se dizia um homem de Deus lhe assombravam, xingamentos tão hostis que nem o diabo teria a coragem de falar aquilo para uma criança.

Todas as noites, sua mente matava um pouco mais do seu psicológico, apenas com lembranças daqueles tempos.

Gal tão imerso nos pensamentos nem ouve os barulhos de passos, apenas percebe quando já haviam lhe pegado.

Ele nem tenta lutar contra o guerreiro, apenas se deixando levar pelos machucados que ele fazia. Sabia que ele fazia aquilo numa intenção de tortura-lo, mas nada parecia dor mais que o próprio passado.

"Você irá para o inferno por gostar do capeta" Ah, como aquela frase dava voltas em sua mente.

Com cinco anos aquela frase foi dita a si pelo simples fato de querer deixar seu cabelo crescer.

Por mais rebelde que havia sido na infância, ele nunca duvidou das capacidades daquele padre, ou oque ele era para ser.

Nem percebeu quando outros agentes foram se aproximando de si, tirando o guerreiro de cima de seu corpo frágil.

Após essa retomada de consciência, percebeu o quão fraco estava seu corpo, tudo parecia doer.

Braços, pernas, cabeça, costelas, barriga.. tudo.

Podia ouvir a voz de Gaspar falando com o guerreiro que havia acabado de espanca-lo.

A voz que sempre ouvirá em um tom calmo e agradável agora parecia raivosa, quase como se cada palavra vocalizada estivesse causando uma dor física.

Não entendia o que ele falava, em menos de um minuto seu corpo perdeu a visão, restando apenas um breve momento de lucidez.

Quando de repente toda a sua consciência foi arrancada de si, então aquilo era a morte?

Era uma sensação completamente nova mas ao mesmo tempo libertadora, como se tivesse se livrado de todo o mal que havia em sua alma.

Apenas com aquela sensação sentia que não teria que passar pela tortura do purgatório, Deus sabia que já havia sofrido demais.

Em sua mente havia apenas algumas memórias, as únicas felizes que algum dia teve.

Sentiu-se sorrindo mesmo que não soubesse se ainda havia corpo.

Então essa era a sua morte, finalmente o seu tão merecido momento de paz, o tempo que poderia se renovar para que na próxima vida não fosse alguém tão ruim quanto havia sido nesta.

iniustitiam - gal salOnde histórias criam vida. Descubra agora