Point of view: Narrador.
E naquele alvorecer, onde o sol surgiu espremido entre as montanhas, exibindo seus raios alaranjados tudo indicou que seria apenas mais um dia ensolarado. No resto do mundo, até poderia ser, mas naquele chalezinho, que parecia uma casa de bonecas, algo mágico reservava aquele dia.
O calor do dia recém-nascido invadiu a janelinha de madeira e aqueceu o rosto de Mon, trazendo-a do mundo dos sonhos de volta ao mundo real - que naquela manhã tão especial e iluminada pelas bênçãos de um criador benevolente, poderia ser facilmente comparado ao paraíso.
Seus olhos se abriram e seus pulmões se inflaram num suspiro matutino; despertando totalmente, ela se espreguiçou, tomando cuidado para não acordar o anjo que dormia ao seu lado. E, cuidadosamente, ela rastejou para fora da cama e, caminhando na pontinha dos pés, feito uma bailarina que havia trocado o collant por um moletom de algodão, rumou até o banheiro
Parada em frente ao espelho médio, posicionado em cima da pia, cariciou os cabelos, avaliando sua cara de sono refletida diante seus olhos. Colocou os fios para o lado, tentando um possível penteado para aquela manhã e, não gostando do resultado, prendeu-os em um coque frouxo, com alguns fios soltos. O resultado foi ótimo! Aquele penteado lhe combinara muito bem.
Lavou o rosto, escovou os dentes e, de repente, se sentiu esquisita. Mas de um jeito bom.
A sensação confusa que lhe vertia, causando-lhe muita estranheza, a fez sentir que seu corpo estava diferente. Sentia algo parecido como na manhã seguinte de perder sua virgindade. Ali, de frente para o espelho, encarando seu reflexo, Mon se sentiu mulher, mas não como sentia antes. Alguma coisa dentro dela a fez sentir completa, ao contrário das outras vezes.
Ela só não conseguia entender o que diabos era aquilo que lhe estava ocorrendo.
Arrepiada, esfregou os braços cobertos pelo casaco e, tornou a encarar seu reflexo. Percebeu então que sua aparência havia mudado bruscamente; parecia muito mais bela que antes. Por dentro de sua carne, as transformações eram tantas ao ponto de não conseguir descreve-las. Não fazia ideia como aquilo havia acontecido. Tinha dormido de um jeito e acordado de outro.
Todavia, bastou que relembrasse os toques, os olhares, os beijos, e tudo de tão intenso que recebeu na noite anterior para que finalmente matasse aquela charada tão mística e assombrosa.
Ela havia dormido menina e acordado mulher.
Oras, mas por que se já não era antes?
A resposta é tão simples quanto ao raiar do dia: Isso havia lhe acontecido por um pequeno detalhe implícito entre os toques, beijos e olhares. Um detalhe miúdo, mas de grandiosa importância e efeitos de magnitude estrondosa. Isso havia acontecido com Mon, porque simplesmente, ela havia sido amada em cada mínimo toque, fragmento de íris e luxúria das bocas.
O corpo daquela mulher, de pele branca e sensível, jamais havia experimentando algo como aquilo. Coitado! Tão acostumado a ser apenas usado, que quando foi amado, estranhou.
E assim, confirmava-se a frase musical que por ela era tão cantarolada.
"Amar pode curar. O amor pode remendar sua alma"
Ainda muito perdida nas lembranças tão quentes da noite anterior, ela pôde sentir outra vez as mãos pálidas e frias percorrendo seu corpo, como se estivessem limpando a sujeira deixada por aquele amor que não deu tão certo. A limpeza não ficou apenas na pele, tocou também a alma, livrando-a da mágoa, insegurança e tudo de ruim que pudesse ofuscar seu brilho nos olhos.
Num suspiro contente, teve seu ar invadido pelo perfume amadeirado, misturado com seu particular cheiro de flores. Aquela miscelânea de fragrâncias que era resultado do confronto de corpos lhe causou arrepios, intensificando os calores que já sentia relembrando a noite anterior.
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The Last Coffee (Em revisão)
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...