As Coisas Estão Estranhas

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Entre todas as coisas do mundo que poderiam ter acontecido, eu a encontrei desse jeito. Eu normalmente reclamaria, mas acredito que fazer isso nesse exato momento não adiantaria de nada, ainda mais que de certo modo aconteceu o que eu queria. O problema é que estou atualmente em cima dela ocupando o lugar do príncipe, isso é problemático se ela não o encontrou ainda, já que pode mudar toda a linha cronológica da obsessão daquele psicopata. Vejo o olhar da Juno me encarar sem nenhuma expressão; ela normalmente não demonstra nada nesses momentos, como com o príncipe, o que fez ele se interessar por ela. Notando que estou mais tempo do que o suficiente nessa posição, me levanto me limpando e ofereço minha mão para ajudá-la a levantar.


- Desculpe, senhorita. Eu estava desatento por onde estava indo. - Digo calmamente, meio desinteressado. Não quero me envolver com ela e muito menos virar amigo dela, só quero acabar com essa conversa logo e fazer minha missão.


- Não tem problema, senhor Kigae. Foi apenas um acidente, e eu peço desculpas por não prestar atenção por onde eu estava indo. - Ela fala de forma educada, enquanto faz uma reverência leve para me cumprimentar.


- Sem problemas, senhorita Juno. Tem algo que eu possa fazer para compensar essa ação desastrosa? - Pergunto com um sorriso leve, fazendo uma reverência em resposta à dela. Eu sei que não quero me envolver com ela, mas ela é a única pessoa de bom coração junto com a vilã do cenário; então, no mínimo, quero compensar o problema que causei a ela.


- Não precisa se preocupar com isso, senhor Kigae. Alguém da minha estatura não merece nenhum presente seu, senhor. Desculpas por si só já enchem meu coração de felicidade. - Ela diz com um sorriso leve, brilhante e, acima de tudo, lindo. Ela não é a protagonista à toa, mas algo está me incomodando nessa conversa. - Ainda mais que é a segunda vez que isso acontece hoje. - Ela termina, dando uma pequena risada, e com isso bate em mim o fato de que ela já encontrou o príncipe e teve o evento dele acontecer... Merda, eu falhei nisso. Agora ela está na mira do príncipe, e eu acabei de me envolver com ela em um acidente que pode ser mal entendido. Se isso chegar aos ouvidos daquele homem... Droga, calma Hinoru, pense bem. Eles já tiveram o seu encontro, e ainda é muito cedo para ele mandar espiões para vigiá-la. Por enquanto, estou limpo.


- Entendo. Nesse caso, senhorita Juno, eu irei me retirar. Falta pouco tempo para a iniciação. - Digo, virando-me e começando a andar em direção ao auditório. Eu vou chegar atrasado, e provavelmente a Hikari vai pisar nos meus pés até dizer chega por causa disso, mas algo está estranho em tudo isso... Juno está diferente. Normalmente, ela deveria reagir com falta de interesse e indiferença, mas ao contrário, ela está sendo super amigável e ainda rindo. Tem algo estranho aqui. O que aconteceu entre ela e o príncipe para ela ter uma mudança desse nível?


- Espere! - Ouço-a exclamar, fazendo-me parar em dúvida sobre o seu chamado. - Tenho uma pergunta, senhor Kigae... Como você sabe meu nome antes mesmo de eu me apresentar? - Ela pergunta, e aí que cai a ficha de que quando eu caí em cima dela, eu disse o nome dela completo. Okay, calma... Eu preciso criar um motivo ou pelo menos algo coerente. Respire, Hinoru, e pense. Juno tem um grande senso de donzela amigável e inocente. Talvez eu possa tentar usar isso a meu favor.


- Bem... Eu sei que pode parecer inacreditável, mas ele combina muito com você. - Falo, sorrindo de olhos fechados. Isso é muito vergonhoso de atuar, mas espero que funcione para brincar de cavaleiro em um alazão aqui.


- Ah... S-sério? - Ela pergunta, meio tímida, enquanto se encolhia.


- Sim, foi o primeiro nome que me veio à mente quando olhei em seus olhos... Aliás, é um nome belo. - Digo, tentando manter a aura de cavaleiro em Alazão. Se quero protegê-la durante os anos de academia até eu matar os psicopatas, seria bom manter uma relação de amizade, mas uma distância considerável para evitar que o príncipe me coloque na mira dele.


Ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela estava calada, parecendo que estava perdida em seu próprio mundo. Vendo isso, eu apenas faço uma reverência e deixo a Juno estranha aos seus próprios pensamentos. Realmente, irei me atrasar feio... Hikari vai me matar. Depois de alguns minutos andando rapidamente pela academia, eu chego no auditório, onde há muitos alunos sentados conversando e parece que no estande no auditório, onde o conselho estudantil estaria, apenas dois estão presentes. Pelo menos cheguei antes do príncipe, e os outros dois continuam como eu disse para Hikari; parece que nisso eu acertei raspando. Sendo honesto, não tinha certeza de que acertaria nessa parte, ainda mais que comigo aqui, as variáveis mudaram, mas por sorte ou destino, pelo menos dois se manterão. Agora falta o príncipe. Olho meu relógio de bolso e vejo que faltam 5 minutos para dar o horário exato que ele se atrasa no roteiro original. Suspiro e começo a procurar minha irmã, vendo-a sentada olhando seriamente para o estande, com um olhar analítico e parecendo perdida em seus próprios pensamentos. Me sento ao seu lado furtivamente para não tirá-la dos seus pensamentos, e depois de alguns segundos, ela diz:


- Parece que você não está louco... Provavelmente. - Ela sussurra baixo o suficiente apenas para eu ouvir, enquanto estava com uma mão em sua cabeça, parecia estar pensando demais nisso.- Bem, eu disse que queria me abrir para você sobre isso. - Digo, sussurrando, fixando meu olhar no estande do conselho estudantil que iria fazer o discurso de boas-vindas. Ouço ela suspirar, e depois ela segue.


- Precisamos conversar seriamente depois disso tudo. - Ela fala seriamente, como se não tivesse nenhum pingo de sentimento em sua voz, emoção... Ou qualquer coisa do tipo. De certo modo, ela me deu medo quando disse isso. Por um segundo, ela não parecia a minha irmã sarcástica e inteligente. Bem... Espero que não seja o que estou pensando, mas ficarei de olho nela. Mas deve ter sido o choque ou... Não vamos por esse lado.


Com o tempo, o príncipe chegou. Ele se arrumou no estande com sua cara séria e, com um pigarro, começou o seu discurso de boas-vindas para os calouros. Eu, de certo modo, não prestei atenção; conhecia esse discurso de cima para baixo, afinal... Eu escrevi. Olhar para o príncipe e para os outros dois assim pela primeira vez me dá um frio no estômago. Não posso dizer que não estou com medo deles, afinal, sabendo o que eles fazem. Eu me pergunto se tenho realmente as forças para matá-los? Isso é... Eu não posso hesitar, tenho certeza de que não posso dar um passo atrás e deixar as tragédias enormes que irão acontecer aqui se desenrolarem. Eu posso não lembrar meu primeiro nome, mas por ele, juro que não irei deixar nada de ruim acontecer aqui, mesmo que eu tenha que virar um assassino e um monstro manipulador.


- Então, alunos e alunas, espero que se sintam em casa em nossa academia e que prosperem com o seu grande conhecimento pelo crescimento do Império... Com isso, declaro-vos boas-vindas à academia. - William, o Príncipe, diz em sua voz amigável e gentil a todos, enquanto palmas ecoam pelo auditório completo. Muitos estavam animados, outros já estavam começando a formar conexões. Respirando fundo, eu só digo o suficiente para Hikari ouvir.

- Que comecem os jogos. - Ela nem vira o olhar para mim e ainda, com sua figura neutra e olhar vazio, responde.

- Eles já começaram antes de você perceber... Irmão.

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⏰ Última atualização: Apr 07 ⏰

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