Infância

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(A morte tem várias formas... quando criança, ela veio na forma de trauma.)

(Eu me chamo Marinette, uma menina como as outras, mas eu não tinha grandes esperanças... pelo menos não ainda.)

Marinette estava caminhando de volta para casa com as roupas sujas de tinta, papéis picotados sobre suas vestes e com um papel colado nas costas dizendo "croissant estragado"

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Marinette estava caminhando de volta para casa com as roupas sujas de tinta, papéis picotados sobre suas vestes e com um papel colado nas costas dizendo "croissant estragado". Embora alarmante, não se passava de mais um dia comum em sua vida. A menina voltava para casa no fim da tarde, com uma expressão apática, como se não esperasse que o dia fosse melhor dentro de casa, e ela estava certa. Seus pais brigavam constantemente, não demoraria muito para ocorrer um divórcio, mas ela torcia por isso. Seu pai era estável, pacífico até demais, porém sua mãe lhe dava pesadelos, e bastou chegar em casa que lá estava seu pesadelo: barulhento e violento. Seus pais estavam em outra discussão, no entanto a menina não esboçou reação, revirou os olhos e seguiu em direção ao seu quarto. Mais uma vez dormiria ao som de gritos; isso seria o de menos, pois, apesar de ter apenas 9 anos, ela já havia visto de tudo naquela casa.

Prestes a adormecer, a jovem garota ouviu algo se quebrar.

— Ah não...

Mau sinal. Ela já havia aprendido como o modus operandi da discussão de seus pais funcionava: a situação havia tomado outra proporção e em breve chegaria nela.

— Ah não... Ah não!

Ela ouviu batidas fortes na "porta" de seu quarto. Sua mãe com certeza estava fora de si. O quarto não era preparado para rotas de fuga, só havia duas alternativas: aceitar seu destino ou saltar da sacada. Após a porta abrir, ela não pensou duas vezes antes de se jogar da sacada, não era uma sacada tão alta, mas cobraria seus danos, porém ela não se importava com aquilo no momento, a única certeza de que tinha é que ela não queria viver aquilo de novo.

Seu corpo doía com o impacto da queda, mas a menina estava determinada a fugir, pelo menos por uma noite.

No entanto, Marinette não faria tamanha loucura sem um mínimo plano. A alguns quarteirões dali havia um porto seguro, um lugar que ela de fato se sentia em casa.

Após muito tempo de caminhada, Marinette finalmente chegou em uma casa. Assim que bateu na porta, esta logo foi aberta pela única pessoa a qual confiava: Jacqueline, uma moça quase idêntica à Marinette, mas com uma diferença clara de idade.

— Marinette?! O que faz aqui a essa hora??

— Posso dormir aqui hoje?

— O quê? Mas o que aconteceu?

— Posso dormir aqui hoje, por favor?

Jacqueline não entendeu, mas não deixaria sua melhor amiga ao relento.

— Ok, pode entrar. Isso é tinta no seu casaco?

Marinette não respondeu, apenas tirou o casaco e o pendurou no cabide de entrada.

— Hum... escuta, por que não vai tomar um banho enquanto eu faço uns biscoitos? Acho que tenho algo que você pode vestir...

— Oba! Vamos fazer tipo uma festa do pijama?

— Ha! Ha! é tipo isso. Mas você não vai dormir muito tarde, entendeu, mocinha?

— Você não confia em mim? — disse Marinette com um sorriso sapeca no rosto.

— Não pra isso.

— Ah, vai ser legal. Vamos nos divertir, contar histórias, comer besteiras e...

— E de manhã bem cedo eu te levo de volta pra casa! Eu também sou menor de idade, Marinette. Além disso, não quero que seus pais me condenem por você estar aqui.

— Eles nem lembram que têm filha, você vai se dar bem.

— (suspiro) Está bem, vá se arrumar.

— Beleza!

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Mais tarde, Jacqueline estava penteando os cabelos de Marinette enquanto ela comia os biscoitos.

— Cuidado! você pode se engasgar.

— Eu não como nada desde manhã, e seus biscoitos são deliciosos! vindo de uma padeira, isso é mais que um elogio.

— Você não comeu nada...?

— Chloé derramou cola na minha comida na hora do almoço e meus pais não me deram dinheiro, então... não.

Jacqueline já tinha uma ideia da situação da sua quase irmã, mas não sabia que era tão grave.

— Bem... eu vou fazer um café da manhã reforçado pra você antes de te levar de volta, ok?

— Legal!

— Pronto! terminei! Quer escolher o penteado?

Marinette olhou o espelho por apenas alguns segundos e já tinha certeza do que escolheria.

— Eu quero igual ao seu! Eu quero ser como você.

Aquilo tocou a jovem moça. Marinette a admirava como ninguém; contudo, após essa boa sensação, sempre terminava em tristeza, pois Jacqueline sempre quis fazer algo mais pela menina.

— Tá certo.

Jacqueline terminou, resultando no penteado clássico de Marinette.

— Tá ficando tarde, melhor você ir dormir.

— Aaaahhhh... tem que ser agora? — Marinette perguntou num tom de tédio e manha.

— Tem. Você tem escola amanhã e eu tenho trabalho.

Marinette olhou o quarto à sua volta como se procurasse alguma coisa.

— Pelo menos pode ler um livro pra mim antes de irmos dormir?

— Claro, qual você quer?

— O meu favorito, eu sei que você tem.

— Ah, "Alice no País das Maravilhas". Você não enjoa, não é?

— Ha ha ha, não mesmo.

Jacqueline se ajeitou para ler o livro, porém se surpreendeu ao notar que Marinette encostou a cabeça em seu colo, mas não se incomodou e começou a ler o livro.

—"... Então, a Rainha de Copas apontou com seu cetro e ordenou..."

—"... Cortem-lhe a cabeça!" Ha! Ha! Ha! — Completou Marinette, já adormecendo, mas não deixaria passar sua parte preferida.

Apesar de ser apenas um detalhe, Jacqueline refletiu sobre: não havia outra pessoa a qual Marinette confiasse. E se ela não estivesse mais ao seu lado? quem a está ensinando sobre o certo e o errado se sua casa é tão turbulenta?

— Marinette...

— Hum...?

— O que você faria... se eu não estivesse mais aqui?

Marinette se entristeceu com a pergunta, mas não custou a responder.

— Acho que nada, você é tudo que eu tenho... sem você, eu não teria nada a perder.

Jacqueline não disse mais nada, apenas acariciou os cabelos de sua quase irmã caçula até esta adormecer.

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