Era uma vez...

2 1 0
                                    

Em uma ilha perdida no meio do oceano, vivia uma deusa, Aslandre, a deusa da vida. Nascida do mais puro "nada", sem auxílio algum começou a criar sem saber. A vida era algo delicado, e equilibrar o belo e o devastador era complicado, ela não tinha controle suficiente para desfazer o que já estava feito, sendo assim, teve que aprender a manipular a vida até se tornar algo seguro o suficiente para evoluir. Tinha respeito de todo ser em que a vida residia e, mesmo cercada de animais, passou milênios em solidão, até criar algo diferente. De início, pensou que fosse apenas uma bolinha de pele alaranjada, até se esticar, grandes olhos alaranjados lhe miraram e um sorriso cresceu nos lábios da coisinha.

— O que é você, coisinha? — Examinou cuidadosamente a criaturinha em seus braços e recebendo apenas uma mistura de sons em resposta. — Ah, claro. Eu te criei, portanto ainda não tem um nome…

Quase de imediato, uma arara aparece e pousa na cabeça de Aslandre.

— Senhora, o que é essa criaturinha? É uma espécie nova?

— Parece que sim, mas não sei que nome dar a ela.

— Ela é bonita, acho que Alicia combina bem, o que acha?

A arara torna a voar, enquanto a deusa se mantém pensativa, analisando a criaturinha, que agora enfiava as mãos pela boca e sorria.

— Alicia… O que acha? A partir de agora você é Alicia, da espécie Patrians. — Alicia para de morder os dedos e fixa seu olhar em Aslandre, que observa em expectativa e recebe uma risada como resposta.

Determinada a cuidar de sua mais nova criação e sem nenhuma ideia de como fazer isso, passou cinco anos ensinando tudo o que sabia à pequena Alicia.

… 

Agora com seis anos, Alicia era curiosa e enérgica. Aslandre já não conseguia mais segurá-la; então decidiu que era melhor que sua criança aprendesse a se virar sozinha. Deu-lhe uma manta, laços de flores e um amuleto, e levou-a até o meio da floresta.

— Os laços flores continuarão vivos enquanto você estiver longe. Use-as para marcar seu caminho e tome cuidado, criaturinha. — Se abaixou até estar cara a cara com a menina, acariciou seus cabelos alaranjados e deixou um beijo em sua testa.

— Tomarei cuidado! — Alicia sorriu confiante e começou sua jornada.

Na sua primeira noite, comeu algumas frutas e se acomodou ao pé de uma árvore, com uma folha grande a esquentá-la. Seguia andando e observando, até ouvir alguém a chamar.

— Ei, ei! Você aí! Me ajude!! — Seguiu a voz até algumas pedras e encontrou um Coelho branco.

— O que aconteceu com você? Por que está pedindo ajuda? — Se abaixou, tentando ficar na altura do Coelho.

— Eu vim pegar algumas frutas, mas minha pata acabou ficando presa nessas pedras. Pode me ajudar? — Apontou para a pata, que, de fato, estava presa.

— Claro, eu posso te ajudar. — Se levantou e usou toda sua força para puxar a pedra para o lado, mas conseguiu mover apenas alguns centímetros. — Acho que não tenho tanta força assim, não consigo te ajudar.

Um cervo que passava por ali parou ao ouvir a conversa.

— Ajudar? Quem precisa de ajuda?

— Minha patinha tá presa! — Choraminga o coelho. — E a menininha não tem força suficiente para me ajudar.

— Bom, eu ajudo então! — O cervo passa por cima do Coelho e fica do lado contrário ao da menina. — Você puxa, e eu empurro. Assim tem mais chance de dar certo.

Alicia concorda com um balançar de cabeça e um sorriso, e lá vão eles, com um pouquinho de força e jeitinho, a pata do Coelho conseguiu sair de debaixo da pedra.

— Conseguimos! Nós conseguimos! — Brandou a menina, ao mesmo tempo em que um uivo alto ressoou pela floresta. — O que foi isso?

O Coelho tremia de medo e o cervo saiu correndo.

— O L-lobo! Corram, escondam-se quem puder! — E saiu dali, pulando apressado.

— O que? Por que temos que correr? — Olhava o Coelho pulando para longe e se virou para o som. — Aish, ele está exagerando! Esse tal de lobo nem deve ser assim tão perigoso!

A menina volta a andar por aí enquanto o tempo se fechava, indicando que iria chover. Enquanto procurava uma caverna para se proteger, acabou dando de cara com o lobo.

— Ora ora, o que temos aqui? — Aproximou-se vagarosamente.

— Olá, sou a Alicia. Você é o senhor Lobo, não é? — Sorriu e estendeu a mão para acariciar o pelo do lobo, e o mesmo recuou.

— Por que você não tem medo de mim? 

— E eu deveria? — Deitou a cabeça para o lado, expressando confusão.

— Claro! Eu posso te fazer muito mal. Não está preocupada com isso? — Ele parecia nervoso e estava com os dentes à mostra.

— Não, sei que não fará nada de mal comigo! — Respondeu e saiu andando novamente, deixando um lobo embasbacado a olhar para suas costas. 

. . . 

Após mais alguns anos de caminhada, já tinha encontrado todos os tipos de bichos e, no fim, acabou voltando para sua casa e para Aslandre.

— Criaturinha? Que bom que voltou! Como foi lá? — Aslandre pergunta enquanto abraça a menina.

— Foi muito legal; fiz amizade com muitos bichos e até com um lobo! Mas é bom voltar para casa.

— Que bom, me conte então sobre como fez amizade com um lobo.

Elas caminharam para dentro, deixando a mochila com as flores no chão; flores essas que começaram a murchar. 

ೋ❀❀ೋ═══ ❀ ═══ೋ❀❀ೋ


Patrians - O ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora