capítulo 24

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Os passos apressados da freira naquele corredor só indicavam uma coisa: problemas. Teria que ser muito rápida ou tomariam uma bela de uma punição. Assim que parou em frente à porta do quarto das noviças, deu duas fortes batidas, mas logo entrou, pois não poderiam perder tempo.

A cena que viu chegou até a ser fofa: Sam e Mon dormiam abraçadas, como se uma fosse o suporte ideal para a outra, enquanto Tee tinha seu rosto confuso, piscando forte, olhando para Jim parada ali. A menor logo abriu as cortinas para iluminar o quarto e rapidamente se aproximou da cama de Sam, mexendo em Mon.

- Ei, Mon, acorde! Já são mais de onze horas da manhã! Ana disse que a madre está querendo falar conosco cinco. - Mon se mexeu e Sam acordou, fazendo uma pequena careta por conta da claridade. - Não acho que ela tenha descoberto algo, mas talvez tenha ficado brava por todas termos faltado à missa da manhã. - concluiu com sua voz evidentemente apreensiva.

- Ok... eu, hm. Já vou. - Mon disse em puro sono, sentando-se e passando a mão pelo rosto.

- Espero todas vocês na igreja. E, Mon, trouxe suas roupas para cá. As deixei sobre a cômoda de Sam. - Mon assentiu e Jim logo saiu.

Todas as garotas então levantaram e começaram a se arrumar. Mon foi mais rápida e a primeira a sair do quarto, enquanto Sam e Tee vagarosamente se vestiam. Mon não disse nada para Sam, nem mesmo lhe deu um beijinho de bom dia. No entanto, Sam entendia que a freira tinha responsabilidades maiores do que ela no lugar.

A morena deu um longo bocejo, enquanto Tee resmungava, xingando algo ou alguém, que ela não conseguiu entender.

- Acho que estou numa ressaca braba. - Tee falou baixo, terminando de vestir-se. Fitou Sam, que estava sentada na cama, calçando os sapatos e dando longas piscadas. - Então... tá mesmo pegando a freira. - soltou de repente. Sam a olhou de soslaio, fingindo não entender.

- Não é porque dormimos juntas, já que VOCÊ não deu nem chances de dividir espaço, que estamos nos pegando, - rebateu emburrada. Logo, a risada de Tee foi ouvida no quarto.

- E você acha que eu sou besta? Eu vi vocês aos beijos na festa ontem, - disse a maior completamente convicta, e Sam rapidamente despertou, encarando-a com olhos bem abertos.

- Nós não... eu, ela... hm, - suspirou nervosamente. - Olha, foi um acidente, ok? - Sam bufou, se rendendo, e Tee deu uma risada ainda maior, batendo uma palma no ar.

- EU SABIA! - riu. Sam franziu levemente o cenho. - Como é fácil tirar algo de você, Sam, meu amor, - se gabou, virando-se para o espelho para colocar o hábito.

- O quê? Você é mais enxerida que essas freiras daqui, - esbravejou irritada por ter sido tão lerda.

- Não, porque eu pego qualquer outra, menos as freiras desse lugar - a garota riu, jogando na cara de Sam sua fala de dias atrás.

- Não enche, Tee. A carne é fraca.

- Fique sabendo você que quem perdoa é Deus. Eu tô aqui é pra jogar as coisas na cara mesmo. - a loira disse, se aproximando e pegando o braço da amiga. - Agora vamos, que ainda temos que levar esporro da madre. - Sam deu um pequeno sorriso e seguiu com a amiga para fora do quarto.

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Já faziam mais de meia hora que a madre conversava seriamente com as 5 garotas na igreja. Repetindo sobre as regras e que as mesmas existiam para serem cumpridas. Que haviam escalas e essas também deveriam ser cumpridas. E não era correto elas faltarem. Era um descaso não só com a igreja, mas com o Senhor também.

