ᴠᴏᴄê é ᴜᴍᴀ ᴠíᴛɪᴍᴀ ᴅᴏ ᴍᴇᴜ ᴇɢᴏísᴍᴏ

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"Mãe, por que eu não sou ele?"

Era isso o que meu coração pedia, implorava, suplicava, se humilhava para minha mente para arrancar essa pergunta da garganta. Essa pergunta rasgava minha traquéia com uma faca bem pontiaguda, ao invés de só acabar com a dor, prefiria me torturar até se satisfazer.

Eu não sei se esse é o jeito certo de começar uma carta, mas juro que darei meu melhor.

Nos conhecemos em 1 de janeiro, e se não fosse você, eu poderia ter morrido no exato dia em que nasci. Eu havia me perdido da minha mãe nas vastas ruas de Busan, e pelo meu azar (ou sorte) as ruas estavam lotadas e os carros engarrafados. Eu me lembro perfeitamente dos meus sentimentos naquele momento, uma falta de ar marcou sua presença como um aluno nerd que nunca falta uma única aula, minhas mãos trêmulas, alguém martelando sem piedade minha cabeça, incontáveis olhares masculinos por toda parte, as luzes fortes das lojas cegando meus olhos, era definitivo, o final da minha história iria ser nesse dia.

Depois de alguns minutos, meu desespero começou a desaparecer e a aceitação dominou minha mente, "ela não vai me encontrar, ou eu morro por um tiroteio ou por sequestro, e de brinde sou estuprada", essas palavras nunca sairam da minha cabeça desde esse dia, e o que mais doeu, foi ouvir minha própria voz dizendo tais verdades. Pela primeira vez, não me importei em deixar minhas lágrimas à mostra, normalmente eu odeio as pessoas me vendo chorar, ou mais especificamente, odeio olhares de pena e atenção.

Andei de cabeça baixa pelas ruas, entrei em becos desconhecidos, esbarrei em desconhecidos, ouvi assobios nojentos de velhos embebedados direcionados a minha pessoa (mesmo estando de calça e moletom), até que meus olhos encontram uma pintura em aquarela, a mais linda de todas, onde todas as buzinas e gritos somem, meus olhos foram agraciados pela ampla visão do mar.

O vento que antes era insuportável, agora é apenas uma leve e meiga brisa, meu coração não está mais morto, sinto ele batendo de novo, sinto meus pelos arrepiarem, uma sensação de paz e conforto me atinge. Tiro meu all star e ando lentamente até a areia, quando consigo senti-lá, um sorriso pequeno se forma em meus lábios secos, eu só visitei a praia uma vez, quando eu tinha 5 anos, você sabe disso.

As luzes das estrelas no reflexo da água tornavam tudo mais paradisíaco. Caminhei até o quebra mar, me acomodei no chão, abracei minhas pernas e apenas assisti as ondas perfomarem seu espetáculo. Quando a água fria tocava nos meus pés era incrível, o choque térmico sempre me arrepiava. Olhando ao redor, não havia visto ninguém, ou pelo menos era isso que eu acreditava.

Sem ter tempo de reagir, um homem me empurrou e prendeu meus punhos com sua mão, ficando por cima de mim. No momento em que o encarei, percebi que não tinha forças o suficiente para sair dessa situação, eu não tinha forças para me salvar, mas, meu único desejo, era que esse curto paraíso tivesse durando um pouco mais. "Me desculpa, estou fugindo da minha namorada que me flagrou com outra mulher, eu preciso relaxar, você me entende docinho?", não, eu não entendia.

Fiquei em silêncio, senti o gosto das minhas lágrimas em meus lábios, meus olhos queriam desligar assim como minha mente, e sinceramente, eu preferia mil vezes que ele tivesse uma faca, e não um pênis.

Suas mãos sujas tocavam minha pele por debaixo do moletom enquanto sua boca beijava meu pescoço. E antes que ele pudesse fazer mais alguma coisa, ouço um grito feminino se aproximando de nós, o homem rapidamente olha para frente espantado, e em paços lentos, se distancia do meu corpo se rendendo a alguém. Meu corpo não reagia, não conseguia me mexer ou falar, apenas escutava uma mulher o ameaçando.

EGOÍSMO » 𝘄𝗶𝗻𝗿𝗶𝗻𝗮Onde histórias criam vida. Descubra agora