Sam estava a um ponto de gritar "inferno" bem alto, mas apertava sua mão se contendo. Só mais um pouco... uma hora ela iria cansar de falar. Nem sua avó era tão chata e irritante assim quando a dava uma bronca. Próximo da madre, só que um pouco mais atrás, estava Inez. A mulher acompanhava e ouvia tudo que Consuelo proferia. E pela sua cara, até ela parecia não aguentar mais.

- Tee! Abra os olhos enquanto eu estiver falando com vocês. - a madre bradou, encarando Sam fitou a amiga vendo a mesma com olhos arregalados.

- Perdão, madre. Estava apenas me desculpando com o Senhor por ter sido tão imprudente. - Sam quis rir, mas se conteve. Ao seu lado, Mon também prendeu um sorrisinho e encostou um pouco mais a perna na de Sam.

A mesma a fitou de relance, encostando seu braço no de Mon. A madre, parecendo convencida com o que Tee havia dito, assentiu brevemente e encarou Inez logo atrás.

- Aplique uma advertência nelas. - a mulher acenou rapidamente, em confirmação à madre. - Vejo vocês na missa à noite. E que tenha ficado claro o que disse aqui. - disse ríspida, logo saindo.

- Finalmente! - Tee deixou escapar.

- Por um momento, eu achei que minha cabeça fosse explodir. - falou Nita com uma careta, massageando suas têmporas.

Inez se aproximou com calma das garotas e as observou. Jim parecia a única normal dali, como se não tivesse fugido para uma festa, bebido horrores, tendo apenas algumas horas de sono.

- O que foi que vocês fizeram para perder o horário desse jeito? - Inez perguntou, encarando principalmente Jim e Mon.

- Então, mama. - Jim começou falando seriamente. Por Inez tê-la criado, tinham um carinho de mãe e filha, e a garota até mesmo lhe chamava de mãe. - Ficamos até tarde planejando a decoração para a celebração no próximo fim de semana. Estamos muito ansiosas. - Ela deu uma olhada firme para as garotas, que, entendendo, logo concordaram com um aceno.

- Eu nunca estive tão empolgada. Por mim, ficaria até mais tarde fazendo todos aqueles... cortes e... tem aquelas colagens... - Tee tentou complementar, mas acabou se atrapalhando.

- Não foi a intenção agir em descaso, Inez. Sabe que nenhuma de nós faria isso por querer, ou qualquer outra situação atípica. - Mon falou, entrando na encenação, e Jim sorriu satisfeita.

As garotas olharam ansiosas para Inez, que pareceu acreditar, dando um leve aceno.

- Bom, mas ainda terei que lhes aplicar uma advertência, - falou com suas mãos à frente do corpo, olhando ao redor da igreja. - Acho que podem se encarregar de limpar e organizar todo o templo. Varram, passem pano, tirem o pó. Lustrem os bancos de madeira. Deixem este lugar um brinco.

- Certo, - disse Jim prontamente.

- Mas primeiro quero todas indo almoçar, pois saco vazio não para em pé. Andem, vamos, - disse com um sorriso carinhoso, e as garotas suspiraram em alívio, já que não haviam nem tomado café da manhã.

- Louvado seja Deus, - murmurou Tee rapidamente, levantando-se e sendo a primeira a sair da igreja.

Todas caminharam para fora da igreja. No entanto, Sam e Mon ficaram propositalmente para trás. A freira segurou na mão da noviça e tocou seu rosto, se aproximando para beijá-la. Seus lábios se tocaram rapidamente, pois Mon mantinha-se atenta a qualquer movimento ou barulho de passos.

- Não tive tempo de fazer isso mais cedo, - justificou Mon, dando um sorriso tímido.

- Então ainda bem que se lembrou, - respondeu Sam, aproveitando para roubar outro pequeno beijo.

Mon a abraçou, dando um sorriso ingênuo, mas ao sentir seu estômago revirar em cócegas, mordeu seu lábio inferior. Talvez nunca se acostumasse a sentir aquilo. Assim que soltou Sam, saíram da igreja antes que alguém notasse qualquer demora das duas.

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